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terça-feira, 14 de julho de 2009

Grécia - PRÉ PADRÃO

A Civilização Grega

1) As origens

1a) Os tempos pré-homéricos: predomínio dos cretenses
O berço da civilização ocidental é, tradicionalmente, apontado como a Grécia antiga. Na realidade, podemos ver que, anteriormente aos gregos, desenvolveu-se a civilização cretense, ou egeana.
A civilização cretense teve início por volta do terceiro milênio. a.C., atingindo sua expressão maior entre 2000 a 1500 a.C. Seu foco principal era a ilha de Creta, no mar Egeu. Era um povo essencialmente comerciante, que manteve ativo intercâmbio com o Egito, Ásia Menor e ilhas do mar Egeu. Exportava objetos de cerâmica, tecidos e vinho, importando metais, mármore, marfim, vidros.
Sua sociedade era bastante original e desenvolvida, dando lugar de destaque à mulher. Há fortes evidências de que não admitia a escravidão. A sociedade apresentava uma classe de ricos proprietários de terras, que detinham o poder político. A classe dos comerciantes era expressiva, mas não chegou a participar do poder.
Reflexo da pujança econômica, desenvolveu-se uma arte esplêndida, com destaque para as pinturas naturais e os vasos de cerâmica. Escavações feitas no Palácio de Cnossos revelaram que os cretenses possuíam tecnologia desenvolvida, pois se encontraram ruínas de banheiros e de um sistema de esgotos.
Esta brilhante civilização sofreu forte abalo, quando a região foi invadida pela tribo dos aqueus, por volta de 1500 a.C. Os aqueus eram uma das tribos das quais se originou, posteriormente, o povo grego. Apesar da destruição de Creta, a legados da civilização egeana ainda perduraram em Micenas e Tróia. No século XII a.C. os invasores dórios atingiram a Grécia e a Ásia menor. Nesse contexto, Tróia foi destruída pelos gregos no século XI a.C. e a civilização cretense desapareceu completamente.

2) Períodos históricos

2a) Tempos homéricos
Os aqueus e os dórios, tribos que destruíram as bases da civilização cretense, formam os povos que, juntamente com os jônios e os eólios, deram origem ao povo grego.
Por meio do mapa anterior, pode-se verificar a localização da Grécia antiga. Verifique que, ao lado da Grécia continental, havia uma Grécia insular e uma asiática. Na parte asiática, residiam principalmente os primitivos habitantes (Pelasgos, Eólios e Jônios) que fugiram da península balcânica quando ocorreram as invasões dos dórios – Primeira diáspora Grega.
Estas invasões ocorreram até o século XII a.C. Desse período até o século VIII a.C. pouco se sabe da história dos gregos. As fontes disponíveis para o conhecimento de tão longo período são ruínas e, principalmente, dois poemas de autoria de Homero, a Ilíada e a Odisséia. No primeiro poema, Homero trata da Guerra de Tróia e, no segundo, da volta do rei Ulisses, que havia tomado parte no conflito.
As informações que podem ser extraídas dos dois poemas, apesar de valiosas, são poucas. Pode-se, por exemplo, saber que os gregos, inicialmente, em conseqüência das invasões, dedicaram-se a uma vida predominantemente rural, baseada nas comunidades gentílicas (Genos). Ao final do período, organizaram-se em cidades-Estado (polis), característica que, como veremos a seguir, marcou a história daquele povo.

2b) Tempos arcaicos
Do século VIII a.C. ao século V a.C., temos o Período Arcaico da historia grega. Esse momento é assinalado pela expansão comercial e marítima (segunda diáspora grega), decorrente da pobreza do solo. Os marinheiros gregos percorreram o Mediterrâneo, fundando colônias em sua orla.
Entre as colônias e as cidades de onde os marinheiros saiam, estabeleciam-se importantes laços econômicos, o que teve como conseqüência tornar a atividade comercial a mais importante da economia grega.
Reflexo do crescimento da nova atividade foi o surgimento de uma poderosa classe de comerciantes que, em pouco tempo, passou a lutar por direitos, principalmente políticos, já que nas cidades-Estado eram as famílias nobres que estavam no poder. Dessas lutas resultaram importantes modificações nas formas políticas. A mais destacada delas foi a criação da democracia na cidade-estado de Atenas.

2c) Tempos clássicos
Os séculos V e IV a.C. constituem o que os autores denominam a “época de ouro” da história grega, ou Período Clássico. Com efeito, foi nesse momento que a civilização grega atingiu seu apogeu: a instituição da democracia, as obras dos principais artistas e filósofos são dessa fase.
No entanto, foi também nesse período que alguns problemas graves surgiram, contribuindo para que, em seguida ao apogeu, tivesse lugar a decadência da Grécia. Exerceram particular influência nesse aspecto as guerras contras os persas e, em seguida, a guerra que envolveu as duas maiores cidades-Estado, Atenas e Esparta.
As guerras contra os persas, denominadas Guerras Médicas, foram resultado da expansão dos persas sobre a Ásia Menor, onde existiam cidades gregas. Tais cidades não se submeteram e foram apoiadas pelas cidades do continente, dando inicio ao conflito. Curiosamente, as cidades-Estado gregas, que até aquele momento haviam existido de forma autônoma e sem maiores ligações entre si, formaram uma aliança para enfrentar os persas. Se a aliança mostrou-se eficaz, pois, de fato, os persas foram derrotados, revelou-se nefasta no segundo momento. Atenas e Esparta tornaram-se imperialistas, dominando ou exercendo influência sobre outras cidades-estado. Do choque desses dois imperialismos resultou uma nova guerra, desta vez envolvendo as próprias cidades gregas: a Guerra do Peloponeso.
Esparta liderou a Liga do Peloponeso, enquanto Atenas comandava a Confederação de Delos. Com o desenvolvimento do conflito toda a Grécia perdeu: o enfraquecimento das cidades-Estado era visível, e elas foram presas fáceis para um conquistador estrangeiro - Felipe da Macedônia. Em 338 a.C., Felipe derrotou as tropas gregas na batalha de Queronéia, dominando toda a península. Após sua morte, a dominação foi mantida por seu filho Alexandre Magno.

2d) Tempos helenísticos

(Império Helenístico: máxima extensão sob Alexandre Magno)
Alexandre, após consolidar o domínio da Grécia, avançou com seus exércitos, em direção ao Oriente, chegando até próximo à Índia. A esse momento os autores denominam Período Helenístico, definindo este termo como resultado da fusão da cultura grega com a oriental. Após a morte de Alexandre Magno, o império se fragmentou, dividindo entre seus generais. Antígono recebeu a Macedônia e a Grécia; Ptolomeu ficou com o Egito; e Seleuco herdou a Mesopotâmia, Síria e a Pérsia. No século I a.C., todas essas regiões foram dominadas pelos romanos.

