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sexta-feira, 4 de junho de 2010

PSS 3 - Peculiaridades culturais: Palestinos e Judeus.

Peculiaridades culturais: Judeus e palestinos (apostila 01)


01. Origens históricas das peculiaridades culturais de judeus e palestinos: as civilizações dos hebreus e dos árabes.

Introdução

As origens históricas da diversidade cultural que caracterizam os povos judeu e palestino, que hoje travam o chamado conflito árabe-israelense, podem ser encontradas nos períodos da antiguidade e idade média, mais especificamente nas civilizações hebréia e árabe. Portanto, para fins didáticos, torna-se necessário uma abordagem sobre o desenvolvimento histórico-cultural dessas civilizações para, posteriormente, abordarmos as suas peculiaridades culturais em termos de bases comuns e conflitos.

01. a) Os hebreus

Os Hebreus, povo também de origem semita, eram descendentes de Abraão, natural da cidade de Ur, na Caldéia. Viveu, provavelmente, na mesma época de Hamurábi. Estabelecendo-se em Canaã (Palestina), Abraão e descendentes iniciaram a história deste povo que, em pouco tempo e pela localização geográfica, tornou-se vítimas de ataques de vizinhos belicosos.

Pressionados, os hebreus chegaram até o Egito, onde, depois de um período de tranqüila convivência, foram escravizados. Graças a Moises, conseguiram sair do Egito e retornar à Palestina. Tiveram que lutar contra vários povos para conseguirem se fixar.

Em função das dificuldades encontradas, os hebreus decidiram-se pela unificação política, tendo Saul se tornando o primeiro rei, sucedido por Davi e Salomão, responsáveis pela afirmação do poder militar e expansionista.

Após a morte de Salomão, a coesão interna do povo hebreu foi quebrada, tendo a região se dividido em dois reinos (Israel e Judá), que se tornaram presas para os assírios, babilônicos, persas, macedônios e, finalmente, os romanos.

A ORIGEM DO ESTADO ENTRE OS HEBREUS



Ao longo da Antiguidade Oriental, no período marcado pela criação, às margens dos grandes rios, de dois monumentais impérios (o egípcio e o mesopotâmico), formaram-se também outras civilizações, denominadas de mediterrâneas, que não dispunham de grandes recursos hidrográficos e, portanto, fadadas ao comércio, ao artesanato, ao pastoreio e a uma agricultura de mera subsistência. Umas dessas comunidades, a hebréia, se estabeleceu na região da Palestina. Essa área, irrigada por um modesto rio, o Jordão, é castigada por um clima quente e solo árido. Somente em alguns poucos campos é possível à criação de gado, fundamentalmente ovinos e caprinos, dada à pobreza da vegetação local. Em função das severas condições climáticas aí prevalecentes, os pastores e seus rebanhos eram obrigados a um constante nomadismo em busca de melhores pastagens. O desenvolvimento da agricultura era mínimo, limitado às áreas ribeirinhas ao Jordão, praticamente desconhecendo excedentes.


O Estado unificado dos hebreus teve origem na Palestina. Como este povo não se originou desta região, para se entender a história da formação do seu Estado, é preciso analisar o período em que, não estando unificado nem estabelecido na Palestina, o povo hebreu realizou uma série de migrações que culminaram na invasão e posterior ocupação do território palestino. Foi exatamente no calor das lutas travadas contra os cananeus e filisteus (habitantes já estabelecidos na Palestina) que se deu a formação e unificação do Estado hebreu.


Antes de chegarem a Palestina, os hebreus estavam organizados em clãs patriarcais e constituíam-se como um povo seminômade, dedicado a criação de gado nos oásis dos desertos. De acordo com a narração bíblica (Livro do Gênese), tribos lideradas por Abraão, primeiro patriarca dos clãs hebreus, deslocaram-se de Ur, no sul da baixa mesopotâmia, para Haran (noroeste da Mesopotâmia) e daí até a palestina após serem convertidas ao monoteísmo de Iavé, religião que supostamente teria sido revelada a Abraão pelo próprio Iavé. Ao se estabelecerem na Palestina, os Hebreus dividiram-se em várias tribos, ocupando os vales férteis ao norte e as zonas montanhosas do sul.


