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terça-feira, 13 de abril de 2010

DIVERSIDADE POR DEFICIÊNCIA: do medievo ao mundo contemporâneo

Diversidade por deficiência II: do medievo ao mundo contemporâneo

01. A Idade Média

O período situado entre fim do Império Romano (Século V, ano 476) e a Queda de Constantinopla (Século XV, em 1453), é cronologicamente definido como Idade Média. Essa foi a época histórica em que se organizou o modo de produção feudal caracterizado por uma economia agrária de subsistência, exploração da Mao de obra servil, predomínio histórico da descentralização política e cultura erudita produzida essencialmente pelo clero.

Quanto ao tratamento dispensado às pessoas com deficiência, a eliminação deixou de ser uma prática comum, ao contrário da época do escravismo. Na idade média havia melhores condições de sobrevivência para aqueles que nasciam com alguma deficiência. Alguns fatores podem ser apontados como causadores desta mudança:

• A posse da terra por parte do servo propiciava a ele ser o responsável pelo sustento de todos os seus. Era ele quem determinava o ritmo do trabalho na gleba, o que proporcionava a utilização de pessoas com algum tipo de deficiência.

• O desenvolvimento do cristianismo, representado pela Igreja católica, não aceitava a morte das pessoas com deficiências.

Passou a ser uma prática comum na sociedade feudal a segregação das pessoas com deficiências em hospitais ou asilos. Nos primeiros séculos da idade média, estas instituições eram mantidas basicamente pela Igreja. Na medida em que o tempo foi passando e a sociedade feudal foi se desenvolvendo (século XII), esses hospitais foram sendo secularizados. Apesar da existência dos hospitais e asilos, eles não eram em número suficiente para atender a todos, por isso muitos ficavam perambulando pelas ruas ou eram aceitos por algumas famílias por motivos relacionados a religiosidade católica ou ainda serviam como bobos da corte.

O rei Luís IX, cujo reinado ocorreu entre 1214 e 1270, fundou o primeiro hospital para pessoas cegas, o Quinze-Vingts (Quinze-Vingts significa 15 x 20 = 300. Era o número de cavaleiros cruzados que tiveram seus olhos vazados na 7ª Cruzada).



02. Idade Moderna

A Idade Moderna marcou a transição de um período de desconhecimento sobre os problemas geradores das deficiências física e mental, para o nascimento de novas idéias, caracterizadas pelo humanismo e pelo racionalismo. Nesse sentido, os eventos historicamente mais destacados são o do chamado Renascimento cultural (até o Século XVI) e a revolução cientifica do século XVII, precursora do iluminismo. Em ambas as épocas, apesar da persistência da segregação, alguns esforços começaram a ser feitos no sentido de melhorar o processo de adaptação das pessoas portadoras de deficiência a sociedade:

• Métodos de Comunicação para Pessoas Surdas: Gerolamo Cardomo (1501/1576), médico e matemático inventou um código para ensinar pessoas surdas a ler e escrever, influenciando o monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1520/1584) a desenvolver um método de educação para pessoa com deficiência auditiva, por meio de sinais. Esses métodos contrariaram o pensamento da sociedade da época que não acreditava que pessoas surdas pudessem ser educadas.

• Em 1620, na Espanha, Juan Pablo Bonet (1579-1633), escreveu sobre as causas das deficiências auditivas e dos problemas da comunicação, condenando os métodos brutais e de gritos para ensinar alunos surdos. No livro Reduction de las letras y arte para ensenar a hablar los mudos, Pablo Bonet demonstra pela primeira vez o alfabeto na língua de sinais.

• Ambroise Paré (1510/1590), médico francês do Renascimento, atendia no campo de batalha e se dedicou a encontrar a cura para os ferimentos de guerra que causavam amputações. Aperfeiçoou os métodos cirúrgicos para ligar as artérias, substituindo as cauterizações com ferro em brasa e com azeite fervente. Foi grande a sua contribuição na criação de próteses de madeira.