3) Uma visão panorâmica da civilização grega
3a) Economia
Nos seus primórdios, a economia das inúmeras comunidades gregas era fundamentalmente agrária, sendo, por conseguinte, a posse da terra o elemento determinante para a definição da condição sócio-econômica dos indivíduos, bem como o seu grau de participação política na sociedade. Assim, na maioria das cidades-Estado helênicas, ocorreu uma progressiva concentração do poder nas mãos da aristocracia, segmento social formado pelos grandes proprietários rurais. A conseqüência política desse processo foi a evolução das monarquias para oligarquias (“governo de poucos”). “À medida que os detentores de grandes propriedades ganhavam poder econômico cada vez maior, resolveram arrebatar a autoridade política do governante, já então comumente chamado de Rei, e dá-la a um conselho, que eles geralmente manobravam. Por fim, aboliram completamente a monarquia”. (BURNS, EDWARD McNALL. OP. CIT. P. 95).
O território grego não oferecia condições muito adequadas para a prática da agricultura, devido ao seu reduzido tamanho, além de ser excessivamente montanhoso e não existirem grandes rios. Destarte, desde muito cedo, os gregos foram obrigados a se dedicarem à atividade comercial, como já se referiu anteriormente.
A partir do século VIII a.C., teve início a ocupação de novos territórios, onde eram fundadas colônias. Tais movimentos colonizatórios, alcunhados de segunda diáspora grega levaram os gregos a ocupar áreas da Ásia Menor (o litoral da Anatólia); o Mar de Mármora e o Mar Negro, regiões cortadas por inúmeros estreitos e onde foi fundada a cidade de Bizâncio; e anexar o sul da Itália, a Magna Grécia, polvilhada de cidades, destacando-se: Tarento, Síbaris, Crotona e Nápoles. Na Sicília, edificou-se outro importante centro urbano: Siracusa. “A colônia (chamada APOIKIA - lar distante - pelos gregos) era independente da metrópole, isto é, da Polis que a havia fundado. Os laços eram religiosos e comerciais: para a sua fundação consultava-se o oráculo de Delfos; na colônia também ardia o fogo sagrado trazido da polis originaria; possuíam deuses e um calendário comum. Quando começavam a se estabelecer relações comerciais mais ativas entre elas surgiam as rivalidades comerciais, levando por vezes a guerra entre a colônia e a sua metrópole. Na realidade não se formara ainda um império grego embora se multiplicassem as cidades-Estado gregas por quase todo o Mediterrâneo. Dessa maneira as colônias tinham suas próprias instituições políticas, suas próprias formas de Estado, não havendo laços políticos de dependência entre elas e as cidades fundadoras. As relações comerciais constituíam o principal elo entre colônia e metrópole”. (AQUINO, Rubim Santos Leão de. OP. CIT. P. 182).
A colonização grega no Mediterrâneo implicou a helenização cultural da região, e uma ampla circulação de bens agrícolas entre as colônias e as cidades-Estado da Grécia. Localizadas em solos férteis, as colônias passaram a produzir gêneros em abundância, cujos excedentes eram exportados para o território grego original. Essa crescente importação de produtos agrícolas coloniais provocou o declínio da estrutura agrária tradicional. De início, foram arruinados os pequenos proprietários; em seguida, a própria aristocracia foi solapada em seu poderio econômico. Agora, as terras em mãos da aristocracia dedicavam-se ao plantio de vinha e oliva. Assim o circuito comercial entre as colônias e a Grécia passou a ser o seguinte: as primeiras forneciam alimentos e os gregos exportavam vinho e azeite para as regiões coloniais. Como a plantação da vinha e da oliva exigiam grandes contingentes de mão-de-obra, progressivamente difundiu-se o sistema escravista.
Na Grécia, três eram as formas de aquisição de escravos: conquista, compra ou escravização por dívidas. Noutros termos, todo e qualquer devedor que não tivesse condições de pagar seus débitos era, junto com sua família, escravizado pelo credor. As maiores vítimas dessa legislação eram os pequenos proprietários de terra, que, não dispondo de recursos para o plantio, tomavam empréstimos de agiotas e da aristocracia, acabando por perder, de início, as propriedades e, logo em seguida, a liberdade. A decadência da agricultura tradicional grega acarretou a urbanização, o incremento do artesanato e um extraordinário progresso comercial. Em conseqüência, a maior parte das populações das cidades-Estado passaram a se dedicar a atividades especificamente urbanas; comércio, artesanato e profissões liberais. Nas cidades, enriqueceu-se a camada de comerciantes e artesãos, favorecida com o advento de uma economia monetária (troca de mercadoria por moeda - Século VII a.C.), superando a economia natural (baseada na troca de produtos). Foi nesse contexto que o sistema escravista começou a se enraizar na sociedade grega, gerando a ampliação das contradições sócio-políticas. “(...) as condições de trabalho escravo fizeram piorar o nível de vida da população pobre, sobretudo dos escravizados por dívidas. (...) Como o artesanato empregava um grande numero de trabalhadores escravos (...), a concorrência entre artesãos livres e escravos degradou o artesanato, desvalorizando os salários dos artesãos livres. Os proprietários de oficinas preferiram investir mais na agricultura de exportação e na compra de escravos do que na expansão do artesanato. (...) O mercado interno praticamente inexistia e o artesanato passava a produzir para um mercado distante. O Excedente populacional não encontrava, desse modo, escoamento no artesanato, o que agravava os antagonismos sociais e acirrava as lutas políticas”.(AQUINO, Rubim Santos Leão de. OP. CIT. P. 184).
O novo cenário grego gerou uma profunda contradição: o poderio econômico concentrava-se, de maneira crescente, nas mãos dos setores sociais urbanos, mas, pelo menos no início desse processo, o poder político continuava monopolizado pelas oligarquias agrárias. Assim, “(...) Estes séculos foram marcados por intensas lutas sociais, entre a aristocracia territorial e os grupos populares. Note-se que esses `grupos populares`abrangiam os ricos comerciantes que, muitas vezes, traiam a massa da população, abandonando o povo e aliando-se aos grandes proprietários. As contradições sociais principais, porém, verificaram-se entre os homens livres e os escravos, cujo numero crescia devido à importação, à escravidão por dividas e as guerras contra os bárbaros (não-gregos)”. (AQUINO, Rubim Santos Leão de. OP. CIT. P. 185.).
Essa crescente tensão social levou, progressivamente, a transformações políticas que, particularmente em Atenas, determinaram a evolução de uma estrutura oligárquica (governo nas mãos de alguns poucos) para uma democracia (governo dos cidadãos).
CONSEQUÊNCIAS DA SEGUNDA DIÁSPORA GREGA (EXPANSÃO COMERCIAL E MARÍTIMA GREGA)
- Decadência e Reorganização agrícola da Grécia
- Desenvolvimento de uma sociedade urbano-mercantil
- Enfraquecimento econômico e político das oligarquias agrárias com o conseqüente fortalecimento dos setores sociais urbanos
Dentre as mais de 160 cidades-Estado gregas, destacaram-se duas Polis: Esparta e Atenas.

3b) Sociedade
A sociedade grega apresentava configurações diferenciadas, em grande parte devido à estruturação política das cidades-Estado. É claro que existiam semelhanças (família patriarcal, conceito de cidadania, por exemplo), mas as diferenças eram notáveis. Generalizando-se, pode-se afirmar que as cidades da Grécia rural e aquelas cujo processo de criação foi violento, com a imposição de um grupo sobre os demais, permaneceram, durante todo o período, com uma sociedade fechada, sem mobilidade possível. Já as cidades da Grécia marítima e aquelas cuja criação se deu pacificamente experimentaram grandes mudanças. Vejamos os dois exemplos mais característicos.

3b1) A sociedade espartana
A sociedade espartana estava dividida em três grupos básicos: os espartanos ou esparciatas, os periecos e os hilotas. Os esparciatas eram os descendentes dos primitivos dórios. Constituíam a aristocracia, que dominava amplamente a estrutura econômica, e detinham o poder político. Sua educação era toda voltada para a formação de bons soldados.
Os periecos eram trabalhadores livres, mas não possuíam direitos políticos. Não lhes era vedado exercer qualquer atividade econômica, desde que pagassem os tributos devidos. Descendiam das tribos que habitavam o Peloponeso, quando da invasão dória, e que não ofereceram resistência à conquista. Quando necessário, eram obrigados a prestar serviço militar.
Os hilotas eram escravos do Estado. Trabalhavam, geralmente, na terra e não dispunham de qualquer direito. Eram mantidos sob um regime de terror. Descendentes dos primitivos habitantes, que ofereceram resistência à dominação dos dórios, foram transformados em escravos. O temor que inspiravam aos esparciatas era tal (principalmente devido ao seu grande numero) que, periodicamente, se decretavam contra eles a kriptia: em determinado dia do ano, os jovens esparciatas que estavam se adestrando nas artes militares eram autorizados a matar quantos hilotas encontrassem. Tal política, que pode ser definida como terrorismo de Estado, possuía, todavia, raízes históricas profundas nas origens de Esparta: Após conquistarem a cidade de Micenas, os dórios fundaram Esparta, localizada no centro da planície da Lacônia. Em seguida à ocupação da Lacônia, os dórios – etnia que originou os espartanos – anexaram os territórios vizinhos, notadamente a planície da Messênia: “Os primeiros espartanos foram dórios, que haviam chegado ao peloponeso oriental como um exercito invasor. De inicio tentaram fundir-se aos micenianos que ali encontraram. Entretanto, surgiram conflitos, e os espartanos recorreram à conquista. Ainda que no fim do século IX a.C tivessem dominado toda a região da Lacônia, não estavam satisfeitos. A oeste das montanhas do Taígeto estendia-se a fértil planície da Messênia. Os espartanos decidiram-se pela sua conquista. A aventura teve êxito e o território messênio foi anexado à lacônia. Por volta de 640 a.C. os messênios obtiveram o auxilio de Argos e desencadearam uma revolta. A guerra que se seguiu foi encarniçada; (...) Dessa vez os vencedores não se arriscaram. Confiscaram as terras dos messênios, assassinaram ou expulsaram os seus chefes e reduziram as massas à condição de escravos públicos, os hilotas. Após as guerras messênias, os espartanos recearam que novas guerras externas dessem oportunidades para um levante dos hilotas; por conseguinte, Esparta dedicou-se a manter o que já havia obtido e a perpetuar a dominação sobre os hilotas”. (BURNS, EDWARD McNALL. OP. CIT. P. 97).
Todas as características desenvolvidas no cotidiano de Esparta possuem, direta ou indiretamente, relações com as guerras travadas contra os messênios. Os espartanos possuíam um temor mortal de serem dominados por uma insurreição dos hilotas. Esse medo, de certa forma, explica o seu conservadorismo, sua obstinada resistência a mudança, para que nenhuma inovação resultasse num fatal enfraquecimento do sistema. O provincialismo espartano pode ser também atribuído a mesma causa. Amedrontados pela perspectiva de que idéias perigosas pudessem ser introduzidas na cidade, condenavam as viagens e proibiam o comercio com o exterior, exceto com cidades muito aliadas. A necessidade de manter uma supremacia absoluta de um número pequeno de cidadãos sobre uma enorme massa de escravos públicos exigia disciplina férrea e completa subordinação do individuo. Por fim, o grande atraso cultural de Esparta nasceu da atmosfera de repressão, resultado inevitável da violenta luta para conquistar os messênios e mantê-los sob severa sujeição.
Embora cada família de esparciatas recebesse um lote de terras - o kleros - cultivado por hilotas, era o Estado que administrava a economia. Por essa razão convencionou-se chamar o regime econômico espartano de hilotismo, para acentuar as diferenças entre o escravismo praticado na quase totalidade do mundo grego e a escravidão pública que caracterizou o regime espartano. Tanto as terras quanto os hilotas pertenciam ao Estado: o esparciata não podia vender, nem ceder, nem legar por herança o kleros, a não ser ao filho mais velho na condição de posse, assim como não podia vender os hilotas. As atividades principais eram a agricultura e a pecuária, complementadas pelo comercio e artesanato praticados pelos periecos.

3b2) A sociedade ateniense
A sociedade ateniense apresentava inúmeros contrastes com a de Esparta. Lá, em seu auge, também havia três grupos sociais: os cidadãos, os metecos e os escravos.
Os cidadãos eram todos aqueles que dispunham de direitos políticos: nobres, comerciantes, proprietários de terras. Do ponto de vista numérico, era o menor grupo.
Os metecos eram os estrangeiros que passavam a residir em Atenas. Além de não possuírem direitos políticos, também não podiam casar-se com atenienses. Não havia proibições quanto a atividades econômicas que viessem a desempenhar, embora não pudessem ser proprietários de terras.
Os escravos eram numerosos e aumentaram ainda mais, quando a colonização teve início. Eram empregados em serviços domésticos, como marinheiros, agricultores e trabalhadores em geral. Havia também os escravos do Estado, que eram utilizados na limpeza publica e no policiamento.

