Pesquisa no blog

sábado, 21 de novembro de 2009

Crise e desintegração do bloco socialista

A Crise e desintegração do bloco socialista


Submetida desde os anos 60 a um longo período de estagnação política e econômica que se explica, em grande medida, devido à necessidade de se desviar largos recursos da produção (de implementos, alimentos, etc.) para a indústria bélica a fim de fazer frente ao belicismo estadunidense, a União Soviética conheceria um rápido processo de transformação a partir da posse de Gorbatchev como novo secretário-geral do Partido Comunista, em substituição a Konstantin Chernenko. Relativamente jovem em comparação com seus antecessores tinha 54 anos de idade quando chegou ao poder -, o novo líder lançaria um amplo programa de reformas, visando a renovação política e econômica do país e do bloco comunista. Uma vertiginosa sucessão de acontecimentos, contudo, levaria as mudanças para muito além do que pretendia o próprio Gorbatchev Nos anos que se seguiram, o mundo assistiria com surpresa à progressiva desintegração tanto da União Soviética quanto do bloco comunista.

O fato é que Gorbatchev recebera uma pesada herança em termos políticos e administrativos. Seu programa de liberalização apenas tornou mais visíveis problemas que há muito vinham se acumulando: a ineficiência da economia soviética, engessada por um planejamento excessivamente centralizado; o peso dos crescentes gastos militares sobre essa economia já debilitada; a inflexibilidade de uma burocracia estatal de proporções monstruosas, que procurava controlar e regulamentar cada atividade produtiva. Para Gorbatchev, não havia futuro para o socialismo, a menos que tal estrutura fosse inteiramente reformulada.

Foi nesse contexto que ele lançou, em fevereiro de 1986, o programa conhecido como glasnost ("transparência"), visando combater a corrupção e a ineficiência administrativa dentro do Estado soviético, como parte de um projeto maior de abertura política. E, pouco depois, um segundo programa - a Perestroika ("reestruturação") seria formulado para aumentar a produtividade da economia do país. Além disso, Gorbatchev passaria a reduzir gradualmente a ajuda econômica aos países do Leste europeu e a retirar de lá várias das tropas soviéticas.



Mudanças rápidas

A política externa soviética também passou por transformações significativas. Procurando estabelecer um novo padrão de entendimento com os países capitalistas, Gorbatchev reuniu-se com Reagan em cinco ocasiões diferentes nunca antes dois dirigentes dos Estados Unidos e da União Soviética haviam mantido tantos contatos diretos. Já no primeiro desses encontros, em novembro de 1985, ambos anunciariam a disposição de reduzir seus arsenais nucleares pela metade, em acordo a ser formalizado futuramente. E embora Reagan que continuava a encarar a União Soviética como "o império do mal" depois recuasse nesse compromisso, as propostas de desarmamento de Gorbatchev lhe valeram uma popularidade que nenhum outro líder soviético havia antes obtido no mundo ocidental. Em sua visita aos Estados Unidos, em dezembro de 1987, ele foi entusiasticamente recebido pelo público norte-americano.

Na ocasião, foi assinado um tratado inédito de eliminação de mísseis Cruise e Pershing II norte-americanos, em troca da eliminação de SS-20 soviéticos: tratava-se do primeiro acordo de desativação de toda uma classe de armas nucleares. Um ano depois, em pronunciamento realizado na ONU, Gorbatchev anunciaria a decisão de reduzir os contingentes militares soviéticos em 20% - o equivalente a quinhentos mil homens até o final de 1991.

As reformas de Gorbatchev incluíram também a realização de eleições livres para o Congresso, em março de 1989. Era a primeira vez que os soviéticos iam às umas escolher seus representantes. Mas todo esse esforço, que visava dar novos rumos ao socialismo, passou a enfrentar problemas inesperados: dentro da onda liberalizante, grupos nacionalistas, étnicos e religiosos sufocados por décadas - voltaram a se mobilizar, reclamando a independência de regiões como a Letônia, a Lituânia e a Estônia. Também nos países do Leste europeu ressurgiram movimentos a favor da completa autonomia nacional.

A unidade da União Soviética e do bloco comunista sempre fora garantida por um rígido esquema de centralização política: nas ocasiões em que movimentos colocaram em xeque tal esquema como na Hungria, em 1956, ou na Tchecoslováquia, em 1968 - os soldados do Exército Vermelho e do Pacto de Varsóvia haviam sido convocados para esmagá-los. Agora, porém, isso não parecia mais possível. Um a um, os países do Leste europeu foram ganhando cada vez mais autonomia em relação à União Soviética, praticamente desmontando a ordem construída por Stalin ao final da Segunda Guerra Mundial.