Em meio a esses avanços, contudo, os arautos do cristianismo institucionalizado mantinham as concepções medievais baseadas no misticismo. No Século XV o Príncipe de Anhalt, na Alemanha, desafiou publicamente o reformador religioso Martinho Lutero, não cumprindo sua ordem para afogar crianças com deficiência mental. Lutero afirmava que estas pessoas não possuíam natureza humana e eram usadas por maus espíritos, bruxas, fadas e duendes.

A época situada entre os séculos XVI e XVII foi marcada pelo despertar das elites para a existência de uma massa de pobres, mendigos e pessoas com deficiência. Vistos como perigosos, esses grupos desenvolveram suas próprias estratégias de sobrevivência em meio a uma situação geral de exclusão - reuniam-se em confrarias (organizações), em locais e horas determinadas, para mendigar, com divisão de lucros e cobranças de taxas entre os participantes do grupo.

Durante os séculos XVII e XVIII houve grande desenvolvimento no atendimento às pessoas com deficiência em hospitais. Havia assistência especializada em ortopedia para os mutilados das guerras e para pessoas cegas e surdas.

Surge o BRAILLE

No Século XIX, em 1819, Charles Barbier (1764-1841), um capitão do exército francês, atendeu a um pedido de Napoleão e desenvolveu um código para ser usado em mensagens transmitidas à noite durante as batalhas. Em seu sistema uma letra, ou um conjunto de letras, era representada por duas colunas de pontos que por sua vez se referiam às coordenadas de uma tabela. Cada coluna podia ter de um a seis pontos, que deveriam estar em relevo para serem lidos com as mãos. O sistema foi rejeitado pelos militares, que o consideraram muito complicado. Barbier então apresentou o seu invento ao Instituto Nacional dos Jovens Cegos de Paris. Entre os alunos que assistiram a apresentação encontrava-se Louis Braille (1809- 1852), então com quatorze anos, que se interessou pelo sistema e apresentou algumas sugestões para seu aperfeiçoamento. Como Barbier se recusou a fazer alterações em seu sistema, Braille modificou totalmente o sistema de escrita noturna criando o sistema de escrita padrão – BRAILLE – usado por pessoas cegas até aos dias de hoje.

O Século XIX, ainda com reflexos das idéias humanistas da Revolução Francesa, ficou marcado na história das pessoas com deficiência. Finalmente se percebia que elas não só precisavam de hospitais e abrigos mas, também, de atenção especializada.

É nesse período que se inicia a constituição de organizações para estudar os problemas de cada deficiência. Difundem-se então os orfanatos, os asilos e os lares para crianças com deficiência física. Grupos de pessoas organizam-se em torno da reabilitação dos feridos para o trabalho, principalmente nos Estados Unidos e Alemanha.

Napoleão Bonaparte determinava expressamente a seus generais que reabilitassem os soldados feridos e mutilados para continuarem a servir o exército em outros ofícios como o trabalho em selaria, manutenção dos equipamentos de guerra, armazenamento dos alimentos e limpeza dos animais. Nasce com ele a idéia de que os ex-soldados eram ainda úteis e poderiam ser reabilitados.

Essa idéia de reabilitação foi compreendida em 1884 pelo Chanceler alemão Otto Von Bismark, que constitui a lei de obrigação à reabilitação e readaptação no trabalho.

03. O Século XX

O Século XX trouxe avanços importantes para as pessoas com deficiência, sobretudo em relação às ajudas técnicas ou elementos tecnológicos assistivos. Os instrumentos que já vinham sendo utilizados - cadeira de rodas, bengalas, sistemas de ensino para surdos e cegos, dentre outros - foram sendo aperfeiçoados. A sociedade, não obstante as sucessivas guerras, organizou-se coletivamente para enfrentar os problemas e para melhor atender a pessoa com deficiência. Por volta dos anos de 1902 até 1912, cresceu na Europa a formação e organização de instituições voltadas para preparar a pessoa com deficiência. Levantaram-se fundos para a manutenção dessas instituições, sendo que havia uma preocupação crescente com as condições dos locais onde as pessoas com deficiência se abrigavam.