3b3) Sociedades diferentes; sistemas educacionais diferentes.
Um aspecto que chama atenção diz respeito à educação das crianças e jovens nas duas cidades. Em Esparta, a educação era essencialmente voltada para a criação de bons soldados. Os meninos eram educados pelo Estado, recebendo basicamente instrução física, a partir dos sete anos de idade. Aliás, desde o nascimento, o Estado se preocupava com as crianças. Quando nasciam com algum defeito físico, eram jogadas a um abismo ou abandonadas para morrer. Plutarco, um grande historiador da antiguidade, assim descreve a educação espartana:
“Ensinavam a ler e escrever apenas o estritamente necessário. O resto da educação visava acostumá-los à obediência, torná-los duros à adversidade e fazê-los vencer no combate. Do mesmo modo, quando cresciam, eles recebiam um treinamento mais severo: raspavam a cabeça, andavam descalços e brincavam nus a maior parte do tempo. Tais eram seus hábitos. Quando completavam doze anos, não usavam mais camisa. Só recebiam um agasalho por ano. Negligenciavam o asseio, não conheciam mais banhos nem fricções, a não ser em raros dias do ano, quando tinham direitos a essas boas maneiras. Dormiam juntos, agrupados em patrulhas e tropas, sobre catres que eles próprios fabricavam (...)”. (PLUTARCO. A vida de Licurgo apud PINSKY, Jaime. 100 testos de história antiga. 4 ed. São Paulo: Contexto, 1988, p.109.).
Já em Atenas, a educação, também iniciada aos sete anos, compreendia leitura, escrita, ginástica, musica e pintura. Não existia aquela preocupação exclusiva com a formação de um bom soldado, mas de um cidadão completo.

3c) Estruturas políticas

3c1) Características gerais das pólis
Como já salientamos por diversas vezes, a vida política da Grécia antiga era assinalada pela existência da polis, ou cidade-Estado. A polis possuía total autonomia. O ideal buscado pelos gregos era o da auto-suficiência. No plano cultural, evidentemente, encontramos certa semelhança no que diz respeito à língua e religião.
A cidade-Estado não foi uma invenção dos gregos. Muito antes, a sociedade mesopotâmica dos sumérios e os fenícios já se haviam organizado politicamente em cidades-Estado. Na Grécia, essa forma de organização política teve origem no final da época homérica e no inicio da chamada época arcaica. Sua origem está ligada à progressiva desintegração dos genos, fenômeno marcado pelo estabelecimento da propriedade privada e de desigualdades sociais, quando uma aristocracia de nascimento distanciou-se do restante da comunidade, apoderou-se dos meios produtores de riquezas e, consequentemente, do poder político.
Além do exposto, o processo de formação das Polis gregas foi acompanhado de algumas outras características gerais, a saber:
· As comunidades (ligadas pelo parentesco direto ou indireto) se uniram obedecendo ao principio da territorialidade ou da vizinhança. As comunidades de vizinhança se uniram dando origem a Polis, com governo próprio, em um processo conhecido como sinecismo (agrupamento).
· O fato principal que acelerou a formação e o crescimento das Polis gregas foi o desenvolvimento das trocas e do artesanato. Esse processo foi dinamizado pela expansão territorial (segunda diáspora) que aumentou em variedade e quantidade o fluxo das mercadorias. Em linhas gerais: Na medida em que se expandiram às atividades comercial e artesanal, cresceram as polis. Contudo, exceção seja feita ao caso de Esparta. Originada de etnia militarista, Esparta cresceu por meio da expansão territorial (conquista da Messenia), introvertendo-se no aspecto econômico.
· Na Grécia arcaica, o aparecimento da cidade-Estado tornou irreversível a desagregação das comunidades gentílicas. O progressivo crescimento das atividades comercial e artesanal foi acompanhado pelo aumento do uso do braço escravo nas atividades urbanas e na agricultura. A Polis tornou-se o centro da exploração dos escravos e dos camponeses pobres, pois abrangia o núcleo urbano e as áreas adjacentes. A sociedade grega transformou-se em sociedade escravista, composta de duas classes antagônicas: de um lado, a aristocracia proprietária de terras e escravos; de outro, os escravos, que não possuíam direitos. Entre essas duas classes sociais básicas, situavam-se: no campo, pequenos proprietários, geralmente endividados com a aristocracia fundiária; na cidade, os artesãos livres, ameaçados com o predomínio dos escravos nas oficinas, os comerciantes e os armadores, fortalecendo-se com o comércio marítimo. Assim, o declínio das comunidades gentílicas gerou os antagonismos sociais internos.
· Mas as Polis gregas não foram marcadas somente por antagonismos internos. Cada uma delas, consciente de sua soberania, tendia a expandir-se à custa de regiões vizinhas gerando rivalidades externas (entre as Polis). O estado de permanente rivalidade entre as cidades gregas beneficiava os comerciantes de escravos (os militarmente derrotados eram escravizados) e possuía relação com os conflitos sociais internos das cidades porque a crescente escravização impedia o uso produtivo da população excedente.
· Ao longo da antiga História da Grécia, floresceram mais de 160 cidades-Estado. Quase todas elas eram localizadas em colinas, cujo símbolo da autonomia era a Acrópole, templo construído no topo das elevações topográficas onde também se localizavam a residência do Basileu (Rei) e o local de reunião do conselho de aristocratas.
Representação da Acrópole de Atenas
Com o desenvolvimento das trocas comerciais e do artesanato, surgiu a parte baixa da cidade: a Ágora (praça do mercado usada para transações comerciais e reuniões publicas) e, nas cidades litorâneas, o porto (por exemplo, o Pireu, em Atenas), por onde se fazia importação e exportação de mercadorias. Além desses elementos típicos as cidades gregas possuíam teatro, ginásio de esportes e uma fonte que abastecia um reservatório de água.
· As cidades gregas eram, em geral, pequenas, contribuindo para isto alguns elementos: os meios de subsistência eram relativamente escassos para atender a demanda do crescimento demográfico e a concentração fundiária limitava ainda mais a viabilização da sobrevivência para grandes concentrações humanas tanto que, no século VIII a.C., os gregos enfrentaram a “alternativa de morrer de fome ou exportar o excedente da população para além-mar, com o objetivo de tomar posse, pela força militar, de novas terras cultiváveis”. (TOYNBEE, A. J., Helenismo: História de uma civilização. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1969, p.48). Contudo, vale ressaltar, Esparta e Atenas se constituíram como exceções ao padrão dimensional das cidades gregas. Segundo BURNS, “(...) Esparta e Atenas tinham, invariavelmente, a maior extensão e população. No auge de seu poder. Atenas e Esparta, cada qual com uma população de cerca de 400.000 habitantes, contavam com uma força numérica aproximadamente três vezes maior que a da maioria dos Estados vizinhos”. (BURNS, EDWARD McNALL. OP. CIT. P.95).

3c2) Estrutura política de Esparta
Em Esparta, como já se viu, apenas um grupo social participava do poder político. Isso se justificava pela necessidade dos descendentes dos dórios manterem a dominação sobre os demais grupos sociais. Apenas os esparciatas participavam dos órgãos de governo, como pode ser visto no organograma.
(Fonte: FARIA, R. et alli. História. Belo Horizonte: Editora Lê, 1998, p. 32).
Havia dois reis (diarquia), cada um com uma função específica: um para as funções religiosas e outro para as militares. Os dois reis participavam do senado (Gerusia) com mais 28 senadores. A condição básica para integrar o senado era a idade superior a sessenta anos, além, é claro, de pertencer ao grupo dominante. Cabia a Gerúsia a elaboração e aprovação (através do exercício do direito de VETO) das leis espartanas – um poder legistativo, composto por uma minoria que concentrava as decisões principais (Oligarquia – Governo da minoria). O Eforato era um dos órgãos mais importantes. Composto por cinco éforos, eleitos pela Assembléia Popular, para um mandato anual, tinha como funções principais a fiscalização da diarquia, o julgamento de processos e as finanças. A assembléia Popular (Apela) era formada por todos os cidadãos (esparciatas) maiores de trinta anos. Na realidade, a sua função era meramente decorativa, pois apenas referendava os projetos do Senado (Gerusia). Esta estrutura política manteve-se ao longo de toda a historia espartana. O conservadorismo era, portanto, o aspecto mais característico daquela cidade-Estado.
AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS ESPARTANAS
A DIARQUIA - Constituída por dois reis que representavam as duas mais importantes famílias de Esparta – os Agíadas e os Europontidas - e que exerciam funções religiosas e militares.
A GERÚSIA - Conselho composto por 28 anciãos (os “gerontes”) com mais de 60 anos de idade. A esse Conselho competia a elaboração das leis: fundamento do poder político e do ordenamento jurídico de Esparta.
A ÁPELA - Assembléia formada por cidadãos com mais de trinta anos. Tinha como funções eleger os membros da Gerúsia e ratificar suas decisões, além de escolher o conselho dos Éforos (eforato).
O EFORATO OU CONSELHO DOS CINCO ÉFOROS (“VIGILANTES”) - Órgão executivo do governo espartano era formado por cinco cidadãos eleitos anualmente pela Ápela e cuja incumbência era a fiscalização da obediência as leis e da vida econômica dos cidadãos.

