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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cidadania - Movimento operário no século XIX e Primeiras décadas do século XX

A Formação do proletariado

Uma das conseqüências da Revolução Industrial foi a formação do proletariado, ou seja, do grupo de pessoas envolvidas no trabalho urbano, sobretudo no trabalho fabril.

A palavra proletária é de origem latina e era usada no Império Romano para designar as pessoas que nada possuíam a não ser a sua própria prole (filhos).

Os primeiros grupos de proletários se formaram com os camponeses expulsos de suas terras e que iam para as cidades em busca de trabalho, e também com as pessoas que trabalhavam nas oficinas caseiras que foram sendo fechadas à medida que o sistema de fabrica se expandia.

Uma das características comuns das sociedades que se industrializaram foi a difícil situação vivida pelos primeiros grupos de operários. Embora esse processo tenha ocorrido em épocas diferentes, ela guarda semelhanças nos vários países que se industrializaram.

Observamos que, na Inglaterra as lutas operárias com o objetivo de melhorar sua condição de vida e de trabalho ocorreram, sobretudo, no século XIX, uma vez que, naqueles países, o sistema de fabrica começou a ser implantado no século XVIII. No Brasil, essas lutas ocorreram nas primeiras décadas do século XX, acompanhando o processo de industrialização que começou no final do século XIX.

Nos primórdios da industrialização, os capitalistas buscavam a lucratividade máxima através da excessiva exploração do trabalho. O resultado eram as extensas jornadas de trabalho, que chegavam até a dezesseis horas por dia, nos sete dias da semana. A remuneração era baixíssima (em alguns países ainda é) e não havia qualquer garantia do emprego, o dono da fabrica despedia os operários; como não havia seguridade social, os trabalhadores ficavam sem ter como sobreviver ate encontrar outro emprego.

Ganhando salários muito baixos, os adultos não podiam sustentar a família, o que os obrigava a colocar as crianças para trabalhar. Existem registros de crianças de até dois anos de idade empregadas em fabricas. O mais comum, porém, era colocar as crianças para trabalharem aos seis ou sete anos de idade, o que significava que esses pequeninos operários não podiam ir para escola.

Aos poucos, sobretudo nos países mais ricos, criaram-se leis proibindo o trabalho infantil. Nos dias de hoje, devido o empobrecimento de uma larga parcela da população mundial, aliado à decadência generalizada do trabalho, observamos o retorno cada vez maior do trabalho infantil.

A primeira reação contra o sistema de fábrica: os Ludditas

A substituição do sistema artesanal de trabalho pela maquinofatura, introduzida a partir da primeira revolução industrial (segunda metade do século XVIII), quebrou todas as regras longamente cultivadas pelos artífices. A ampliação do mercado de consumo criou demandas inéditas para as quais a maior parte dos artesãos não estava preparada. As oficinas começavam a fechar por falta de compradores para suas mercadorias, já que o produtor individual não conseguia competir com o capitalista que contratava o serviço de dezenas de trabalhadores para fabricar os produtos que ele podia vender mais barato. Assim, os artesãos ficavam sem trabalho e a única opção era trabalhar como jornaleiro para o dono da fábrica, recebendo parcos salários e sofrendo a ameaça permanente do desemprego. Um grupo de artesãos denominados ludditas – os quebradores de máquinas – não aceitou essa nova condição. Como percebiam o uso que os capitalistas faziam das grandes máquinas, os ludditas invadiam as fábricas e quebravam as máquinas de grande porte, considerando-as responsáveis pelo seu desemprego e miséria.

As invasões eram decididas pelos inimigos das máquinas minutos antes de acontecer. Os participantes se encontravam nas ruas em horários avançados, quando não havia mais circulação de pessoas. Invadiam as fábricas munidos de pedras, pedaços de madeira e metal com os quais atacavam e destruíam as máquinas. Muitas vezes colocavam fogo no galpão que abrigava as máquinas. Esse comportamento era resultado da situação de desespero que tomou conta da outrora próspera classe dos artesãos diante das privações e desprestígio que estavam vivendo.