3.1 A Era da catástrofe (1914/1945)

Em 1914 o Império Alemão declara guerra aos seus inimigos da tríplice Entente. O período da Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, em que os Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano batiam-se contra o Império Britânico, França, Rússia e ao final os Estados Unidos. Esses foram anos de uma brutal crise inflacionária mundial. As mulheres puseram-se a trabalhar para sustentar a família enquanto os maridos estavam na guerra. As crianças com e sem deficiência ficavam em abrigos.

Mesmo com o fim da Primeira Grande Guerra os conflitos políticos continuaram e os países estavam em crise financeira. No entanto, era necessário que os governos se preocupassem com o desenvolvimento de procedimentos para a reabilitação dos ex-combatentes, melhorando as condições de vida dos jovens veteranos.

Somente em 1919, com o Tratado de Versalhes, é consolidada a paz, embora não tenha sido duradoura, e é criado um importante organismo internacional para tratar da reabilitação das pessoas para trabalho no mundo, inclusive das pessoas com deficiência: a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Imediatamente ao pós-guerra, a sociedade civil atenta e preocupada com os problemas sociais em curso, organizou-se para buscar soluções de melhorar os mecanismos de reabilitação. A primeira organização a se constituir foi a Sociedade Escandinava de Ajuda a Deficientes, atualmente conhecida como Reabilitation Internacional.

Em 1929 teve início um período de crise econômica mundial - a Grande Depressão – com altas taxas de desemprego e queda do produto interno bruto de diversos países europeus, Estados Unidos e Canadá.

O 32º Presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, em 1933, com o programa político New Deal, atrelado a assistência social, ajudou a minimizar os efeitos da Depressão. Roosevelt que era paraplégico, embora não gostasse de ser fotografado em sua cadeira de rodas, contribuiu para uma nova visão da sociedade americana e mundial de que a pessoa com deficiência, com boas condições de reabilitação, pode ter independência pessoal. Ele foi um exemplo seguido por muitos americanos com deficiência que buscavam vida independente e trabalho remunerado.

A Segunda Guerra Mundial, ocorrida de 1939 a 1945, iniciada pela Alemanha hitlerista, assolou e chocou o mundo pelas atrocidades provocadas. Sabe-se que o Holocausto eliminou judeus, ciganos e também pessoas com deficiência. Estima-se que 275 mil adultos e crianças com deficiência morreram nesse período e, outras 400 mil pessoas suspeitas de terem hereditariedade de cegueira, surdez e deficiência mental foram esterilizadas em nome da política da eugenia nazista.

3.2 O pós-45

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo precisou se reorganizar. A Europa estava devastada, assim como os países aliados porque enviaram tropas para derrotar Hitler. As cidades exigiam reconstrução, as crianças órfãs precisavam de abrigo, comida, roupas, educação e saúde. Os adultos sobreviventes das batalhas têm seqüelas e precisam de tratamento médico e reabilitação.

Com a Carta das Nações Unidas, criou-se a Organização das Nações Unidas – ONU, no ano de 1945 em Londres, visando encaminhar com todos os países membros as soluções dos problemas que assolavam o mundo. Os temas centrais foram divididos entre as agências:

ENABLE – Organização das Nações Unidas para Pessoas com Deficiência.

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância.

OMS - Organização Mundial da Saúde.

Em 1948, a comunidade internacional se reúne na nova sede da ONU, em Nova York, jurando solenemente nunca mais produzir atrocidades como aquelas cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Os dirigentes mundiais decidem então reforçar a Carta das Nações Unidas, declarando em um só documento todos os direitos de cada pessoa, em todo lugar e tempo. Nasce a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

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