3c3) A estrutura política de Atenas
Em Atenas, como nas demais cidades-Estado em que o processo de fundação foi pacífico e que, ao longo do período, participaram ativamente da atividade comercial e colonizadora, ao contrario da Esparta, as instituições políticas alteraram-se profundamente.
Como em praticamente todas as cidades-estado gregas, Atenas conheceu, inicialmente, a forma monárquica de governo. O rei, chamado Basileus, acumulava as funções militares sacerdotais e judiciais. Seu poder era limitado pelo Areópago, conselho de aristocratas.
A aristocracia, formada basicamente por proprietários de terras, terminou por assumir as funções governamentais, instituindo uma verdadeira oligarquia. Esse período ficou conhecido como do Arcontado. Os Arcontes, progressivamente, assumiram os poderes reais. Segundo AQUINO, “No século VIII a.C., a realeza também já se encontrava em dissolução: a obediência ao rei era apenas nominal, por parte dos chefes das famílias nobres ou clãs, reunidos no Areópago. Em meados do século, a realeza cedeu lugar ao regime aristocrático: o Arcontado, composto por nove Arcontes, substituiu o rei nas funções executivas. Os Arcontes, eleitos pela aristocracia territorial que se tornava escravista, tiveram mandato, a principio, com duração de dez anos; depois, de apenas um ano. O principal era o Arconte Epônimo, com funções administrativas; O Arconte Basileus, ficou com as funções religiosas; as funções militares (e jurídicas sobre estrangeiros) couberam ao Arconte Polemarca e os Arcontes Thesmothetas aplicavam a justiça sobre os atenienses que gozavam ou não dos benefícios da cidadania. Através do Areópago, a aristocracia territorial estabelecia as diretrizes de atuação dos magistrados”. (AQUINO, Rubim Santos Leão de. OP. CIT. P.190).
OS ARCONTES: O PODER EXECUTIVO DA ATENAS OLIGÁRQUICA.
ARCONTE POLEMARCA – Responsável pelo poder militar e julgamento dos estrangeiros.
ARCONTE EPÔNIMO – Chefe da administração.
ARCONTE BASILEUS – Chefe da religião.
ARCONTES THESMOTHETAS – juízes encarregados de manter as leis entre os atenienses detentores ou não de cidadania.
Essa foi uma época de sofrimento para a população, em grande parte devido à ausência de leis escritas, o que colocava as pessoas mais humildes totalmente à mercê da vontade dos aristocratas.
Quando a colonização teve início, como já se falou, um grupo numeroso de comerciantes surgiu. Enriquecendo-se rapidamente com a nova atividade, esse grupo passou a questionar o poder dos aristocratas, dando origem a uma serie de lutas sociais. A introdução de reformas produzidas por alguns legisladores fez com que as estruturas políticas caminhassem para a criação da democracia. As primeiras leis nesse sentido foram as de Drácon. Apesar de beneficiarem basicamente a aristocracia, foram significativas, na medida em que eram as primeiras leis escritas da cidade. A reforma draconiana, de cunho repressivo, e o enriquecimento cada vez maior das camadas ligadas ao comércio marítimo aumentaram a tensão social. Em 594 a.C., um aristocrata lúcido, Sólon, ciente de que seria melhor “ceder os anéis para não perder os dedos”, elaborou uma nova legislação. Os principais aspectos das reformas de Sólon foram:
AS REFORMAS DE SÓLON
Amenização da severidade das leis draconianas.
Extinção da escravidão por dívidas.
Devolução das terras aos antigos proprietários que as tinham perdido para seus credores.
Fixação de limites para a extensão das propriedades agrárias.
Admissão dos Thetas (trabalhadores livres não-proprietários de terras) na Eclésia (assembléia popular).
Criação do Helieu (tribunal de justiça que permitia a participação de todos os cidadãos).
As magistraturas passariam a ser exercidas por todos os cidadãos de Atenas.
O fundamento judiciário da legislação de Sólon foi o conceito de Isonomia: a igualdade de todos perante a lei. Do ponto de vista sócio-político, a reforma de Sólon criou uma República Censitária, cuja hierarquia era definida pelos rendimentos.
AS CLASSES SOCIAIS DA REPÚBLICA CENSITÁRIA
PENTACOSIMEDINAS - Setor social que atingia a renda de 500 Dracmas (moeda grega) anuais.
CAVALEIROS - Os que auferiam renda entre 300 e 500 Dracmas por ano.
ZEUGITAS - Os que tivessem rendimentos entre 200 e 300 Dracmas ao ano.
THETAS - Os detentores de renda inferior a 200 Dracmas anuais.
Agora, todos os segmentos sociais poderiam participar da Eclésia (Assembléia Popular) e do Helieu (Tribunal Popular), mas somente as três classes superiores participavam da Bulé (Conselho dos 400), responsável pela elaboração das leis a serem votadas da Eclésia. Na prática, contudo, só os indivíduos mais ricos poderiam exercer as funções dos magistrados – Arcontes -, pois estas exigiam dedicação exclusiva sem qualquer remuneração.
As INSTITUIÇÕES DE ATENAS (REFORMAS DE SÓLON).
ARCONTADO – Composto somente pelos eupátridas e comerciantes mais ricos, exercia o poder executivo.
AREÓPAGO – Com a mesma composição social do Arcontado, tinha a função de fiscalizar o poder executivo.
BULÉ (CONSELHO DOS 400) – Formado por eupátridas, cavaleiros e zeugitas, exercia o poder legislativo de Atenas. Poderia vetar decisões da Eclésia.
HELIEU – Tribunal de justiça que poderia ser integrado por todos os segmentos.
ECLÉSIA – Assembléia popular. Exercia o poder de voto para as magistraturas e projetos de lei que eram elaborados pelo Bulé (Embora ao thetas pudessem participar desse órgão, não tinham como interferir na organização dos trabalhos, não podiam propor leis e pouco participavam porque necessitavam trabalhar em tempo integral para sobreviver).
Inegavelmente, as reformas de Sólon ampliaram a faixa de participação política dos cidadãos ligados às atividades mercantis e atenderam, parcialmente, aos reclamos dos setores populares. Essas mudanças, entretanto, desagradaram a aristocracia e não foram aceitas pelas camadas populares menos privilegiadas que desejavam reformas mais radicais. O grande fator da tensão social permanecia: a questão da estrutura da propriedade fundiária e a divisão do poder político. “Embora beneficiasse as camadas intermediárias de comerciantes, de armadores e de proprietários de oficinas artesanais, a cujos interesses estava ligado Sólon, a nova constituição política de Atenas ainda consagrava a importância política das antigas tribos, base do poder da aristocracia de nascimento. Além disso, foram mantidas as grandes propriedades dos eupátridas, embora a massa da população reclamasse a redistribuição das terras. Conseguindo desagradar aos eupátridas, que tiveram de fazer grandes concessões, e descontentando a maioria dos cidadãos, por lhes ter dado pouco, as reformas de Sólon acirraram as lutas de classes em Atenas, favorecendo o advento da tirania.”. (AQUINO, Rubim Santos Leão de. OP. CIT. 193).
Apesar do descontentamento proveniente dessas camadas sociais, não há como negar que, após as reformas de Sólon, Atenas conheceu um período de relativa paz social, fato esse que permitiu o desenvolvimento de uma política imperialista, cuja primeira manifestação concreta foi a guerra contra Mégara, disputando a baía de Salamina. Nessas batalhas, Pisístrato, grande general, foi importante. Simultaneamente aos conflitos expansionistas, Atenas conheceu a formação de três grandes partidos:

OS PARTIDO POLÍTICO NO FIM DO PERÍODO OLIGÁRQUICO
PARTIDO PEDIANO (planície) – Representante dos interesses dos Eupátridas, defendia posições conservadoras, a manutenção do controle político nas mãos dos círculos aristocráticos.
PARTIDO PARALIANO (litoral) – Satisfeitos com as reformas de Sólon, os comerciantes ricos defendiam um encaminhamento mais estável a situação política através da ampliação da sua participação na ocupação dos altos cargos públicos.
PARTIDO DIACRIANO (montanha) – Representando o interesse de thetas e georgóis, advogavam reformas profundas de cunho econômico, social e político.
Renascia, após um momentâneo período de tranqüilidade social, o conflito político de classes. Em 561 a.C., com ampla base de apoio popular e do exército, Pisístrato tomou o poder em Atenas estabelecendo a Tirania (ditadura).

A tirania
Na antiga Grécia, o termo tirano não tinha a conotação pejorativa que adquiriu nos dias de hoje: significava a tomada do poder pela força. O regime político instaurado em Atenas por Pisístrato caracterizava-se pelo poder pessoal do governante, que apoiado pelos grupos populares (Georgóis e Thetas) e pelas tropas, tomou o poder através de um golpe de Estado. Pode-se dizer que Pisístrato, que governou de 561 a 528 a.C., foi um tirano popular. O caráter progressista de seu governo lhe confere a condição de período de transição para a democracia.
De fato, seu governo foi extremamente importante para a cidade – Além de não extinguir a estrutura político-administrativa estabelecida por Sólon, o tirano realizou reformas de cunho sócio-econômico que tiveram importantes repercussões políticas. Dentre as realizações de Pisístrato, podemos destacar:
AS REALIZAÇÕES DE PISÍSTRATO
O enfraquecimento da aristocracia, através do confisco de parte substantiva de suas terras e a conseqüente redistribuição dessas áreas para os cidadãos mais pobres. Para os mais pobres, implantou um sistema estatal de crédito, que assim não necessitavam mais recorrer aos empréstimos dos eupátridas.
A montagem de uma poderosa frota naval, com o objetivo de estabelecer a hegemonia ateniense no mediterrâneo oriental e consolidar sua posição de potencia comercial.
A realização de inúmeras obras públicas (estaleiros, aquedutos, canais e templos) que criaram empregos para uma multidão de pobres e embelezaram a cidade.
Apoio a cultura. Atenas tornou-se centro da cultura grega, atraindo artistas e poetas em evidencia na Grécia.
Com suas reformas, Pisístrato além de consolidar o apoio das camadas populares, conseguiu atrair os comerciantes que se beneficiaram da dinamização que o comércio vivenciou em seu governo. Atenas, de cidade rural, foi transformada em potencia comercial e centro cultural. O comércio, o artesanato e os ofícios artísticos, praticados em escala cada vez maior, graças ao trabalho dos escravos, tornaram-se ramos predominantes na atividade produtiva. Assim, “O poder das famílias aristocráticas foi enfraquecido porque, em parte, a maioria delas foi banida e sua terra distribuída entre os cidadãos pobres, e, em parte, porque perderam totalmente a sua influencia e começaram a declinar, preparando o caminho para as instituições democrática do futuro. Quando a tirania caiu e foi preciso reconstruir a vida política, esta não foi baseada em uma aristocracia enfraquecida e desacreditada (somente em curtíssimo período), mas em uma democracia forte e consciente de sua força”. (ROSTOVTZEFF, M. História da Grécia. São Paulo, ZAHAR editores, 1991, pp. 106-107).
Com a morte de Pisístrato, seus filhos Hiparco e Hípias o sucederam no pode como péssimos tiranos. Pouco após a sucessão, uma conspiração aristocrática assassinou Hiparco, provocando a adoção de uma política intensamente repressiva por parte de Hípias. Essa atuação de Hípias causou uma progressiva perda de suas bases sociais de sustentação política, fato que acabou criando as condições necessárias para um movimento insurrecional que derrubou a tirania popular. Nesse contexto, quando se acentuava a guerra civil, assumiu o poder o eupátrida Hiságoras, buscando restabelecer o domínio oligárquico e dando início a uma grande perseguição aos líderes populares. A revolta foi geral: Hiságoras, num primeiro momento, tentou se aliar a Esparta. Os espartanos, por um curto período de tempo, chegaram a ocupar Atenas, mas logo foram expulsos. Todos esses fatos contribuíram para legitimar a ascensão política de Clístenes, o legislador da Democracia.