Houve por parte do governo uma severa repressão aos quebradores de máquinas: aqueles que eram pegos atacando máquinas eram punidos com a morte. Mas, a verdadeira derrota sofrida pelos antigos artesãos foi a vitória do sistema de fábrica, a coluna de sustentação mais poderosa do capitalismo industrial.

O Movimento Cartista

Em 1838, um grupo de trabalhadores ingleses, ligados à Associação dos Operários, publicou um documento que foi denominado de Carta ao Povo, em que denunciavam as dificuldades por que passavam e apresentavam as seguintes reivindicações:

• O direito de voto para toda população masculina;

• Voto secreto;

• Abolição do voto censitário para a Câmara dos Comuns;

• Remuneração dos deputados da Câmara dos Comuns, para que os trabalhadores pudessem se candidatar ao cargo;

• Reeleição anual do Parlamento.

Os Cartistas ressaltavam que seu verdadeiro problema não era a política e sim a falta de alimentos, mas que queriam ter participação política a fim de, através dos meios legais, melhorar sua condição de vida.

Apesar de o movimento ter conquistado muitos adeptos, não conseguiu fazer aprovar suas reivindicações, sendo duramente perseguido pelo exercito inglês. Na segunda metade do século XIX, as propostas revolucionárias defendiam que a classe trabalhadora tomasse o poder em vez de participar do governo burguês, como pretendiam os Cartistas. Em função da mudança na proposta política, o Cartismo foi lentamente desaparecendo.

As internacionais socialistas

Com o objetivo de divulgar as idéias socialistas e conscientizar o maior numero possível de trabalhadores em todo o mundo, foi organizada em Londres, no ano de 1864, a Associação Internacional dos Trabalhadores, que foi conhecida como a Primeira Internacional. Os operários de varias nacionalidades realizaram discussões teóricas sobre as doutrinas socialistas, mas não chegaram a definir uma ação conjunta da luta contra o Capital.

Em 1899, reuniu-se em Paris a Segunda Internacional, que definiu alguns pontos comuns de luta aceitos por todas as correntes políticas. Nesse encontro, ficou estabelecida a greve geral como instrumento de luta e foi definido que o dia 1º de maio passaria a ser comemorado pelos trabalhadores como o Dia Internacional do Trabalho.

Em 1919 reuniu-se a Terceira Internacional, que ficou conhecida como Internacional Comunista ou Comintern. Controlada pelos bolcheviques que, após a vitória na Rússia, dominavam a cena política. O Comintern foi responsável pela criação de partidos comunistas em vários países onde havia proletariado.

Os socialistas que se opunham aos bolcheviques criaram, em 1923, a Internacional Socialista. A criação de outra Internacional selou a divisão entre socialistas e comunistas.

DIVERSIDADE DE GÊNERO

A condição da mulher na Idade Média


A participação e o lugar da mulher na História foram negligenciados pelos historiadores por muito tempo. Elas ficaram à sombra de um mundo dominado pelo gênero masculino. Ao pensarmos o mundo medieval e o papel desta mulher, esse quadro de exclusão se agrava ainda mais, pois alem do silêncio que encontramos nas fontes, os textos que muito raramente tratam o mundo feminino estão impregnados pela aversão dos religiosos da época por elas.

Na Idade Média, a maioria das ideias e de conceitos eram elaborados pelos Escolásticos. Tudo o que sabemos sobre as mulheres deste período saiu das mãos de homens da Igreja, pessoas que deveriam viver completamente longe delas. Muitos clérigos consideravam-nas misteriosas, não compreendiam, por exemplo, como elas geravam a vida e curavam doenças utilizando ervas.