Analisando a narrativa do velho testamento, principal fonte utilizada para o resgate da historia hebréia, após o patriarcado de Isaac, durante a vigência da chefia de Jacó, na primeira metade do segundo milênio a.C., uma parte das tribos migrou para o Egito, fugindo da fome e da guerra, e estabeleceu-se em uma região do delta do Nilo. Nos 400 anos em que estiveram no Egito, alguns hebreus conseguiram ocupar altos cargos administrativos – como se conclui da história de José – em aliança com os Hicsos, povo invasor que havia ocupado a maior parte do país antes da chegada dos hebreus. Após a expulsão dos Hicsos, a reação nacionalista que possibilitou a retomada das dinastias egípcias, levou a escravização dos hebreus que abandonaram o Egito e retornaram a Palestina sob a liderança de Moisés.


“O período que abrange desde a migração do clã de Abraão e o estabelecimento dos hebreus na Palestina até o êxodo, ou saída dos hebreus do Egito, é denominado período dos patriarcas. Os patriarcas foram condutores das tribos hebraicas e, ao mesmo tempo, sacerdotes, juízes e chefes militares. (...) com o episódio do êxodo começou a busca de uma organização política e uma base territorial para o povo hebreu. Segundo a bíblia, Moisés teria recebido essa missão do próprio Iavé juntamente com o decálogo (os dez mandamentos). (...) Depois da morte de Moisés, os hebreus, ao se localizarem na Palestina, tiveram que travar guerras principalmente contra os filisteus, povo guerreiro que ocupava o litoral do Mar Mediterrâneo”. (AQUINO, RUBIM SANTOS LEÃO DE. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES: DAS COMUNIDADES PRIMITIVAS ÀS SOCIEDADES MEDIEVAIS / RUBIM SANTOS LEÃO DE AQUINO, DENIZE DE AZEVEDO FRANCO, OSCAR GUILHERME PAHL CAMPOS LOPES. – RIO DE JANEIRO: AO LIVRO TÉCNICO, 2000, P.132.).


Segue-se a morte de Moisés o período dos juizes. Os juizes eram chefes militares, cuja autoridade tinha fundamentação religiosa. Diziam-se enviados de Iavé para comandar o povo hebreu. A conquista da Palestina iniciou-se sob o comando de Josué, que tomou a cidade de Jericó. Sucederam-se outros Juizes destacando-se Gedeão, Sansão e Samuel, sendo este o último deles.


A unidade política dos hebreus ocorreu por volta de 1000 a.C., com a centralização do poder sob a monarquia. O primeiro Rei, ungido por Samuel, foi Saul da tribo de Benjamin.



A Cultura dos Hebreus

Religião

Da cultura elaborada pelos hebreus, a religião é, sem dúvida, o legado mais importante. O judaísmo tem os seus fundamentos no antigo testamento. Influenciou todas as realizações culturais dos hebreus: do direito à literatura e às artes.

Os dois traços característicos da religião dos hebreus são o monoteísmo (crença no deus único IAVÉ) e o salvacionismo, isto é, crença na vinda de um messias ou salvador para libertar o povo hebreu.

Os sacerdotes desfrutavam de grande poder e prestígio. Detinham o monopólio das funções religiosas, recebiam grandes doações e contribuições em cereal, animais, etc., para seu sustento, e, assim, acumulavam grande riqueza.

A religião dos hebreus era, sobretudo, ética e moral, o que se expressou na lei mosaica – fundamento da aliança celebrada entre Jeová e os hebreus, no monte Sinai, pela mediação de Moises.

Literatura

A maior realização literária dos antigos hebreus foram os livros do velho testamento. A bíblia constitui a principal fonte histórica para o estudo da antiga sociedade hebraica e muitas de suas passagens tem sido confirmadas pelas pesquisas arqueológicas. A bíblia não é apenas uma obra religiosa – nela estão contidas, além de preceitos morais, éticos e jurídicos, narrativas históricas e obras poéticas. Os mitos hebraicos falam da criação do mundo e dos primeiros homens, do dilúvio e outros episódios, apresentando notável semelhança com a tradição babilônica.