A democracia escravista ateniense
As reformas de Clístenes
O fundador da democracia em Atenas foi Clístenes. Suas reformas foram no sentido de divisão da Ática em cem províncias denominadas demos:
OS DEMOS DA ATENAS DEMOCRÁTICA
DEMOS DA CIDADE DE ATENAS - Agrupava os indivíduos dedicados as atividades de comércio e artesanato, além dos trabalhadores urbanos.
DEMOS DO LITORAL - Congregava pescadores e navegantes.
DEMOS DO INTERIOR - Reunia os grandes e pequenos proprietários rurais.
Cada grupo de dez demos formava uma tribo (com representantes dos três tipos de demos); o Conselho dos Quatrocentos foi transformado em Conselho dos Quinhentos, sendo que cada tribo fornecia cinqüenta representantes.
Ao mesmo tempo, foi realizada a reforma das instituições políticas:
A DEMOCRACIA DE ATENAS (REFORMAS INSTITUCIONAIS DE CLÍSTENES)
ARCONTADO – Passou a exercer apenas funções de natureza honorífica.
AREÓPAGO – Passou a exercer apenas o papel de tribunal religioso.
BULÉ (CONSELHO DOS 500) – Foi ampliado para 500 membros eleitos a razão de 50 membros por tribo. Sua principal função era preparar os projetos de lei que seriam votados irrevogavelmente pela Eclésia.
HELIEU – Transformou-se no supremo órgão judiciário e seus membros eram escolhidos por sorteio.
ECLÉSIA – A Assembléia popular. Foi transformada no supremo órgão de decisões em Atenas. Dela faziam parte todos os cidadãos de Atenas, ou seja, aqueles que fossem registrado no demos de origem, fossem filhos de pai ateniense e maiores de 18 anos. Da assembléia eram excluídos os estrangeiros, as mulheres e os escravos.
ESTRÁTEGOS (10) – Chefes militares eleitos anualmente pelas tribos.
INSTITUIÇÃO DO OSTRACISMO – Espécie de medida defensiva do Estado contra o ressurgimento dos regimes anteriores. Consistia no banimento, perda dos direitos políticos e confisco temporários de bens (por um período de 10 anos) de qualquer cidadão cuja atuação política fosse considerada uma ameaça a democracia. O ostracismo era votado, exclusivamente, na assembléia.
Pode-se dizer que Clístenes ampliou e aprofundou as reformas de Sólon, democratizando o sistema. Aos comerciantes, interessados em dirigir politicamente Atenas, era fundamental ampliar a sua base eleitoral que era conquistada voto a voto. Contudo. “A massa da população permaneceu miserável e os cidadãos que dela se originavam exerciam seu direito ao voto mediante compromissos com os que tinham posses. Como estes eram, agora, majoritariamente comerciantes, o exercício do poder político foi consolidado nas mãos dessa classe”. (ROSTOVTZEFF, M. OP. CIT. P. 121).
A democracia ateniense era uma democracia escravista e excludente: o trabalho escravo era a base da vida econômica da sociedade, e os escravos constituíam, senão a maioria, pelo menos uma parcela significativa da população da Ática. Os escravos não tinham qualquer direito político. Os estrangeiros, em geral comerciantes, só possuíam direitos civis e estavam excluídos da vida política. Já as mulheres não possuíam direitos políticos e tinham seus direitos limitados pelo pai ou pelo marido. “Nestas condições, a democracia ateniense, quando confrontada com as nossas modernas democracia, surge como uma oligarquia de fato, simplesmente menos restrita que uma oligarquia de direito. Mas as concepções modernas não nos fornecem uma medida adequada. Sua inadaptação, salta aos olhos no que diz respeito a escravidão, que todas as sociedades antigas admitiram como uma necessidade natural, uma realidade fundamental. Por definição, o cidadão deve gozar de sua liberdade pessoal: como imaginar-se o escravo tornando-se politicamente igual àquele que continuaria a ser seu senhor e como evitar esta monstruosidade (a escravidão) sem prejudicar a organização social?”. (AYMARD, A. e AUBOYER, J. O oriente e a Grécia antiga. In História geral das civilizações, Tomo I, 1º volume, São Paulo, DIFEL, 1955, p.124).
Em Atenas, a democracia era direta e não representativa. Noutros termos, as decisões políticas não eram tomadas por delegados ou representantes do povo, mas sim pelos cidadãos reunidos no Ágora (praça). Deve-se lembrar que, ao contrário do que ocorre nas atuais democracias ocidentais marcadas pelo conceito de “direitos dos cidadãos”, a democracia ateniense consistia no dever da participação de todos na vida política. Em síntese: hoje, os indivíduos reclamam seus direitos; na Atenas democrática, o indivíduo era obrigado a opinar sobre os assuntos da Polis. Daí o termo Política: a arte de bem conduzir a administração da cidade. As reformas realizadas por Clístenes reduziram os níveis de tensão social e contestação política anteriormente existentes.
(Fonte: FARIA, R. et alli. História. Belo Horizonte: Editora Lê, 1998, p. 34).

3d) O período clássico da História Grega (Séculos V e IV a.C.).
Do ponto de vista político interno, o período clássico de Atenas foi marcado pelo apogeu da democracia, em parte devido a liderança de Péricles, cujo governo – no século V a.C. – foi denominado de o “século de ouro”. Durante sua gestão (461 a 429 a.C.), o regime democrático ateniense baseou-se em dois princípios fundamentais: o da isonomia (normas iguais), que propunha a igualdade de todos perante a lei, e o da isocracia (poderes iguais), que consistia no direito da participação de todos os cidadãos nas decisões políticas. Como abordamos no capitulo anterior, a democracia ateniense era direta, enquanto hoje, nas sociedades ocidentais, prevalece a democracia exercida através de representantes. No tempo de Péricles, os cidadãos se reuniam na Ágora (praça) para conduzir os assuntos da Polis. O governo era, dessa maneira, “do cidadão e pelo cidadão”. As assembléias populares eram comícios ao ar livre que agrupavam todos os cidadãos masculinos maiores de 18 anos.
Péricles representava os interesses de amplas camadas do povo ateniense: comerciantes, artesãos, pequenos proprietários e grandes cultivadores de vinha e oliveira, cujos produtos destinavam-se ao comercio externo. Como líder do partido democrático ou popular, procurou realizar uma política que atendesse as reivindicações das camadas mais populares da sociedade. Nesse sentido foi empreendida uma serie de reformas que não alteraram o caráter de classe da sociedade: a democracia escravista saiu fortalecida. Essas reformas foram progressistas, na medida em que concederam maior espaço de ação política as camadas populares. “Durante seu governo instituiu-se a mistoforia, ou seja, a remuneração pelo desempenho de cargos públicos; além disso, soldados e marinheiros passaram a receber salários. Com vistas a assegurar a participação democrática de todos os cidadãos na vida publica, todos os funcionários (magistrados e outros), a exceção dos estrátegos, eram escolhidos por sorteio. Nessa época, o poder executivo era exercido de fato pelos estratégos e, entre eles, se sobressaía a figura de Péricles”. (AQUINO, Rubim Santos Leão de. OP. CIT. P. 200).
As decisões tomadas na Eclésia, representavam a palavra final nos tratados, na economia, no ordenamento jurídico, nas obras públicas, na paz e na guerra, em suma, em todas as atividades administrativas. As assembléias eram cotidianas e todos tinham o direito de fazer uso da palavra. Assim, a oratória tornou-se indispensável para o convencimento das massas. Se a Ágora era o espaço geográfico do poder, nele imperava o Logos (a palavra). A democracia ateniense, dessa maneira, gerou os demagogos (“demos”: povo; “gogos”: condutor), líderes que buscavam persuadir e seduzir politicamente a população. Os demagogos tinham como mestres os sofistas, os primeiros professores pagos na história da humanidade. A sofística, escola filosófica nascida em Atenas, defendia o relativismo do conhecimento: a verdade é aquilo que é útil para tomada e manutenção do poder.
Protágoras, o maior dos sofistas, resume essa postura ao afirmar que “o homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”. Esse pragmatismo, aparentemente nocivo ao saber filosófico, tem a virtude política de defender a sociedade democrática, na qual prevalece a pluralidade de opiniões. De fato, a crença numa verdade absoluta sempre traz consigo a proposta de um Estado autoritário que imponha essa verdade.
A democracia ateniense, calcada na ação de todos, impossibilitava a criação de estruturas partidárias elitistas e concentradoras da autoridade. Outro fato importante do regime democrático de Atenas era a inexistência de grandes quadros burocráticos: poucos eram os funcionários públicos, limitados a alguns escriturários. Dessa forma, impedia-se a burocratização da sociedade com seu inevitável tráfego de influências. Foi o próprio Péricles, governante do auge da democracia ateniense, quem melhor ressaltou as virtudes do sistema: “Nossa constituição é chamada de democracia porque o poder está nas mãos não de uma minoria, mas de todo o povo. Quando se trata de resolver questões privadas, todos são iguais perante a lei, quando se trata de colocar uma pessoa diante de outra em posição de responsabilidade pública, o que vale não é o fato de pertencer a determinada classe, mas a competência real que o homem possui”. (Péricles).
No auge da democracia ateniense, a estrutura administrativa da cidade-estado de Atenas pode ser observada a partir do organograma abaixo:
Do ponto de vista econômico, a época clássica, se poucas alterações provocou na produção agropecuária, foi caracterizada pela expansão da produção artesanal e pelo incremento do comércio interno e externo.
Em Atenas, os bens eram vendidos, pelos produtores, diretamente aos consumidores e uma poderosa classe mercantil dedicava-se as importações e exportações. Como não podia deixar de ocorrer, o progresso mercantil provocou a ampliação da economia monetária. As dracmas (moeda grega) passaram a circular da Ásia Menor ao Mediterrâneo, onde as colônias forneciam cereais à Grécia e dela importavam manufaturas, azeite e vinho.
Todo esse crescimento econômico só foi possível devido a ampla utilização da mão-de-obra escrava, que trabalhava em todos os setores da produção em troca de moradia e alimentação. Além disso, serviam como mercadoria no comercio de Atenas com o mundo grego. Se para os cidadãos havia profundo respeito em relação a liberdade individual – dentro dos limites impostos pela lei -, para a imensa massa escrava, que constituía a maioria da população da Ática, não existia qualquer respeito as liberdades e direitos humanos. Alguns ideólogos da época procuraram até justificar a escravidão.
“(...) As propriedades são uma reunião de instrumentos e o escravo é uma propriedade instrumental animada (...) Se cada instrumento pudesse executar por si próprio a vontade e o pensamento do dono (...) os senhores não tinham necessidade de escravos (...).
Todos aqueles que nada tem de melhor para nos oferecer que o uso do seu corpo e dos seus membros são condenados pela natureza a escravidão. É melhor para eles servir que serem abandonados a si próprios. Numa palavra, é naturalmente escravo quem tem tão pouca alma e tão poucos meios que deve resolver-se a depender de outrem (...) o uso dos escravos e dos animais é aproximadamente o mesmo (...) a escravidão é justa.”. (ARISTÓTELES. A política. Cia. Editora Espasa, Calpe, Buenos Aires, 1972, págs. 30 e 32.).
A época clássica, apogeu da civilização grega, teve como característica fundamental a eclosão de duas grandes guerras: a primeira – denominada de Guerras Médicas – foi o confronto entre Atenas, liderando outras cidades gregas, contra os persas; a segunda consistiu num conflito interno – as Guerras do Peloponeso -, que foram travadas entre Atenas e Esparta.