Um exemplo é o da Polônia. Já no final dos anos 70 emergira um movimento contestador de base sindical, o Solidariedade, liderado por Lech Walesa. Em 1982 o governo polonês havia respondido com a dureza de sempre, implantando uma lei marcial. Com o clima de abertura da glasnost, entretanto, uma série de reformas políticas levaram à criação do cargo de presidente da República e de um parlamento bicameral, em abril de 1989. Nas eleições realizadas em junho do mesmo ano, o Solidariedade - agora transformado em partido político - obteve uma vitória significativa, fazendo de Tadeusz Mazowiecki o primeiro-ministro. No ano seguinte, Lech Walesa chegaria ao cargo de presidente da República. Numa virada inédita, os dissidentes do regime assumiam o governo.

Outro exemplo é o da Tchecoslováquia. Ali, Gustav Husak, que havia assumido o governo logo após a repressão à Primavera de Praga, foi forçado a renunciar como resultado de novas e amplas manifestações populares. Em seu lugar, assumiu como presidente, em dezembro de 1989, o escritor Vaclav Havel, em processo que também levou à reabilitação política de Alexander Dubcek eleito deputado e, em seguida, presidente da Câmara dos Deputados. A transição política tcheca, radical mas pacífica, tornou-se conhecida como Revolução de Veludo.

Movimentos dessa natureza passaram a se reproduzir em cada país do Leste europeu, mesmo naqueles onde o peso da tradição stalinista e da centralização política era maior.

Nem todas as transições foram pacíficas, contudo. Em dezembro de 1989, o ditador da Romênia, Nicolae Ceausescu que governava desde os anos 60 e resistia às mudanças - acabou sendo preso e executado, ao lado de sua mulher, Elena. A maré de violência incluiu a caça e o linchamento de muitos membros da Securitate, a polícia política romena. A onda de transformação parecia tão irrefreável que até na Albânia, considerada o maior reduto do stalinismo na Europa, seriam realizadas eleições livres em março de 1992. A vitória - impensável em outros tempos - foi do Partido Democrático de Sali Berisha, que na ocasião declararia que os albaneses estavam "dizendo um adeus definitivo ao comunismo".



A queda do muro de Berlim

Nenhum outro acontecimento marcaria tão emblemática e simbolicamente a virtual desintegração do antigo bloco comunista, ou teria tanta influência sobre os movimentos no Leste europeu, quanto o processo que levou à queda do muro de Berlim, em 1989. Construído em 1961 para separar os setores oriental e ocidental da cidade para isolar, na realidade, o setor comunista do setor não comunista -, o famoso muro havia se tornado o maior símbolo do controle soviético sobre os países do Leste europeu. Como que enclaustrados no setor comunista da cidade, centenas de pessoas tentaram, ao longo de quase três décadas, achar uma maneira de fugir para o setor ocidental. Os fugitivos procuravam superar as muitas barreiras constituídas pelo muro - que contava, entre outras coisas, com cercas eletrificadas, valetas antitanque e policiamento permanente. A maior parte deles acabou eletrocutada ou fuzilada.

Em setembro de 1989, entretanto, a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria, criando um novo roteiro de fuga da Alemanha Oriental. Milhares de alemães orientais passaram a sair de seu país em direção à Alemanha Ocidental, atravessando nesse caminho a Hungria e a Áustria. Além disso, como em outros países do Leste europeu, também na Alemanha Oriental uma onda crescente de protestos populares passou a ocorrer. Esgotado pelas manifestações e pela repercussão da emigração em massa, o governo do país finalmente determinou a derrubada do muro, em novembro de 1989. Verdadeiras multidões afluíram a Berlim e fizeram do acontecimento uma enorme festa, transmitida pela TV para todo o mundo. A queda da barreira preparava terreno para uma medida ainda mais radical, que viria pouco tempo depois - a reunificação alemã, sob a liderança da Alemanha Ocidental.



O fim da União Soviética

A abertura política patrocinada por Gorbatchev permitiu a emergência de forças que imprimiram seus próprios ritmos e direções às mudanças que o líder soviético imaginara poder manter sob controle. Essa torrente de transformações, porém, não se fez sem resistências. A mais significativa delas resultou em nada menos que uma tentativa de golpe contra o próprio Gorbatchev.