A bíblia divide-se em antigo e novo testamento sendo o primeiro um importante legado da antiguidade hebréia. Composto por vários livros, escritos por diversos autores, na sua maioria em antigo hebraico, o antigo testamento pode ser dividido em quatro partes: o Pentateuco, os livros Históricos, os livros Proféticos e os livros didáticos. Para fins de vestibular importa, sobretudo, o conteúdo do Pentateuco.

O Pentateuco é formado pelo conjunto dos cinco primeiros livros cuja autoria é atribuída a Moisés: O Gênese (origem), O Êxodo (libertação do cativeiro egípcio), O Levítico (conjunto de prescrições rituais), os Números (censo das tribos hebréias) e o Deuteronômio (Historia de Israel). Estes livros formam a base do antigo testamento e contém os preceitos da legislação mosaica, sobressaindo-se o Decálogo (os dez mandamentos).

Arquitetura

O monoteísmo hebraico influenciou todas as realizações culturais dos hebreus. Deve-se destacar a arquitetura, especialmente a construção de templos, muralhas e fortificações. A maior realização arquitetônica foi o templo de Jerusalém, construído no governo de Salomão. Destruído no domínio de Nabucodonosor, foi reconstruído e atingiu o máximo esplendor na época de Herodes, já sob dominação romana.

01.b) Os árabes (Civilização Islâmica)

Origens

A Península Arábica se localiza entre o oceano Índico e o mar Vermelho e é recoberta por regiões extremamente desérticas e áridas, com alguns poucos vales férteis, os oásis, que apresentam fontes de água cercadas por uma vegetação exuberante. Desde a Antiguidade, essa região foi ocupada por várias tribos de origem semita.

Partes dela se instalaram nas proximidades dos oásis, viviam de uma pequena agricultura complementada pela criação de animais resistentes à rudeza do clima (ovelhas, cabras e camelos) e eram seminômades - os beduínos. Outras ocuparam as regiões costeiras (especialmente, às margens do mar Vermelho), construíram cidades (Meca, Yatreb, Áden, por exemplo) que serviam como entrepostos comerciais entre a Ásia e a África - os coraixitas.

Sem unidade política e em constante estado de guerra, essas tribos, entretanto, apresentavam traços culturais e religiosos comuns: falavam o mesmo idioma e praticavam os mesmos rituais religiosos, adorando as forças da natureza (animismo) e vários amuletos (fetichismo). Dentre estes, se destacava a - a “Pedra Negra”: provavelmente um fragmento de meteorito, protegido por uma tenda negra em forma de cubo, localizado na cidade de Meca, desde então principal centro religioso e comercial da Arábia.

Maomé e o surgimento do Islamismo

Maomé nasceu na cidade de Meca, muito provavelmente por volta de 570, de uma família da tribo dos coraixitas. Ainda criança ficou órfão e passou aos cuidados de um tio mercador; aos 15 anos, entrou para o comércio das caravanas, através das quais conheceu as várias tribos que habitavam a Península Arábica. Por volta dos 25 anos, casou com uma rica viúva, passando a administrar seus negócios.

Por esta época, conheceu alguns grupos religiosos judaico-cristãos que viviam em várias regiões da península e familiarizou-se com seus cultos monoteístas; retornou à Meca e passou a pregar uma nova religião para os árabes, cujos princípios básicos sintetizou no Corão, e podem ser assim resumidos:

1) Monoteísmo e crença na imortalidade da alma;

2) Total submissão (islão) a Deus (Alah), expresso na obrigatoriedade de se fazer cinco orações diárias (sempre virado para Meca - cidade sagrada) e no respeito ao jejum do Ramadã;

3) Fatalismo (predestinação) e crença no “juízo final”;

4) Caridade e salvacionismo (propagação da fé islâmica, se necessário através da guerra santa de conversão: a Jihad):

5) Visita, pelo menos uma vez na vida, à Caaba - a Pedra Negra, em Meca.

