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sábado, 24 de janeiro de 2009

Caiu no vestibular (UFCG 2009) - Os Goliardos

Goliardos
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Goliardos, na
Idade Média eram clérigos pobres, egressos das universidades. Desamparados pela Igreja, tornavam-se itinerantes (clerici vagantes), vagabundos, de espírito transgressivo e provocador. Em meados do século XIII, perambulavam pelas tavernas, portas das universidades e outros lugares públicos, cantando e declamando seus poemas satíricos, um tanto cínicos, muitas vezes denunciando os abusos e a corrupção da própria Igreja, ou poemas eróticos, freqüentemente muito ousados.
A
poesia dos goliardos era uma natural expressão do espírito das tabernas e confrarias. Descritos por Van Woensel (2001, p.25) como "a ala 'esquerda' da corporação clerical", os goliardos se aproveitavam da formação erudita para compor, algumas vezes na clandestinidade, canções nada edificantes de teor satírico, amoroso e até mesmo licencioso.
No Medievo existe também uma vertente goliardesca em
literatura, que teve como expoentes Cecco Angiolieri e Gautier de Châtillon, que também expressam em seus poemas esse caráter debochado do indivíduo que se dedica aos jogos, às mulheres, aos prazeres mundanos - um personagem que inspirou numerosos gêneros literários.
Esta tendência ao amor, ao jogo e ao vinho marcam suas composições poéticas reunidas nos Carmina Burana, nos quais à exaltação dos prazeres carnais se associa a crítica à Igreja medieval, que condena os costumes libertinos. Carmina Burana é um códice contendo mais de 200 canções profanas compostas por esses artistas, que esmolavam para ganhar a vida. Carl Orff editou, em 1937, parte dessas canções para compor a cantata cênica homônima.
Acima de tudo, com o goliardorismo, deu-se o início da transição para uma literatura moderna e humanista cujo grande exemplo foi a Divina Comédia, escrita por Dante Alighieri (1265-1321), pensador e político italiano, considerado precursor do Renascimento. O poema a seguir extraído das Confissões de Golias é ilustrativo da poesia dos goliardos, de meados da baixa idade média:
“Padre, discreto entre os discretos,
Dá-me absolvição!
É grata a morte que me leva,
É doce extinguir-me,
Pois meu coração sofre
Da meiga doença que a beleza traz;
Todas as mulheres que não alcancei
Possuo em minha ilusão.
É tão difícil conseguir
Que a natureza se renda
E, junto às belas, corar e fingir
Que se é o campeão da inocência!
Nós os moços, não submeteremos jamais
Nossos desejos à lei severa,
Nem afastaremos do pensamento
Esses corpos macios e ternos".
(In: Freitas, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1975).

Etimologia
A origem da palavra goliardo é um tanto obscura e controversa. Prossivelmente deriva do
francês antigo goliart. Na origem, significava "bufão", e teria adquirindo, no século XIII, o sentido de glutão, debochado. Poderia também derivar de gole, goule (depois gueule, goela) ou do nome de Golias, o gigante bíblico, símbolo dos inimigos da Igreja (que seria simbolizada por David), em razão dos poemas freqüentemente anticlericais declamados pelos goliardos. O elemento goli- também poderia ser de origem protogermânica, tendo, neste caso, o sentido de gritar, cantar em voz alta, brincar, fazer rir. No latim medieval goliardus, teria afinal assumido o sentido de "clérigo ou estudante vagabundo". Dicionário TLFi Existe ainda a hipótese de que poderia ser proveniente da contração de "Golia Abelardo", em alusão ao grande intelectual Pedro Abelardo - prelado da Igreja do século XII, personagem controverso e adversário intelectual de São Bernardo de Claraval - inspirador do estilo de vida goliardo.

As origens medievais
A origem histórica dos goliardos situa-se em torno do século XII, quando o
renascimento econômico comercial rompe o imobilismo dos séculos precedentes e aumenta a mobilidade social.
A própria dificuldade de enquadrar os goliardos dentro de um esquema social preciso, como acontecia na
Alta Idade Média, quando os papéis sociais eram bem definidos, gera suspeita e escândalo entre os conservadores da época.
Os goliardos, afinal, são jovens intelectuais de espírito livre que, por sua condição econômica e social, são impedidos de se tornar professores das universidades medievais ou mesmo de prosseguir seus estudos, tornando-se intelectuais marginalizados, rebeldes, vivendo de expedientes, eventualmente a serviço dos ricos, seguindo o mestre preferido ou permanecendo onde ensinam professores famosos.
“Anárquicos”, são opositores de todos aqueles que se reconhecem nas castas sociais medievais, não só aqueles associados ao poder eclesiástico ou político mas também aqueles que estão presos à mediocridade e à ignorância, como os camponeses. Por sua feroz crítica antipapal, são freqüentemente associados ao partido
gibelino mas na realidade os goliardos vão além: vêm no Papa não apenas o hipócrita tutor da tradição moral mas também o expoente de uma hierarquia organizada sob a nova força do dinheiro:
Mas também no clero, os goliardos fazem distinção entre os párocos, que são poupados da sua crítica corrosiva por serem considerados vítimas da
hierarquia e da avidez dos frades, que, com sua hipócrita profissão de humildade e pobreza, na realidade concorrem com os padres e se apoderam dos fiéis e dos donativos, vivendo uma vida de gozo nos conventos. Assim, para os Goliardos, "A ordem do clero aos laicos tem má fama: a esposa de Jesus virou venal, mulher pública agora é quem era dama".
Os goliardos sofreram perseguições e condenações, e acabaram por desaparecer da cultura dos séculos seguintes, à qual, todavia, deixaram como herança as suas idéias que reviveriam nos intelectuais do
Humanismo, durante o Renascimento.
"A ordem do clero aos laicos tem má fama: a esposa de Jesus virou venal, mulher pública agora é quem era dama."