A mulher para os clérigos era considerada um ser muito próximo da carne e dos sentidos e, por isso, uma pecadora em potencial. Afinal, todas elas descendiam de Eva, a culpada pela queda do gênero humano. No início da Idade Média, a principal preocupação com as mulheres era mantê-las virgens e afastar os clérigos desses seres demoníacos que personificaram a tentação. Dessa forma, a maior parte das autoridades eclesiásticas desse período via a mulher como portadora e disseminadora do mal e isso as tornavam más por natureza e atraídas pelo vício. A partir do século XI com a instituição do casamento pela Igreja, a maternidade e o papel da boa esposa passaram a serem exaltados. Criou-se uma forma de salvação feminina a partir basicamente de três modelos femininos: Eva (a pecadora), Maria (o modelo de perfeição e santidade) e Maria Madalena (a pecadora arrependida). O matrimônio vinha para saciar e controlar as pulsões femininas. No casamento a mulher estaria restrita a um só parceiro, que tinha a função de dominá-la, de educá-la e de fazer com que tivesse uma vida pura e casta.

A falta de conhecimento da natureza feminina causava medo aos homens. Os religiosos se apoiavam no Pecado Original de Eva para ligá-la à corporeidade e inferiorizá-la. Isso porque, conforme o texto bíblico, Eva foi criada da costela de Adão, sendo, por isso, dominada pelos sentidos e os desejos da carne. Devido a essa visão, acreditava-se que ela foi criada com a única função de procriar. Na idéia do Pecado Original encontramos outra característica criticada nas mulheres pelos clérigos, a tagarelice. Afinal foi por um pedido de Eva que Adão aceitou o fruto proibido, e por isso, foi considerada uma enganadora.

No lado oposto, Maria foi à redentora de Eva, que veio ao mundo com a missão de liberar Eva da maldição da Queda. Desenvolveu-se então a idéia de Maria como mãe da humanidade, de todos os homens e mulheres que viviam na graça de Deus, enquanto Eva era a mãe de todos que morrem pela natureza. O culto a Maria se baseava em quatro pilares: a maternidade divina, a virgindade, a imaculada concepção e a assunção. Baseado nesses pilares, as mulheres eram encorajadas a se manterem castas até o casamento, se a sua opção de vida fosse o matrimônio. Porém, a melhor forma de seguir o exemplo de Maria era permanecer virgem e tornar-se esposa de Cristo, com base na idéia recorrente de que Maria era "irmã, esposa e serva do Senhor". Eva simbolizava as mulheres reais, e Maria um ideal de santidade que deveria ser seguido por todas as mulheres para alcançar a graça divina, caminho para a salvação. Contudo, como Maria era um ideal a ser seguido, inatingível pelas mulheres comuns, surge à figura de Maria Madalena, a pecadora arrependida, demonstrando que a salvação é possível para todos que abandonam uma vida cheia de pecados. Com essa imagem de mulher pecadora que se arrepende e segue o mestre até o calvário, Maria Madalena veio demonstrar que todos os pecadores são capazes de chegar a Deus.

A partir daí foi concebido as mulheres, assim como a pecadora o direito ao arrependimento, demonstrado pela prostração, humilhação e lágrimas, em oposição à tagarelice de Eva, que levou toda a humanidade ao pecado. Por isso, a pregação feminina deveria ser sem palavras, feita apenas pela mortificação corporal.

Essa verdadeira misoginia (aversão as mulheres) tinha como objetivos básicos: afastar os clérigos das mulheres, institucionalizar o casamento e a moral cristã, moldada através da criação de um segundo modelo feminino a Virgem Maria. Os três modelos difundidos por toda a Idade Média (Eva, Maria e Madalena) deixam claro o papel civilizador e moralizador desempenhado pela Igreja Católica ao longo de aproximadamente mil anos de formação da sociedade ocidental.

Essa concepção de mulher, que foi construída através dos séculos, é anterior mesmo ao cristianismo. Foi assegurada por ele e se deu porque permitiu a manutenção dos homens no poder, fornecia uma segurança baseada na distancia ao clero celibatário, legitimou a submissão da ordem estabelecida pelos homens. Esta construção começou apenas a ruir, mas os alicerces ainda estão bem fincados na nossa sociedade.



BIBLIOGRAFIA

DUBY, G., PERROT, M. (dir.) História das Mulheres: a Idade Média. Porto: Afrontamento, 1990.

PILOSU, M. A Mulher, a Luxúria e a Igreja na Idade Média. Lisboa: Estampa, 1995.