As guerras médicas
No século VI a.C., as cidades gregas da Anatólia (Ásia Menor), assim como as da Magna Grécia (sul da Itália e Ilha da Sicília) apresentavam maior desenvolvimento econômico e cultural que as da própria Grécia. Destaque maior deve ser dado às principais Polis da Anatólia: Mileto, Éfeso, Samos e Lesbos, que eram, sem dúvida, os principais centros irradiadores da civilização helênica. O Reino da Lídia fazia fronteira com as cidades gregas da Anatólia e mantinha intensas relações comerciais com elas. Graças a esses contatos, a Lídia assimilou os padrões culturais da civilização helênica; em contrapartida, os lídios foram estabelecendo uma efetiva hegemonia política sobre toda a região da Anatólia. Esse domínio lídio é facilmente compreensível se levarmos em conta, não só a inexistência de uma unidade política entre as Polis gregas da área, como também as intensas rivalidades entre elas.
Em 548 a.C., Ciro, rei persa que levava adiante uma política imperialista, subjugou a Lídia e, por conseqüência, estabeleceu seu domínio político sobre a Anatólia. A presença persa não alterou, substancialmente, a vida da Anatólia; entretanto, mudou radicalmente os objetivos imperialistas persas, que passaram a participar do comércio mediterrâneo. A intromissão persa na área gerou, nas consciências dos líderes persas, a ambição de dominar a Península Balcânica. Esse objetivo era favorecido pela fragmentação política da Grécia e pelas freqüentes e intensas rivalidades entre suas Cidades-Estados. Dessa maneira, entre os séculos VI e V a.C., a expansão do Império Persa que já envolvera as colônias gregas da Ásia Menor, passou a ameaçar a própria Grécia Continental.
Entre 499 e 494 a.C., as cidades gregas da Anatólia, apoiadas por Atenas, revoltaram-se contra o domínio persa. “A revolta jônica (499-494 a.C.) Levou uma intervenção sobretudo simbólica de Atenas, em resposta ao pedido de ajuda; foram fornecidos vinte barcos e cinco outros de Eretria. Dario conseguiu debelar a revolta, e a frota grega foi vencida em uma batalha ao largo da ilha de Lade, em 494 a.C. Mileto foi tomada e saqueada pelos persas, que consolidaram seu domínio sobre as cidades jônica orientais. Em seguida, o monarca persa decidiu castigar Atenas e Eretria por terem apoiado a revolta, e enviou uma frota punitiva comandada por Mardonius, mas a expedição persa foi devastada por uma tempestade perto do monte Athos, obrigando mardonius a recuar.”. (JAGUARIBE, H. OP. CIT. P. .291).
Contudo, na seqüência, os persas conquistaram a Trácia e a Macedônia, cujo governo foi entregue, por Dario I, a Mardonius. As novas possessões serviriam de base de apoio para eventuais incursões no território grego. Estava montado o cenário da Primeira Guerra Médica: momento inicial de um conflito entre os imperialismos persa e ateniense em disputa pela Jônia, situada no litoral da Ásia Menor.
Montagem do cenário das Guerras Médicas.
1. Presença econômica e cultural grega na Anatólia.
2. Amplas relações comerciais e culturais entre as cidades gregas da Anatólia e o Reino da Lídia.
3. Helenização cultural da Lídia, que anexa político-militarmente a Anatólia.
4. A tomada da Lídia pelos persas, que estabelecem como objetivo o domínio da Península Balcânica, ameaçando a Grécia Continental.
5. Atenas, interessada em barrar os persas,apóia levantes das cidades gregas da Anatólia contra o dominador persa.
6. A retaliação dos persas é a conquista de áreas próximas a Atenas: a Macedônia e a Trácia, bases militares para o ataque ao território grego.

A primeira Guerra Médica
Em 490 a.C. os persas, sob o comando de Mardonius Artafernes e com o apoio de Hípias, tirano deposto em Atenas, iniciaram a invasão do sul da Grécia, fixando como objetivo primordial a conquista da Ática. Após a queda de Eretria, diante da iminente ameaça que recaia sobre a Ática, Miltíades, um dos dez estrátegos atenienses, propôs o enfrentamento com os persas em Maratona e obteve o comando no dia da batalha. Os persas tinham uma infantaria de 25 mil homens e uma temida cavalaria de mil homens enquanto que os atenienses contavam com apenas 15 mil hoplitas. Aproveitando uma ausência momentânea de cavalaria, Miltíades ordenou um ataque frontal dos hoplitas e obteve uma vitória esmagadora – os persas perderam 6.400 homens e os atenienses apenas 192. Os gregos, graças à vitória em Maratona, conseguiram rechaçar essa primeira tentativa de conquista empreendida pelos persas. Por dez anos, o Império Persa conheceu severos problemas internos: levantes no Egito e a morte de Dario I, criando um problema sucessório. Por essa razão, os gregos conheceram um período de trégua que possibilitou o aprimoramento do aparato militar.
Após a repressão da revolta egípcia e a escolha de Xerxes, filho de Dario, para sucedê-lo no trono, os persas organizaram uma segunda expedição que contava com aproximadamente 180 mil homens e uma frota naval de 730 barcos (JAGUARIBE, OP.CIT, P. 292) e que tinha como objetivo final a conquista dos Bálcãs. Os gregos, por sua vez, começaram a organizar a sua defesa formando uma liga de cidades, cujos representantes se reuniram em Corinto no ano 481 a.C., sob a presidência de Esparta. Mas o esforço para montar uma força pan-helênica não teve um êxito incontestável. A maioria das cidades do noroeste, os Aqueus do Peloponeso e Creta não se juntaram à liga. Os corcirianos prometeram ajudar, mas seus sessenta barcos não ultrapassaram o cabo Malea. Assim, o total das forças de defesa não ultrapassavam metade das forças atacantes.
A segunda Guerra Médica
Em 480 a.C., teve início a nova campanha persa contra os gregos, dessa vez sob a liderança de Xerxes. De imediato, a região de Tessália foi tomada, tendo início o avanço em direção a Atenas. Simultaneamente, a poderosa esquadra persa atravessou o Mar Egeu com objetivo de desembarcar tropas ao sul da Península Balcânica. A intenção de Xerxes era cercar Atenas, como primeiro passo para destruí-la. Esse projeto, no entanto, não ameaçava apenas a polis ateniense, pois os persas ameaçavam conquistar as cidades gregas que não os recebessem como aliados. Dessa forma, Esparta e cidades sob sua influencia, que preventivamente haviam participado da montagem da liga defensiva em 481 a.C., acabaram entrando diretamente no conflito ao lado de Atenas e contra os persas. Visando retardar a ofensiva inimiga, forças espartanas, encabeçadas pelo Rei Leônidas, foram enviadas para o desfiladeiro das Termópilas. Lá, 300 soldados de Esparta (com o apoio de cerca de 1000 Fócios e 300 Téspios) enfrentaram heroicamente milhares de persas. Relata-se que um general ateniense, ciente de que a derrota grega era inevitável em função do grande número de persas, disse a Leônidas: “não podemos vencer, pois os persas são tantos que suas lanças cobrirão o sol”. O comandante espartano respondeu: “melhor, lutaremos à sombra” (existem outras versões para esse diálogo). Até hoje, nas Termópilas, existe uma inscrição que reza: “um general espartano sabe morrer”. Apesar da tenaz resistência grega, os persas, obviamente, saíram vitoriosos, rumando para Atenas, que foi incendiada enquanto sua população fugia para a Baía de Salamina. Os atenienses, contudo, prepararam uma poderosa esquadra barcos leves, com o objetivo de evitar o desembarque persa: trava-se a batalha naval de Salamina. Sob o comando de Temístocles, os pequenos e rápidos navios gregos atraíram os pesados navios persas para as águas rasas da Baía, afundando-os. A derrota persa significou a hegemonia naval grega. Agora, as tropas médicas no continente grego, desprovidas de suprimentos, ficaram isoladas na região da Beócia.
Em 479 a.C., os persas tentaram uma derradeira investida, sendo derrotados pelos espartanos, sob o comando de Pausânias, na batalha de Platéia e pelos atenienses na região de Mícala. Diante dessas duas derrotas, os persas tiveram de desistir definitivamente da conquista da Grécia, já que seus exércitos e sua esquadra foram quase que totalmente destruídos.