Bibliografia
· Van WOENSEL, Maurice. Simbolismo animal na Idade Média: os bestiários: um safári literário à procura de animais fabulosos. João Pessoa:Ed. Universitária/UFPB, 2001.
ISBN 8523702970.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A mulher na Idade Média


A mulher na Idade Média:
A construção de um modelo de submissão

A história das mulheres na Idade Média é um tema que foi por muito tempo desprestigiado pelos historiadores, mas, atualmente, por ser rico e pródigo em possibilidades de estudo, vem atraindo a muitos estudiosos, inclusive de outras áreas, como teólogos e sociólogos.
Na Idade Média, a maioria das idéias e dos conceitos eram elaborados pelos eclesiásticos. Esses homens possuíam acerca da mulher uma visão dicotômica, ou seja, ao mesmo tempo em que ela era tida como a culpada pelo Pecado Original, a Virgem Maria foi a mulher que deu ao mundo o salvador e redentor dos pecados. Mas, por que os clérigos tinham essas idéias sobre a mulher?
O conceito dicotômico feminino está presente no cristianismo desde sua consolidação. Durante o período de sua afirmação como religião, o cristianismo sofreu um processo de cristalização baseado em uma doutrina ascética e repressora, como reflexo das diversas ideologias presentes nos trezentos anos que levou para se estabelecer.
A desconfiança sobre a carne, intrinsecamente ligada a figura feminina, e sobre o prazer sexual era encontrada nas filosofias platônica, aristotélica, estóica, pitagórica e gnóstica. Essas filosofias foram amplamente utilizadas pelos Pais da Igreja (João Crisóstomo, Jerônimo e Agostinho, dentre outros) para dar embasamento filosófico a doutrina cristã.
Os textos desses teóricos do cristianismo foram usados pelos homens da Igreja durante toda a Idade Média e continuam a ser consultados. As mulheres passaram, ou melhor, continuaram a ser consideradas pelo clero como criaturas débeis e suscetíveis as tentações do diabo, logo, deveriam estar sempre sob a tutela masculina. Para propor e estender suas verdades e juízos morais, a Igreja utilizava-se de um veículo eficiente, a pregação e, em especial no século XIII, a que era feita pelos franciscanos, nas ruas das cidades, para toda a população.
Nos sermões feitos pelos pregadores era muito comum o uso do exempla, que eram histórias curtas e que poderiam relatar a vida de um santo ou santa (hagiografia). As vidas de algumas santas, de preferência de prostitutas arrependidas, eram utilizadas nos sermões. Nelas, todas as características que eram atribuídas as mulheres apareciam e eram assim difundidas e disseminadas por toda a Cristandade.
A mulher, personificada em Eva, é a pecadora, a tentadora, aliada de Satanás e culpada pela Queda. Eva concentra em si todos os vícios que trazem símbolos tidos como femininos, como a luxúria, a gula, a sensualidade e a sexualidade. Todos esses atributos apareciam nos exempla. E como forma de salvação para a mulher, eles ofereciam a figura de Maria Madalena, a prostituta arrependida mais conhecida, e que se submeteu aos homens e a Igreja.
Esta concepção da mulher, que foi construída através dos séculos, é anterior mesmo ao cristianismo. Foi assegurada por ele e se deu porque permitiu a manutenção dos homens no poder, fornecia uma segurança baseada na distância ao clero celibatário, legitimou a submissão feminina e sufocou qualquer tentativa de subversão da ordem estabelecida pelos homens. Esta construção começou apenas a ruir, mas os alicerces ainda estão bem fincados na nossa sociedade.

Para saber mais:
BLOCH, H. Misoginia Medieval e a invenção do amor romântico ocidental. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. p. 89 - 121.
DUBY, G., PERROT, M. (dir.) História das Mulheres: a Idade Média. Porto: Afrontamento, 1990. PILOSU, M. A Mulher, a Luxúria e a Igreja na Idade Média. Lisboa: Estampa, 1995.