Além desses princípios religiosos fundamentais, a nova crença também aceitava a poligamia masculina e a escravidão por guerra, sob justificação religiosa.

Quando Maomé começou a pregar em Meca, por volta do ano 613, os mercadores da cidade, considerados os protetores da Caaba e temerosos de perderem seu poder e privilégios, Iniciaram uma perseguição ao profeta e seus seguidores que foram obrigados a fugir dessa cidade e se refugiarem na cidade de Yatreb (Medina), em 622. Este episódio ficou conhecido como “Hégira”, e marca o início do calendário islâmico.

Entre 628 e 630 deu-se uma guerra civil entre os seguidores de Maomé e seus opositores, culminando com a vitória dos primeiros que impuseram a unificação político-religiosa das tribos árabes, simbolizada pela destruição dos ídolos da Caaba (exceto a Pedra Negra). Com a morte de Maomé, em 632, os árabes, sob governo dos “califas” (sucessores do Profeta), deram início a uma notável expansão territorial.

Expansão árabe islâmica

A Expansão Islâmica pode ser explicada por vários fatores, dentre estes, os mais destacáveis são:

1) O crescimento demográfico que exigiu a ocupação de terras cultiváveis, vez que o território da península era extremamente árido;

2) A debilidade dos impérios persa (oriente) e bizantino (ocidente) por conta de suas contínuas guerras;

3) A justificação religiosa expressa na Jihad - a guerra santa de combate e conversão ao infiel;

4) O apoio dos mercadores árabes que intentavam ampliar seus mercados e dominar as várias rotas que ligavam o Mediterrâneo ao Extremo Oriente; por fim,

5) Os incentivos aos guerreiros através da prática da pilhagem como fonte de riqueza.

Assim, “em menos de dois séculos, os árabes formaram um poderoso império, que se estendia da Índia à Península Ibérica” (RICARDO et alli, 1998). Esta foi conquistada em 711. Na Europa, os árabes foram contidos, em 732 quando foram derrotados por Carlos Martel, fundador da dinastia carolíngia, na Batalha de Poitiers. Ainda assim, esta expansão consolidou o processo de feudalização da Europa Ocidental ao resultar no “fechamento do Mediterrâneo” ao comércio europeu, já declinante desde a crise do escravismo romano.

No decorrer da Baixa Idade Média, o Império Islâmico entrou em declínio. As razões desse processo de decadência foram:

1) A heterogeneidade étnico-cultural de sua população, devido a sua extensão territorial;

2) Intensos conflitos dinásticos (disputas pelo poder) e religiosos. Os primeiros resultaram na fragmentação territorial com o império se dividindo em três califados (Cairo, Bagdá e Córdoba), a partir de fins do século VIII. Os segundos, num cisma religioso entre sunitas e xiitas que dura até os dias atuais;

3) As pressões militares, tanto a oriente (turcos e mongóis) como a ocidente (as Cruzadas - expedições militares organizadas pela Cristandade, a partir de fins do século XI).

A cultura islâmica

Os árabes muito contribuíram para o desenvolvimento cultural do Ocidente Europeu a partir de pólos instalados na Península Ibérica, especialmente Córdoba. Essas contribuições se deram principalmente nos campos da Medicina, Matemática, Física, Astronomia e Filosofia (neste caso, foram grandes difusores dos filósofos clássicos, destacando-se as obras de Aristóteles), influenciando a renovação cultural da Europa dos séculos XIV a XVI - o chamado Renascimento Cultural.

Nas artes, entretanto, suas influências foram bem menores. A religião islâmica interditava a reprodução de formas vivas o que representou um limite ao desenvolvimento das Artes Plásticas. A Arquitetura voltou-se para a exaltação política-religiosa, com construção de mesquitas e palácios. Na Literatura sua mais notável obra foi a catalogação de tradições orais de origem persa: “As mil uma noites”.

Um comentário:

  1. Muito bom. Mas vc poderia postar as peculiaridades dos negros e indigenas?
    Desde ja, agradeço!!!!

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