A Confederação de Delos (467 – 449 A.C.)
No final da guerra, Atenas era a Cidade-Estado em melhores condições para exercer a hegemonia entre os gregos. Além de possuir a maior frota naval do Mar Egeu e um poderoso exército, Atenas, após as reformas de Clístenes, vivia uma relativa paz social e, em razão dos sucessos nas Guerras Médicas, seu sentimento nacional estava vivo e forte. Para as cidades gregas da Anatólia e da Ilhas do Egeu, era vital a continuidade das lutas contra o Império Persa. Assim, não foi difícil para Atenas, acatando a sugestão do general Aristides, propor e conseguir a formação de uma união militar permanente entre as cidades gregas – a Confederação de Delos (Em outros termos, dar um caráter permanente a antiga liga defensiva). Essa agregava todas as cidades circundantes do Egeu e Anatólia sob a liderança de Atenas, mas não contava com Esparta. Cada Polis dela participante devia contribuir com tropas, navios e dinheiro, com o objetivo de recrutar tropas e equipar a marinha. Todos esses recursos seriam depositados na Ilha de Delos, sede da Confederação.
Por ser a mais rica dentre as Cidades-Estados gregas, Atenas passou a utilizar a Confederação de Delos para impor sua hegemonia. Os gregos, fortalecidos pela reunião de várias Polis, venceram os persas sob o comando do ateniense Címon e impuseram a Paz de Calias (449 A.C.), que reconhecia a hegemonia grega no Mar Egeu.

O imperialismo ateniense
Em conseqüência das Guerras Médicas e através da Liga de Delos, Atenas passou a ser a potência política, militar e economicamente dominante em todo o Mediterrâneo Oriental. Essa situação acelerou o ritmo do desenvolvimento mercantil em Atenas, provocando o crescimento de sua população pela chegada de inúmeros metecos (estrangeiros) e pela ampla difusão do trabalho escravo. Noutros termos, a Liga de Delos, inicialmente criada para enfrentar os persas, agora se transformava no instrumento do imperialismo ateniense. Muitas cidades gregas, vítimas da opressão ateniense, procuraram retirar-se da Confederação: levantes e mais levantes contra Atenas proliferaram em solo grego, sendo cruelmente abafados. Essa vocação imperial de Atenas começou a inquietar Esparta. “(...) Celebrada a paz, a liga não foi dissolvida, pois muitos gregos temiam que os persas voltassem. Com o correr dos tempos, Atenas paulatinamente transformou-a em um império naval para a promoção dos seus próprios interesses. Usou parte dos fundos do tesouro para fins particulares seus. Tentou reduzir todos os outros membros a condição de vassalos e, quando um deles se rebelava, dominava-o pela força, apoderava-se de sua esquadra e impunha-lhe tributos como se fosse um pais conquistado. Tais métodos arrogantes despertaram as suspeitas dos espartanos, que temiam que a hegemonia ateniense em breve viesse a estender-se sobre toda a Grécia.”. (BURNS, EDWARD McNALL. OP. CIT. P.102).
Internamente, Atenas, graças aos recursos obtidos por intermédio da Confederação de Delos, atingiu o apogeu. Ao longo do governo de Péricles, as artes se desenvolveram, muralhas defensivas foram construídas no Porto do Pireu e multiplicaram-se as obras públicas.
As ambições imperiais de Atenas, a crueldade de sua dominação e os pesados tributos impostos às cidades agrupadas na Liga de Delos provocariam um conflito interno: as Guerras do Peloponeso.

As Guerras do Peloponeso
A hegemonia ateniense sobre a Grécia negava a concepção política do particularismo das Cidades-Estados. A idéia de nacionalidade, para os antigos gregos, estava ligada à sua Polis de origem e não ao conceito de nação. Em suma: a ação centralizadora de Atenas opunha-se à noção de Polis. Os desejos imperiais de Atenas enfrentavam forte oposição por parte das principais cidades-estados da Grécia, principalmente no que dizia respeito à Esparta e suas aliadas, que formaram a Liga do Peloponeso, para combater a Confederação de Delos.

“Uma segunda causa pode ser encontrada nas diferenças sociais e culturais entre Atenas e Esparta. Atenas era democrática, progressista urbana, imperialista e avançada intelectual e artisticamente. Esparta era aristocrática, conservadora, agrária, provinciana e culturalmente atrasada. Onde esses sistemas contrastantes coexistem lado a lado, e quase impossível impedir conflitos. Entre atenienses e espartanos já reinava, desde algum tempo, uma atitude de hostilidade. Os primeiros consideravam os segundos bárbaros rudes. Os espartanos acusavam os atenienses de tentarem exercer domínio sobre os Estados ao norte do Peloponeso e de encorajar os hilotas a rebelião. Fatores econômicos também desempenharam papel importante na eclosão do conflito. Os atenienses ambicionavam dominar o golfo de Corinto, a principal rota de comércio com a Sicília e o sul da Itália. Isso tornava Atenas inimiga mortal de Corinto, o principal aliado de Esparta.”. (BURNS, OP.CIT, P.192)
O apoio ateniense ao levante de Córcira, colônia de Corinto, foi o estopim para que toda a Confederação do Peloponeso entrasse em guerra com Atenas. Em 431 a.C., tinha início a Guerra do Peloponeso, que duraria 28 anos.
Na primeira fase do conflito, de 431 a 421 a.C., houve um relativo equilíbrio entre atenienses e espartanos. Nesse período, Esparta e seus aliados bloquearam, por terra, a Ática, forçando Atenas a buscar suprimentos por mar, principalmente na Ásia Menor. Tal bloqueio fez com que a população da Ática fosse concentrada no interior dos muros de Atenas. Isso, além de dificultar o abastecimento dos atenienses, piorou as condições sanitárias de Atenas, propiciando a ocorrência de várias epidemias que vitimaram grandes contingentes humanos, inclusive Péricles.
Em 421 a.C., foi assinada a Paz de Nícias, que deveria ser mantida por 50 anos. Entretanto, Atenas retomou sua política imperialista e elaborou planos para atacar Siracusa. Tal proposta, concebida pelo general Alcebíades, enfrentou feroz oposição dos aristocratas de Atenas, simpáticos à causa espartana. Irritado, Alcebíades refugiou-se em Esparta, onde delatou os planos atenienses que, por essa razão, fracassaram. Em represália, Esparta desfechou uma poderosa ofensiva que, após impor inúmeras derrotas à Atenas, culminou, em 404 a.C., com a vitória definitiva de Esparta na batalha de Égos - Pótamus. “Os termos impostos aos atenienses foram bastante duros: destruição de suas fortificações, entrega de todas as possessões estrangeiras, e praticamente toda a marinha, e submissão a Esparta como Estado dependente. Embora Atenas recuperasse por algum tempo, sua primazia no século IV a.C., seu período de gloria já chegava ao fim.”. (BURNS, OP.CIT, P.193)
A derrota de Atenas significou o início da hegemonia espartana sobre a Grécia. Em primeiro lugar, as elites espartanas destruíram a democracia ateniense, impondo o regime dos 30 tiranos; além disso, Esparta buscou estabelecer seu império através de uma crescente intervenção nos assuntos internos das outras cidades-estados. O expansionismo espartano, cuja ambição agora era controlar o comércio do mediterrâneo oriental, levou a novos choques com o Império Persa. Pouco a pouco, Esparta conheceu uma desestabilização interna. O crescimento do número de seus escravos, sempre dispostos a levantes, provocou novas necessidades militares destinadas a preservar a dominação política dos esparciatas. Na Anatólia, o recuo dos espartanos possibilitou a retomada da região pelo Império Persa. O enfraquecimento de Esparta fez com que Atenas e Tebas se aliassem, buscando aniquilar a hegemonia então exercida pelos militaristas espartanos. Em 371 a.C., na batalha de Leuctras, os tebanos, comandados por Pelópidas e Epaminondas, expulsaram as tropas espartanas da Grécia Setentrional. Logo em seguida, a cidade de Tebas apoiou a independência da Messênia em relação à Esparta e conquistou a Tessália. Tinha início à curta hegemonia tebana sobre a Grécia. Em 362 a.C., Atenas e Esparta aliaram-se e derrotaram Tebas.
As lutas internas desorganizaram o mundo grego: nenhuma Polis tinha mais condições de impor sua hegemonia a Grécia, que foi vítima de um “vazio de poder”. Como bem observam os analistas das relações internacionais, a política detesta o “vazio”, pois sempre alguma nação vai ocupá-lo. Era chegada a vez dos macedônios.
“A guerra do Peloponeso não só pos fim a supremacia de Atenas, como destruiu a liberdade de todo o mundo grego e assinalou a ruína do gênio político helênico. Depois da guerra, Esparta consolidou o seu poder em toda a Grécia. Oligarquias garantidas por tropas espartanas substituíram as democracias onde quer que existam. O confisco de propriedades e o assassínio eram os métodos comumente empregados para combater a oposição. Embora em Atenas, depois de certo tempo, fossem destituídos os tiranos e restaurado o governo livre, Esparta pode dominar o resto da Grécia por mais de trinta anos. Em 371 a.C., entretanto, Epaminondas de Tebas, destroçou o exército espartano em Leuctras, iniciando assim um período de supremacia tebana. Infelizmente, Tebas mostrou-se pouco mais sábia e tolerante no governo do que Esparta, e nove anos depois foi liderada uma nova coligação para libertar as cidades gregas de seu novo opressor. Não conseguindo dissolver a aliança, os tebanos deram-lhe batalha no campo de Martinéia. Ambos os lados proclamaram vitória, mas Epaminondas foi morto e, logo depois, seu Império eclipsou-se.
A longa serie de guerras tinha levado os estados gregos à exaustão. Embora permanecesse ainda intacta a sua cultura, politicamente estavam prostrados e indefesos. Seu destino foi em breve decidido pelo surgimento de Felipe da Macedônia. Exceto quanto a um ligeiro verniz de cultura helênica, os macedônios eram bárbaros, mas Felipe, antes de se tornar seu Rei, aprendera a comandar um exercito no tempo em que fora refém entre os tebanos. Percebendo a fraqueza dos Estados do Sul, resolveu conquista-los. Uma seqüência de rápidos sucessos culminou na vitória decisiva em 338 a.C., e logo depois no domínio de toda a Grécia, com exceção de Esparta. Dois anos depois, Felipe seria assassinado em conseqüência de uma rixa familiar.”. (BURNS, OP.CIT, PP. 103 - 104).