Em agosto de 1991, um autodenominado Comitê Estatal de Emergência surpreendeu o mundo com o anúncio de que Mikhail Gorbatchev havia sido afastado do poder "por problemas de saúde", velho eufemismo soviético, tradicionalmente usado para anunciar a retirada de um líder caído em desgraça. Uma junta, formada por oito dirigentes da chamada linha dura do Partido Comunista, assumiu o governo e proclamou sua intenção de restaurar a "lei e a ordem", além da "integridade territorial e da honra nacional".

O golpe, que apontava para a retomada da linha de centralização política na União Soviética, porém, fracassou espetacularmente. Milhares de manifestantes saíram às ruas de Moscou, enfrentando os soldados e os tanques, ao mesmo tempo que a opinião púbica mundial exigia a volta de Gorbatchev. Em poucos dias, por absoluta falta de apoio, os golpistas foram presos, e Gorbatchev reconduzido ao poder. Em vez de deter, o golpe frustrado acabou acelerando ainda mais as mudanças: pouco depois o Partido Comunista soviético foi extinto e as repúblicas da Letônia, Estônia e Lituânia declararam definitivamente sua independência. O exemplo foi seguido por Moldávia, Ucrânia, Bielo-Rússia, Geórgia, Azerbaijão, Quirguizistão, Uzbequistão, Tajiquistão e Armênia. O antigo império soviético se esfacelava.

Mais do que isso, a resistência ao golpe reforçou a popularidade do presidente da Rússia, Bóris Yeltsin, líder populista que a partir daí manobrou habilmente para marginalizar Gorbatchev. Yeltsin articulou junto aos líderes das novas repúblicas a formação de uma Comunidade de Estados Independentes, união que praticamente decretava a falência do que sobrava do antigo Estado soviético. Esgotado, Gorbatchev não viu outra alternativa a não ser formalizar sua renúncia, anunciada no dia 25 de dezembro de 1991. Em seguida, passou às mãos de Yeltsin a tchemodântchik, a famosa "pastinha" preta com os códigos de disparo dos mísseis nucleares, até então sob seu controle. Era o desenlace de uma sucessão de acontecimentos que nenhum analista político, mesmo no início dos anos 80, teria sido capaz de prever. O bloco comunista havia desmoronado, não por força de um formidável cataclismo nuclear - como se acreditava antes -, mas como resultado de um surpreendente processo de implosão política. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não existia mais; 74 anos depois, a revolução bolchevique encontrava um melancólico final.

síntese memorex

A CRISE DO SOCIALISMO

01. Fatores:
• Crise e estagnação econômica do “socialismo real”:
- Centralismo administrativo – processo de burocratização da economia.
- Corrida armamentista: Atraso tecnológico na produção de bens de consumo.
- Crescimento extensivo da indústria de base.
- Estagnação do padrão de vida social: declínio da produtividade – crises de abastecimento.
• Problemas sociais:
- Existência de desigualdades: Burocracia dirigente (privilégios) X População (nivelamento social básico).
- Existência de conflitos étnicos (predomínio russo – URSS).
• Crise Política:
- Totalitarismo: fusão entre Estado e PC.
- Ausência de liberdades coletivas e individuais.
• Sufocamento da criatividade cultural (realismo socialista) e científica.

02. Eventos principais:
• 1985: Ascensão política de Mikhail Gorbatchev.
• Reformas de Gorbatchev (1985-1990):
- Perestróika (reestruturação): Abertura controlada da economia (capitais e tecnologia estrangeira), Fim do centralismo estatal, desburocratização, autogestão das estatais, conceito de lucro e aumento da produtividade. Problema: choque entre planificação e mercado. Aprofundamento da crise econômica.
- Glasnost (transparência): Fim do sistema partido-Estado, Eleições, pluripartidarismo, liberdade cultural e cientifica. Isolamento político de Gorbatchev (“linha Dura” X Ultra-reformistas). Criatividade cultural e cientifica.
- Distensão internacional: desnuclearização da guerra fria.
• Desintegração do bloco socialista: Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária e Al. Oriental.
• Queda do muro de Berlim e reunificação da Alemanha.
• Ressurgimento do nacionalismo: Lituânia, Letônia e Estônia (URSS).
• 1991:
- Golpe “linha dura”.
- Movimento popular anti-golpe (Boris Yeltsin).
- Extinção do PCUS.
- Formação da CEI.
- Dissolução da URSS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário