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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Revolução Russa

A Revolução Russa (1917) – Da revolução de 1917 ao Stalinismo

Introdução
Já se tornou lugar comum afirmar que a Revolução Russa de 1917 tem o mesmo significado para o século XX do que a Revolução Francesa para o século XVIII. Ambas foram formidáveis movimentos de massas e idéias que deram novo perfil a História da Humanidade: transformaram a vida de milhões e empolgaram ou aterrorizaram outros tantos. A bibliografia sobre ambas é vastíssima e continuam provocando polêmica - mais a russa do que a francesa. Seu raio de ação e influência deslocou qualquer outro movimento anterior. Nem o Cristianismo, nem o Islamismo, nem o Budismo, nem qualquer outro movimento de massas e idéias atingiu seu ecumenismo. Naturalmente que isto se deveu a maior integração econômica e comercial do mundo, assim como pelo desenvolvimento das comunicações.
A presente exposição trata de destacar mais os aspectos teóricos do que os fatos que levaram a Rússia a Revolução. A primeira parte consta de uma síntese das principais idéias que forjaram o pensamento revolucionário de 1917 acompanhada da situação que se seguiu. Também dá destaque às transformações econômicas e políticas produzidas durante o período Stalinista (1928/53). No final do texto encontra-se um pequeno organograma sobre o socialismo e suas divisões.

As idéias: o socialismo
Como nosso tema é a Revolução Russa e suas conseqüências, vamos nos ater ao movimento de idéias que a inspirou para posteriormente desenvolvermos os principais eventos.
Para alguns historiadores o Socialismo surgiu durante a Revolução Francesa, como uma de suas correntes subterrâneas, o movimento de Graco Babeuf. No entanto, ele tornou-se sólido e substancial, muito tempo depois com Karl Marx e de Friedrich Engels, quando da publicação do Manifesto Comunista em 1848.
Estes dois pensadores alemães, terminaram por produzir uma extensíssima obra econômica e política que permitiram extraordinário embasamento teórico e prático para o Socialismo. Engels, percebendo a diferença de Marx em relação às demais correntes socialistas e anarquistas, denominou seu pensamento, como "Socialismo Científico", classificando os demais como "Socialismo Utópico", visto que não apresentavam soluções práticas para a transformação da sociedade capitalista em sociedade socialista, limitando-se a elaborar fórmulas de sociedades perfeitas (tais como os projetos de Owen e Fourier). O pensamento de Marx, ao contrário, destinava-se a mudar radicalmente o destino das sociedades humanas e sua filosofia era o instrumento desta formação. Segundo ele "as filosofias até agora trataram de compreender o mundo, trata-se de modificá-lo". (Marx, Karl. Ideologia Alemã).
Sinteticamente suas idéias podem ser assim esquematizadas:
· Toda a História da Humanidade nada mais é do que um conflito permanente entre classes sociais antagônicas. Senhores e Escravos, Patrícios e Plebeus, Nobres e Burgueses e, na época contemporânea: Burgueses e Proletários. Quer dizer, as classes sociais e sua existência são condicionadas pela História. A Sociedade do futuro implica na sua abolição e na implantação da igualdade.
· Esta abolição da sociedade de classes se daria devido a própria crise do Sistema Capitalista. Por gerar a constante concentração da Propriedade e das Rendas nas mãos de poucos, levaria por oposição, a aumentar a miséria geral dos não-proprietários, que se rebelariam e destruiriam esta sociedade. Como o processo histórico é dialético, tudo aquilo que existe (O Capitalismo) será superado por uma forma social superior (O Socialismo), nascida no próprio ventre da sociedade anterior. O Feudalismo teria sido mais ameno que o Escravismo; o Capitalismo uma forma superior ao Feudalismo e, por conseqüência, o Socialismo seria superior ao Capitalismo. Estas grandes transformações são feitas pelos homens organizados em classes sociais. A Burguesia depôs a Nobreza, o Proletariado deporá a Burguesia.
· O Socialismo é por sua vez uma etapa intermediária, onde conviveriam formas da sociedade anterior (Capitalista), com formas da sociedade futura, tingindo posteriormente a etapa final da pré-história da Humanidade - o Comunismo. Esta etapa de transição seria gerida pela "Ditadura do Proletariado"; a nova classe instalada no poder não poderia se desfazer do aparato Estatal, pois teria que enfrentar as ameaças da contra-revolução burguesa. Para Marx, o Estado continua existindo (ao contrário dos anarquistas que propunham sua imediata abolição) como uma arma de defesa da Revolução.
· A Revolução proletária é, pois, inevitável, havendo dois caminhos para concretizá-la. Um, conquistando posições estratégicas dentro da sociedade capitalista através da dinamização dos sindicatos e dos partidos operários; outra, por um golpe dado por revolucionários audazes que empalmariam o poder em favor dos proletários. Estas duas tendências estiveram sempre latentes dentro dos escritos políticos de Marx e Engels, gerando a diferenciação entre social-democracia e comunismo.
· Como conseqüência lógica do que foi exposto, Marx acreditava que a Revolução Proletária ocorreria num país onde o Capitalismo fosse suficientemente desenvolvido para gerar as condições necessárias a sua transformação. Para uma sociedade chegar ao Socialismo teria que necessariamente percorrer um longo desenvolvimento capitalista. Isto excluía a possibilidade de se chegar ao Socialismo numa sociedade atrasada onde a maioria da população é composta de camponeses e não de proletários urbanos (os exclusivos agentes da transformação da História). A implantação do Socialismo nas sociedades capitalistas não seria socialmente onerosa porque o desenvolvimento tecnológico permitiria atender a todos "segundo suas necessidades". A Humanidade livrar-se-ia, pois, da alienação do trabalho e das exigências de atender aos ditames do Lucro e do Capital para suprir-se a si própria.
· Somente durante os últimos anos de sua vida, Marx passou a grangear fama e respeito, cabendo parte do mérito a Engels, responsável pela divulgação de seus escritos (o 2º e 3º volumes do Capital foram publicados após a morte de Marx) e pela preservação da pureza do pensamento do amigo.

O pensamento revolucionário na Rússia
Durante séculos a Rússia permaneceu isolada das grandes transformações sociais, econômicas e culturais porque passava a Europa Ocidental. A Reforma ou o Renascimento pouco efeito tiveram em sua paisagem política e cultural. O mesmo acontecendo com o Iluminismo e as Revoluções burguesas. Segundo Kireievski "o alargamento material do império absorveu durante séculos toda a energia do povo russo: o crescimento material tornou impossível o crescimento espiritual". De fato o antigo principado de Moscóvia no século XIV, não ultrapassava em extensão a atual Finlândia. Trezentos anos depois, estendia seu domínio por mais de vinte e dois milhões de quilômetros quadrados, englobando as mais variadas culturas, religiões e grupamentos raciais - Seus grandes impulsionadores foram os czares Ivan III, Ivan IV (o Terrível), Pedro - o Grande e Catarina II. Submetendo a ferro e a fogo os tártaros, os turcos, os cossacos, os tchecos, os mongóis, os poloneses, e as tribos nômades da Sibéria; sua extensão, ia do Vístula, na Polônia, até o Oceano Pacífico, no extremo Oriente.
O governo dos czares - a autocracia absoluta - foi uma decorrência da necessidade de integração deste vasto território heterogêneo. Quando Bizâncio caiu em poder dos Turcos Otomanos, o Príncipe de Moscóvia atraiu para sua capital os restos da administração e do clero grego ortodoxo, assimilando suas práticas funcionais e hierárquicas. A igreja, tal como em Constantinopla, estava subordinada ao Estado e seu chefe era nomeado diretamente pelo Imperador. A Rússia desconheceu, pois, o latente conflito existente na Europa Ocidental, entre o clero e o aparato estatal.
Esta fusão completa entre Estado e Igreja naturalmente contribuiu para o sufocamento do livre - pensar. A intelectualidade russa vivia permanentemente sob vigilância quer de parte do Estado quer de parte do Santo Sínodo. No entanto, a maior aproximação da Rússia com o Ocidente no século XIX (principalmente depois das guerras napoleônicas) tornou inevitável a penetração dos ideais libertários vindos da Europa. Primeiro sob a forma do liberalismo e em seguida do socialismo. Não deixa de ser um paradoxo que a Rússia do século XIX, pobre e brutalizada, terminasse por gerar grandes talentos da literatura mundial tais como Gogol, Dostoevski, Tchecov, Turguenieff, Tolstoi e Gorki. E, na política, homens do porte de Alexandre Herzen, Bakunin, o Príncipe Kropotnik e o introdutor do marxismo na Rússia - George Plekhanov.

O Reformismo autocrático e os populistas
As reformas executadas pelo czar Alexandre II (entre 1861-5), tais como a abolição da servidão da gleba, criação das câmaras municipais (zemstvos), atenuação da censura na imprensa e nas universidades) foram provocadas pelo fracasso russo durante a Guerra da Criméia (1853-8) onde foram batidos pelos corpos expedicionários franco-britânicos, que impediram a Rússia de atingir Constantinopla e ter acesso ao Mediterrâneo. Esta era de reformas, devido sua timidez, terminou por gerar um descontentamento ainda mais amplo. Insatisfez a nobreza porque aboliu alguns de seus privilégios; os camponeses porque eles tiveram que se endividar para obter autonomia; a intelectualidade porque não haviam sido suficientemente profundas.
Foi da intelectualidade que partiu a primeira tentativa de derrubar o regime por um movimento não-palaciano. Inicialmente denominou-se "Terra e Liberdade" e seu objetivo era convencer a massa rural a sublevar-se contra o czar. O fracasso desta tentativa e a repressão que se seguiu, levou os populistas (narodiniks) a embrenharem-se na sina do terrorismo político. Acreditavam que, abatendo as figuras exponenciais do regime czarista, provocariam uma rebelião popular. Em 1881 o próprio czar Alexandre foi vitimado por uma jovem militante, Sofia Perovskaia. Os populistas inspiravam-se nos anarquistas ocidentais, pensando poder levar a Rússia ao comunismo devido a existência de comunidades rurais organizadas em torno do mir (uma espécie de unidade de produção comunal) que facilitariam sua implantação. O terrorismo apenas reforçou ainda mais o aparato estatal e justificou a intensificação da opressão e da censura. É neste contexto que o marxismo vai surgir como alternativa à prática política e teórica dos narodiniks.

A social-democracia
Em março de 1898, na cidade de Minsk, nove delegados representando as principais cidades do país, reuniram-se para o 1º Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Denominação inspirada no Partido Social-Democrata alemão, fundado por Lassale em 1863 e o mais poderoso partido político operário do Ocidente. Entre os delegados encontrava-se Vladmir Ilich Uliánov, cujo codinome era Lênin, o futuro fundador do Estado Soviético. Como resultado concreto do congresso foi difundido o Manifesto do POSDR, redigido por Peter Struve que, dentro da ortodoxia marxista, aceitava as duas etapas da futura Revolução Russa (a primeira de cunho democrático-burguesa e a segunda socialista-proletária sem fazer menção à ditadura do proletariado nem quais os meios para realizar sua missão). Os marxistas diferiam profundamente dos populistas e, tanto na Rússia como no exílio, intensificaram a polêmica sobre o destino do país e quais as táticas corretas a serem empregadas para a derrubada da autocracia. Em síntese, defendiam as seguinte posições:
· Era um profundo equívoco querer transformar a Rússia em um país socialista, pois o capitalismo ainda era incipiente não gerando as condições necessárias para a transição.
· A prática do terrorismo era absolutamente inócua pois não abalava a estrutura do regime: "de que adianta abater o czar se o czravitch está logo alí para substituir seu pai?”. Era necessário desenvolver um longo e amplo trabalho de "preparação" das massas, através da propaganda e da agitação. Levá-las à consciência da certeza da derrubada do czarismo como um todo e não em ações isoladas.
· Favorecer a implantação do capitalismo na Rússia. Quanto mais empresas e indústrias lá se instalassem mais cresceria o proletariado urbano e favoreceria o surgimento da única classe verdadeiramente revolucionária. Ironicamente, esta posição dos marxistas, serviu para que fossem vistos como menos perigosos pela Okrana, a polícia secreta do Czar, que passou dedicar maior atenção àqueles que, no momento, lhes pareciam mais ameaçadores, os terroristas populistas.
· Os próprios marxistas, organizados em torno do POSDR, não estiveram por muito tempo unidos. Cinco anos depois - no exterior - organizaram um 2º Congresso (primeiro na Bélgica e depois em Londres) que terminou por levá-los à cisão, formando-se duas facções: a da maioria (bolcheviques) e a da minoria (mencheviques). Aparentemente as causas da divisão foram motivos de pequena monta, mas terminaram por alargar-se com o tempo transformando-os em dois partidos distintos, e todas as tentativas de reunificação lograram em fracasso (Como durante o Congresso de Estocolmo, em 1906).
· Mesmo dentro do seu partido, Lênin teve que lutar várias vezes para que seus companheiros aceitassem seus pontos de vista. Como a Rússia, pouco desenvolvida e possuindo uma massa de mais de cem milhões de camponeses, poderia lançar-se na construção do Socialismo? Em primeiro lugar propôs que os operários se aliassem à massa rural, sem esta aliança um partido revolucionário teria escassas possibilidades de sobrevivência. Em segundo lugar, acreditava que a Guerra Mundial (1914-18) terminaria por desencadear uma série de Revoluções proletárias e a Rússia não ficaria isolada. Deste modo, o evidente atraso econômico, cultural e tecnológico do país, receberia auxílio externo. Apesar de suas divergências com a social-democracia alemã, Lênin tinha esperança que no momento aprazado o proletariado alemão faria a sua Revolução e socorresse seus camaradas. O fracasso desta expectativa conduziu a União Soviética à teoria do "socialismo num só país" e a ascensão de Stalin ao poder supremo.
Mencheviques e Bolcheviques
Não nos cabe aqui expor toda a polêmica surgida em torno da questão do quadro editorial do jornal do Partido - O Iskra - a "centelha que deveria provocar a Revolução", e sim fixar as linhas gerais que levaram a formação das duas correntes.
Os mencheviques, influenciados pelo pensamento convencional do marxismo europeu, pregavam:
· A formação de um partido o mais amplo possível, considerando todo colaborador - direto ou indireto, como um membro do partido;
· Não acreditavam na possibilidade da Rússia transitar rumo ao Socialismo sem antes percorrer o desenvolvimento do Capitalismo;
· Como consequência, deveriam aliar-se à burguesia para depor o czarismo.
Os bolcheviques - liderados por Lênin - apresentavam outra proposta:
· O partido deveria ser formado por revolucionários profissionais, só sendo membro quem militasse ativamente nas suas fileiras; isso se devia à permanente infiltração de "agentes provocadores da polícia secreta do czar e pelas condições gerais da repressão na Rússia, que não permitiam a existência de um partido "aberto";
· Devido ao atraso das massas operárias e camponesas o partido se tornaria a "vanguarda do proletariado" composto por elementos mais conscientizados e endurecidos na luta política, disciplinados e obedientes ao Comitê Central. De certa forma, bolcheviques e mencheviques terminaram por concretizar as "duas vias" para o Socialismo que estavam latentes no pensamento de Marx e Engels. Quando ocorreu a revolução de fevereiro de 1917, derrubando o czarismo, os mencheviques exerciam uma enorme influência no meio dos operários de Petrogrado. No transcorrer do ano foram lentamente se desgastando na sua vã tentativa de amparar a esquálida burguesia russa, terminado por sucumbir junto com ela

OBS. Leninismo: Podemos dizer que o Leninismo, como pensamento autônomo dentro do Marxismo, fundia-se inteiramente com o Bolchevismo. Pecaríamos pela verdade, no entanto, se não estabelecêssemos algumas distinções entre o Leninismo e o Bolchevismo, não esquecendo que, após a morte de Lênin, em 1924, o Bolchevismo continuou existindo, se fracionando em várias tendências. As principais contribuições de Lênin para o plano teórico-prático do Socialismo e da Revolução seriam as seguintes:
a) a tentativa de redefinir as perspectivas do desenvolvimento capitalista e/ou revolucionário na era do Imperialismo. Ao seu ver, o Capitalismo encontrava-se extremamente consolidado nos países desenvolvidos fazendo com que parte da classe operária passasse a usufruir de uma melhoria substancial em seu modo de vida. Explicava-se a tendência reformista que o Socialismo havia assumido nestes países. No entanto, a dinâmica revolucionária deslocava-se para a periferia do Sistema. Nos países atrasados, onde o Capitalismo era pouco desenvolvido ocorreria a possibilidade de eclosão da Revolução "quebrar a corrente capitalista em seu elo mais fraco". As teorias de Lênin foram consideradas verdadeiras heresias contra o pensamento de Marx e sua posição foi de quase total isolamento.
A Revolução Russa de Fevereiro (março pelo calendário atual) foi um enorme movimento de massas que espontaneamente rebelara-se contra o czarismo. Nenhum partido a insulflou. Ao contrário, a grande maioria dos revolucionários militantes foi surpreendida - acrescente-se que a maioria deles estava presa na Sibéria (como Stalin) ou no exílio (Lênin na Suíça e Trotski nos Estados Unidos). Como também foi espontânea a organização de sovietes (conselhos) em todas as fábricas, repartições, bairros e regimentos militares, que passaram a formar um poder paralelo.

As Causas da revolução Russa
A expressão Revolução Russa é relativa às duas revoluções vitoriosas de 1917: a primeira, denominada Revolução de Fevereiro (março, pelo calendário juliano então usado na Rússia), levou à queda da autocrática monarquia imperial. A segunda, denominada Revolução Bolchevique ou Revolução de Outubro (Novembro), foi organizada pelo partido bolchevique contra o governo provisório instalado na primeira fase.
No começo do século XX, a Rússia, com aproximadamente 150 milhões de habitantes, estava mergulhada em profundas contradições.
Apesar de certo desenvolvimento econômico comercial e industrial, a base da economia ainda era agrária sendo que somente a agricultura era responsável pela produção de mais de 50% da riqueza nacional. Assim, o desenvolvimento econômico do país era extremamente moroso; seu comércio e sua indústria encontravam-se nas mãos de estrangeiros e o grosso da produção era consumida pelo próprio Estado. Isso levou ao desenvolvimento de uma burguesia e classe média extremamente frágeis. A burguesia russa jamais atingiu a autonomia da ocidental, pois sua dependência do Estado era muito grande, além de estar vinculada aos compromissos assumidos junto ao capital internacional (sobretudo o inglês e o Francês) que financiava o tímido processo de industrialização em curso, controlava bancos e CIAS comerciais. A presença estrangeira no financiamento da industrialização russa tornou a burguesia um apêndice do sistema internacional fazendo-a procurar proteção junto ao Czar (tarifas protecionistas, etc.) em troca de apoio político.
O atraso econômico russo resultava em grande desigualdade social. “No topo da pirâmide social estavam os grandes proprietários de terra, clero – membros da Igreja ortodoxa – e os oficiais do exército, configurando uma ordem social baseada na propriedade da terra e na posse de títulos honoríficos, não havendo o dinamismo da sociedade tipicamente capitalista. As terras, em geral, áreas enormes, pertenciam aos Boiardos, nobres proprietários que exploravam a grande massa camponesa, cerca de 80% da população. Apesar de os estatutos da emancipação, elaborados em 1861, terem dado aos servos, os Mujiques, liberdade pessoal e habilitação para tornarem-se proprietários, cerca de 40% das terras continuavam com a nobreza, enquanto os camponeses viviam em condições miseráveis.”. (VICENTINO, Cláudio. op. cit. p. 363). De outro ângulo, A extraordinária concentração de operários nos grandes centros urbanos do país (perto de três milhões em Moscou e Petrogrado), a exploração a que estavam submetidos (o capitalista russo só sabia competir reduzindo gastos) e a exigüidade do espaço político que possuíam (impedidos de participarem dos organismos parlamentares) acabaram impulsionando esses operários russos seguirem a estrada da revolução e não do Reformismo.
No aspecto político, a dinastia Romanov, no poder desde 1613, governava de forma absolutista, apresentado a figura do Czar, confundido com o próprio Estado, como governante de direito divino. Somando-se a esse fato a existência de uma burguesia frágil e duplamente dependente (do Estado e do capital internacional) temos uma equação onde nobres e burgueses serviam politicamente ao Estado e gozavam de privilégios econômicos possibilitados pela brutal exploração desencadeada sobre a massa operária e camponesa. As tentativas de se opor ao poder czarista eram ofuscadas pela ação da OKRANA (polícia política) que se voltava especialmente contra anarquistas e marxistas. O poder concentrado nas mãos do Czar pouco espaço deixava para o florescimento do liberalismo, defendido pelo frágil partido dos Kadetes (liberais-burgueses), que representava apenas uma pequena fração da população – aqueles burgueses que eram muito ricos.
Foi no governo de Nicolau II (1894-1917), o último dos czares, que a crise revolucionaria rebentou, primeiramente em 1905 e posteriormente em 1917.
A revolução de 1905, chamada por Lênin de “ensaio revolucionário”, eclodiu ao final da guerra russo-japonesa (1904-05), de caráter imperialista pela disputa da Coréia e da Manchúria, e que terminou com uma espetacular derrota dos russos, fato que ativou a oposição. Em 22 de janeiro de 1905, uma manifestação pacifica realizada em frente ao palácio de inverno de Nicolau II, em São Petersburgo, foi violentamente reprimida pela cavalaria dos cossacos, morrendo centenas de pessoas. O episódio, então chamado de “domingo sangrento”, desencadeou uma onda de protestos pelo país que resultaram em uma greve geral e levantes militares como o do encouraçado Potemkim
Como reflexo dessa situação, o Czar foi obrigado a por fim a guerra contra os japoneses e, ainda, se comprometeu, no manifesto de Outubro, a instaurar uma Monarquia Constitucional e Parlamentar mediante a formação da Duma (parlamento). Com o manifesto, iniciou-se a formação dos Sovietes – conselhos de trabalhadores – em várias regiões do Império russo, incentivando a participação popular no processo.
Embora a criação da Duma tenha se concretizado, o czar colocou-se acima do parlamento e decretou sua dissolução em várias ocasiões, só enfrentando oposição dos Sovietes que, lentamente, foram se constituindo como um poder paralelo ao do Estado absolutista, fato que os poria na posição de principal base sócio-política em que se apoiaria a revolução de 1917.
Estes são pois um conjunto de fatores mais amplos, de estrutura, que terminaram por favorecer um tipo específico de Revolução. O colapso geral, deu-se com a entrada da Rússia na Primeira Grande Guerra. A incapacidade do czarismo em vencer e as insuportáveis condições internas, terminaram por fazer com que a eclosão do movimento revolucionário fosse incontrolável.

As etapas da Revolução de 1917
Em fevereiro de 1917 Nicolau II foi derrubado e instaurou-se a República da Duma, sob a chefia de Alexandre Kerensky, líder Menchevique. o governo encontrou-se dividido entre o poder formal (o Governo Provisório liderado pela burguesia, classe-média e setores da nobreza liberal) e os Sovietes (de operários soldados e marinheiros) sem cuja aquiescência pouco podia ser feito. Contudo, a partir de Julho, o governo provisório transformou-se em uma ditadura que não se preocupou em resolver os problemas mais importantes: a paz e as reformas em todos os níveis. Kerensky manteve, assim, a Rússia na primeira guerra mundial, principal fator de desgaste do Estado burguês nascente, fortalecendo a oposição dos Bolcheviques que, baseada nos Sovietes, unia trabalhadores e soldados.
Liderados por Lênin, Trotsky e Stálin, os bolcheviques haviam ganhado popularidade com as Teses de Abril, enunciadas nas reivindicações de “paz, pão e terra”, onde se propunha a retirada da Rússia da Primeira guerra, a realização de uma reforma agrária e a regularização do abastecimento interno. Sob o lema “todo poder aos Sovietes”, Trotski recrutou uma milícia revolucionaria em Petrogrado, a “guarda vermelha”, futuro embrião do exército vermelho.
As teses de Abril
Em fins de setembro de 1917, uma ofensiva militar contra os alemães, organizada por Kerensky (pressionado pelos aliados franco-britânicos) é derrotada. Milhares de soldados abandonam o fronte, desertando em massa, terminando por engrossar as fileiras dos bolcheviques que prometiam paz imediata e distribuição das terras para os camponeses. O Governo Provisório não tinha mais condições de subsistir. No dia 25 de outubro, os bolcheviques apoiados pelos principais regimentos de Petrogrado, pelos marinheiros da esquadra do Báltico e da Fortaleza de Kronstadt e pela guarda vermelha, tomam de assalto o Palácio de Inverno - sede do Governo Provisório – os departamentos públicos e criam o governo provisório do Conselho dos Comissários do Povo. No comando do conselho estavam Lênin (na presidência), Trotski (encarregado dos negócios externos) e Stálin (chefiando os assuntos internos). A publicação do Apelo aos trabalhadores, soldados e camponeses, primeiro documento oficial da Revolução, transferiu todo o poder para os sovietes.
“Parecia óbvio que o velho mundo estava condenado. A velha sociedade, a velha economia, os velhos sistemas políticos tinham, como diz o provérbio chinês “perdido o mandato do céu”. (...) A Revolução Russa, ou mais precisamente, a Revolução Bolchevique de outubro de 1917, pretendeu dar ao mundo esse sinal. Tornou-se, portanto, tão fundamental para a história deste século quanto a Revolução Francesa de 1789 para o século XIX. (...) A Rússia, madura para a revolução social, cansada de guerra e à beira da derrota, foi o primeiro dos regimes da Europa Central e Oriental a ruir sob as pressões e tensões da Primeira Guerra Mundial. (...) Na verdade, o governo do czar desmoronou quando uma manifestação de operários (no habitual “Dia da Mulher” do movimento socialista – 8 de março) se combinou com um lock-out industrial na notoriamente militante metalúrgica Putilov e produziu uma greve geral e a invasão do centro da capital, do outro lado do rio gelado, basicamente para exigir pão. (...)
A reivindicação básica dos pobres da cidade era pão, e a dos operários entre eles, melhores salários e menos horas de trabalho. A reivindicação básica dos 80% de russos que viviam da agricultura era, como sempre, terra. Todos concordavam que queriam o fim da guerra... O slogan “Pão, Paz, Terra” conquistou logo crescente apoio para os que o propagavam, em especial os bolcheviques de Lênin que passaram de um pequeno grupo de uns poucos milhares em março de 1917 para um quarto de milhão de membros no início do verão daquele ano”. (HOBSBAWM, Eric J. A Revolução Mundial. In: Era dos extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. 2ª ed. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das letras, 1995. pp. 62-68.).

O governo de Lênin (1917-1924)
De inicio, o novo governo nacionalizou as indústrias e os bancos estrangeiros, redistribuiu as terras no campo e firmou um armistício com a Alemanha, o tratado de Brest-Litovski, para sair da guerra mundial.
As transformações que contrariavam velhos interesses, no entanto, estimularam a oposição dos russos brancos (Mencheviques e Czaristas) que, apoiados pelas potências da Entente, mergulharam a Rússia em uma sangrenta guerra civil que duraria mais quatro anos.

A guerra civil e o comunismo de guerra
A guerra civil eclodiu em abril de 1918. Em várias regiões da Rússia, ex-generais Czaristas levantaram suas tropas contra o governo bolchevique. Aproveitando-se do verdadeiro caos em que o país se encontrava, as nações aliadas resolveram intervir a favor dos brancos. Tropas inglesas, francesas, americanas e japonesas desembarcaram tanto nas regiões ocidentais (Criméia e Geórgia) como nas orientais (ocupação de Vladivostok e da Sibéria Oriental). Seus objetivos eram: derrubar o governo bolchevique e instaurar um regime neoczarista (a favor da continuação da Rússia na guerra).
Para poder enfrentar a maré contra-revolucionária, o novo governo instituiu o Exército Vermelho, comandado por Leon Trotski que revelou-se um brilhante estrategista, disciplinador rígido e líder das tropas. Na passagem dos anos vinte para vinte e um, todas as formações contra-revolucionárias haviam sido derrotadas e seus principais expoentes exilaram-se no exterior. As forças expedicionárias aliadas foram obrigadas a retirar-se, tanto pela derrota dos Brancos, como pela pressão da opinião pública internacional.
No terreno econômico, devido a situação de emergência e pelo próprio ímpeto revolucionário, instituiu-se o "comunismo de guerra". O dinheiro e as leis do mercado foram abolidas, sendo substituídos por uma economia dirigida baseada no confisco de cereais produzidos pelos camponeses. Embora o comunismo de guerra tenha viabilizado os recursos necessários para que o exercito vermelho derrotasse o exercito branco, em 1921, surgiram serias crise de abastecimento, além de revoltas camponesas diante dos confiscos da produção agrícola. Lênin instituiu então a NEP (Nova Política Econômica), um planejamento estatal sobre a economia que combinava princípios socialistas com elementos capitalistas. A fim de evitar um colapso total da economia após a guerra civil, a NEP estimulava a pequena manufatura privada, o pequeno comercio e a livre venda da produção pelos camponeses nos mercados, estimulando produção, emprego e abastecimento. A NEP durou até 1928, obtendo a recuperação parcial da economia soviética e a reativação de setores fundamentais, fazendo crescer a produção industrial, agrícola e o comércio.
Politicamente, ainda na fase da guerra civil, os bolcheviques iniciaram a luta final contra outras facções da Esquerda (mencheviques, anarquistas e social-revolucionários), terminando por se transformarem no único partido legalizado do país. Durante o X Congresso do partido, em 1921, adotaram uma resolução ainda mais drástica - a proibição da existência de facções dentro do partido. Quer dizer, os bolcheviques estendiam a ditadura sobre si próprios. Enquanto a liderança esteve nas mãos de Lênin, não foram tomadas medidas repressivas contra os membros recalcitrantes ou divergentes. Mas, essa mesma ditadura, serviria como poderoso instrumento coercitivo quando Stalin tomou a direção partidária.
Em 1918 foi elaborada uma constituição que criava a República Soviética socialista Russa e, em 1923, outra, que instituía a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), resultado de um acordo de união das diferentes regiões do antigo Império russo, transformadas em repúblicas federativas e socialistas.

O Socialismo num só país
A tragédia do bolchevismo dos anos vinte se deu na medida em que, devido ao peso das circunstâncias, tiveram que transformar-se num partido que representava a si mesmo. Suas bases sociais - o proletariado urbano, além de ser escasso numericamente, foi literalmente dizimado pela guerra civil e pela desorganização da economia ocorrida neste período. Depois de longos anos de guerra e da guerra civil, a extrema tensão em que foram submetidas as massas tornou-Stálin, Lênin e Mikhail Kalinin (foto do VIII Congresso do Partido Comunista Russo, Março 1919as apáticas. Este comportamento favoreceu a implantação da ditadura partidária, mas os custos políticos foram terríveis - não só para o socialismo russo, como para a causa do socialismo internacional.
O isolamento em que o país se encontrava aprofundou-se ainda mais. A tão esperada revolução que deveria ocorrer num país desenvolvido, não ocorreu. Depois do fracasso dos espartaquistas (facção radical do Partido Comunista Alemão) em 1919 e dos comunistas em 1923, a Alemanha deixou de figurar como uma possível aliada. Estes fatores terminaram por fazer com que os bolcheviques fossem obrigados a alterar sua estratégia interna. A União Soviética de agora em diante deveria contar com seus próprios recursos. Evidentemente que aceitar esta nova situação era uma heresia. O socialismo era um movimento internacional, que não podia ser limitado por fronteiras, os fatos, no entanto, eram uma poderosa evidência para qualquer teoria internacionalista. A União Soviética teria que lançar-se na "construção do Socialismo" enfrentando todos os fatores adversos; a falta de quadros técnicos e culturais, o imenso analfabetismo do campesinato, a baixa produtividade e a pouca qualificação de seu operariado.
Lênin morreu em janeiro de 1924 sendo sucedido por um triunvirato com plenos poderes sobre o Estado e a Organização Partidária. Deles, (Kamenev, Zinoviev e Stálin) foi Stálin que de fato passou a usufruir maior poder e autoridade (Secretário Geral do PCUS) responsável pela administração do Partido e pela admissão ou exclusão de seus militantes.
Numa época em que a reconstrução do país ganhava cada vez mais importância, os administradores foram ocupando o lugar dos teóricos e dos agitadores - Stálin terminou sendo o veículo da nova situação. Graças a seus poucos recursos teóricos, não tinha nenhum grande compromisso em manter fidelidades ideológicas, ao contrário servia-se delas para executar o seu projeto político-econômico.
Isto não evitou a polêmica entre o grupo dirigente. Ao aceitarem o "Socialismo num só país", esboçado inicialmente por Bukharin e posteriormente por Stalin - jogaram automaticamente Trotski na oposição. Ele era a expressão do ímpeto revolucionário da época heróica, que lentamente estava sendo arquivada pela nova elite dirigente. Sua formação cosmopolita e internacionalista, o indispunha com o "Socialismo num só país", que se identificavam com os ditames do aparelho administrativo-burocrático e com o nacionalismo. Em 1928, terminou sendo expulso do Partido e desterrado em Alma Alta (na Ásia) e, posteriormente, foi obrigado a exilar-se no exterior. A tese do "Socialismo num só país" pode ser esquematizada da seguinte maneira:
· Industrialização total, baseada na produção nacionalizada, dando prioridade aos meios de produção (indústria pesada).
· Coletivização progressiva da agricultura, visando à transformação última da propriedade coletiva em propriedade estatal).
· Mecanização geral do trabalho, extensão do treinamento "politécnico", tendente a "equalização" entre trabalhos urbanos e rurais.
· Aumento gradual do padrão de vida desde que mantido os itens 1 e 3.
· Formação de uma moral universal do trabalho, e de uma eficiência competitiva: eliminação de todos os elementos transcendentais, psicológicos e ideológicos (Realismo Soviético).
· Preservação e fortalecimento das maquinarias estatal, partidária, militar e gerencial.
· Após haverem sido atingidas as metas previstas, transição para um sistema de distribuição do produto social de acordo com as necessidades individuais.

O Stalinismo e os grandes expurgos
Nos anos trinta a União Soviética iria se lançar numa das mais formidáveis e traumatizantes aventuras dos tempos contemporâneos. A transição vertiginosa de um país agrário num país industrializado. Pela primeira vez na História esta transição não se daria pelas forças cegas da lei do mercado e sim pelo impulso estatal amparada na planificação econômica geral. Stalin enterrou definitivamente a NEP e deu início ao lançamento das bases industriais que permitiram posteriormente a URSS sair vitoriosa no conflito com a Alemanha Nazista (1941-45). No entanto, sua política teve terríveis conseqüências no plano físico, moral e intelectual da nação. Acicatado pela necessidade de fazer frente a "ameaça capitalista" que cercava o país, os soviéticos lançaram-se à tarefa num ritmo sem precedentes.
O primeiro passo dado foi a coletivização forçada a que os camponeses foram submetidos. A URSS do final dos anos vinte possuía aproximadamente 25 milhões de pequenas propriedades, onde viviam mais de cem milhões de camponeses com suas famílias. A contradição da propriedade privada da terra e propriedade socializada foi resolvida num golpe. Criaram-se milhares de fazendas coletiva (Kolkozes) e granjas estatais (solvkozes) que deveriam iniciar uma nova etapa da história da exploração agrícola do solo. Esperava-se deste modo, fazer com que a produtividade agrícola aumentasse com a mecanização das lavouras, cumulando-se assim a renda necessária para a sustentação dos grandes projetos de eletrificação e industrialização. A resistência dos camponeses foi muito além das expectativas. Mataram seu gado, inutilizaram suas ferramentas e, em muitas regiões, rebelaram-se abertamente contra o regime. Stalin foi implacável. Mobilizaram-se inclusive forças do Exército para cumprir o projeto de coletivização e milhões de pessoas foram deportadas para os campos siberianos, condenados a trabalhos forçados.
Na área urbana os projetos industriais cresciam como cogumelos, o padrão de vida era baixo e as dificuldades de habitação, transporte e alimentação duríssimas. Milhares de camponeses foram jogados dentro das fábricas, onde sua inabilidade, indisciplina e ignorância provocavam um espantoso índice de acidentes de trabalho. Mas o clima do país, pelo menos nos primeiros anos da década dos trinta era de entusiasmo. A juventude lançou-se ardorosamente na construção industrial, pois esperava-se em breve chegar finalmente a sociedade igualitária. Milhares de administradores, economistas, engenheiros eram formados e engajavam-se na monumental tarefa. No entanto, a população ainda iria passar pôr um teste ainda mais duro - a Era do Terror - quando Stalin decidiu-se pela eliminação de todos àqueles que lhe fizeram e faziam oposição, dentro do partido.
O assassinato de Kirov, um dedicado homem de confiança de Stalin, na "capital da Revolução" (Leningrado), serviu de pretexto para que o ditador pudesse iniciar os terríveis expurgos que espantaram o país e o mundo. Numa série de processos (entre 1936 e 1938) toda a "Velha Guarda" do partido bolchevique foi esmagada. Este terrível período ficou na memória como a Yezovchina - o terror de Yezov chefe da Polícia Secreta (NKVD) - que também foi executado quando Béria assumiu o comando do aparelho repressivo, em 1938.
Durante a plenitude do poder stalinista a ciência, as artes e a literatura tornaram-se adstritas à política. Nenhum ramo do conhecimento atuava à margem dos interesses partidários imediatos, tornando-se instrumento da propaganda oficialista, sob a batuta do Ministro da Cultura Zhedanov. Artistas e historiadores viviam sob a vigilância permanente e seus textos, muitas vezes, eram censurados pelo próprio Stálin (de acordo com a tradição czarista, pois Nicolau I fazia o mesmo com as rimas do grande poeta Puschkin). Mesmo assim, os alcances da instrução massiva atingiram as multidões. Os grandes clássicos da literatura tornaram-se acessíveis aos operários e camponeses. Balzac, Tolstoi, Setndhal, Tchecov, Shakespeare e Homero tiveram tiragens contadas aos milhões, era o realismo socialista. O Realismo Socialista foi o estilo artístico oficial da União Soviética entre as décadas de 1930 e 1960, aproximadamente. Foi, na prática, uma política de Estado para a estética em todos os campos de aplicação da forma, desde a Literatura até o Design de produto, incluindo todas as manifestações artísticas e culturais soviéticas (Pintura, Arquitetura, Design, Escultura, Música, Cinema, Teatro etc.). O Realismo Socialista está diretamente associado ao comunismo ortodoxo e aos regimes de orientação ou inspiração stalinista.

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