3e) O Período Helenístico
A Macedônia, localizada no norte da Grécia, aproveitou-se do enfraquecimento grego e seu rei Filipe II, admirador da cultura grega, preparou um poderoso exército com o objetivo de conquistar o território helênico. De início, Filipe II buscou fomentar as rivalidades entre as cidades gregas; em seguida, subornou as elites helênicas. Uma das mais famosas frases do rei macedônico explicava sua política: “não há fortaleza que resista a um burro carregado de ouro”. Essas atitudes de Filipe II provocaram a reação do mais famoso orador grego, que por sinal era gago, Demóstenes, que em seus discursos, conhecidos como Filípicas tentou alertar o povo contra as intenções do rei da Macedônia. Em 338 a.C., as falanges macedônicas venceram os gregos na batalha de Queronéia. A Grécia perdia sua independência e tinha início o período Helenístico.
O Império macedônico na época de Alexandre Magno.
O expansionismo iniciado por Filipe II teve continuidade com seu filho Alexandre Magno, que consolidou a dominação da Grécia e conquistou praticamente todas as regiões compreendidas entre o Egito e o Império Persa.
Alexandre magno.
A Macedônia tornou-se o maior império até então formado, que só seria suplantado por Roma, séculos depois. Com muita habilidade, Alexandre respeitou as instituições políticas e religiosas e fomentou matrimônios entre seus assessores e moças das elites das regiões conquistadas. Ele próprio se casou com uma nobre persa. Atuando dessa maneira, Alexandre, que se apresentava como libertador das regiões conquistadas evitou levantes que pudessem solapar seu expansionismo. O imperialismo macedônico levou a cultura grega à África, ao Oriente Médio e à Ásia Menor; paralelamente trouxe dessas regiões influências culturais. Essa fusão de culturas gerou o Helenismo, que teve como centros as cidades de Pérgamo e Alexandria. Em síntese: o helenismo foi essa mescla de culturas, do Ocidente e do Oriente, que gerou uma nova realidade cultural de cunho misto e sincrético.
Após a morte de Alexandre, seu império foi dividido em três partes: o Reino da Síria, abrangendo a Ásia Menor, a Síria e a Mesopotâmia, controlado pela dinastia Selêucida; o Reino do Egito, compreendendo, além do próprio Egito, a Arábia e parte da Palestina, sob dominação da família dos Ptolomeus; e o Reino da Macedônia, englobando a Grécia e sob o controle do general Antígono. A Índia e a Pérsia readquiriram sua independência.
O mundo grego, em seguida, seria conquistado pelos romanos; ao longo da Idade Média seria a sede do Império Bizantino; depois, faria parte do Império Turco – Otomano, recuperando sua plena autonomia somente em meados do século XIX.
“O significado básico das façanhas militares de Alexandre está no fato de ele haver levado o impulso helênico até a Ásia, mais longe e mais depressa do que teria ocorrido de outra maneira. É indubitável que ele fez com que a influencia grega fosse exercida mais amplamente. Ao mesmo tempo ele parece ter imposto um esforço exagerado sobre o helenismo com resultado de encorajar uma violenta maré de influencias orientais sobre o ocidente. Dentro de pouco tempo as culturas helênica e oriental interpenetravam-se de tal modo que se produziu uma nova civilização. Foi esta a civilização helenística...”. (BURNS, OP.CIT, P. 103).

4) A Cultura Grega
O pensamento grego, raiz fundamental da cultura do Ocidente, caracterizou-se pelo racionalismo: a realidade só pode ser compreendida e explicada pela Razão. Dessa visão do mundo (cosmovisão) – por muitos chamada de o “milagre grego”, por ser até então inédita – decorreu uma supervalorização do homem (antropocentrismo), em relativo detrimento do papel dos deuses. Pela primeira vez, na Antiguidade, o Humano era o centro das preocupações filosóficas, científicas e estéticas. Essa importância atribuída ao ser humano pela cultura grega é bem expressa na frase do teatrólogo Sófocles: “muitos são os prodígios da Natureza; contudo nada é mais prodigioso do que o homem”. Esse esplendor cultural foi, sem dúvida, possibilitado pela existência de uma elite voltada às questões intelectuais, cujo tempo ocioso – condição quase fundamental para as operações do intelecto – era gerado e sustentado por uma enorme massa de trabalhadores escravizados. Como bem observou o grande poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht: “Alexandre conquistou o mundo, mas o teria conquistado sem seu cozinheiro?”.
“Na verdade, a cidade realizou, no plano das formas sociais, esta separação da natureza e da sociedade que pressupõe, no plano das formas mentais, o exercício do pensamento racional. Com a cidade, a ordem política destacou-se da organização cósmica, aparece como uma instituição humana (...) Separadas, natureza e sociedade, constituem igualmente objeto de uma reflexão mais positiva e abstrata.” (VERNANT, J. P. MITO E PENSAMENTO ENTRE OS GREGOS. SÃO PAULO, EDUSP, 1973, P.310.).

Religiosidade
A religião grega era politeísta antropomórfica, isto é, os deuses apresentavam características divinas, tais como poderes sobrenaturais e imortalidade (decorrente dos alimentos dos quais se nutriam – ambrosia e néctar). Além disso, apresentavam características humanas: paixões, fraquezas, defeitos e virtudes e eram representados segundo a forma humana. Ao mesmo tempo existia, assim como no mundo humano, hierarquia e divisão de funções entre os deuses.
Ao contrário das religiões orientais, que faziam dos homens meros servidores dos deuses, os cultos religiosos gregos valorizavam o ser humano, produzindo nele um forte sentimento de auto-afirmação e confiança em suas potencialidades. Um traço fundamental da religiosidade helênica era a inexistência de um código ético a ser seguido. Os homens não obedeciam aos deuses e nem estavam a seu serviço. Pelo contrário, as divindades conviviam com os seres humanos e, em muitos casos, por eles eram influenciados. Nesse sentido, as características das divindades gregas refletiam o antropocentrismo de sua cultura e estrutura mental.
Na Grécia antiga coexistiam praticas religiosas diversas. A religião era objeto de culto particular e publico. Todas as cidades gregas possuíam templos, onde se veneravam as divindades pan-helênicas (de toda a Grécia) e locais (protetoras das cidades) – autêntica coexistência da unidade (culto dos deuses pan-helênicos) com a diversidade (deuses específicos das polis). Nesse sentido, embora os cultos mais fortes fossem os das divindades locais (Palas Atena – Atenas, Apolo - Esparta e Hera - Argos), a unidade religiosa era ratificada quando dos jogos pan-helênicos, a exemplo das Olimpíadas, em homenagem a Zeus, o deus dos deuses.
Eram comuns os sacrifícios de animais na barganha dos homens com os deuses (bois, por exemplo). As superstições eram muito difundidas – os gregos procuravam ler os destinos dos homens através da interpretação de sinais da natureza ou pela consulta dos oráculos, sendo o mais famoso deles o da ilha de Delfos. Celebravam-se grandes festas religiosas onde o sagrado e o profano coexistiam nos atos de veneração, a exemplo das Panatenéias (em honra a Atena), Dionisíacas (celebrações para Dionísio) e dos jogos pan-helênicos (em homenagem a Zeus), já anteriormente citados.
UMA representação de Zeus
As principais divindades gregas eram:
AS PRINCIPAIS DIVINDADES GREGAS – deuses Pan-helênicos.
ZEUS - divindade máxima que regia o mundo a partir do Olimpo – a residência dos deuses.
APOLO - deus da luz e das artes.
ARTEMIS - deusa das florestas e da caça.
HERA - esposa de Zeus e deusa protetora do casamento, da maternidade e dos lares.
HERMES - mensageiro dos deuses e protetor dos viajantes e comerciantes.
POSEIDON - deus dos terremotos e do mar.
DEMÉTER - deusa das colheitas e dos agricultores.
DIONÍSIO - deus da orgia e do vinho.
AFRODITE - deusa do amor.
ARES - deus da guerra.
PALAS ATENÁ – deusa da inteligência, da sabedoria e da razão.
HADES - deus dos subterrâneos e do inferno.
HEFESTO - deus do fogo e dos artesãos.
Havia ainda divindades de menor importância:
DIVINDADES MENORES
CLIO - deus dos estudos históricos.
EUTERPE - deusa da música.
HORAS - deus fiscalizador das estações do ano.
MUSAS – inspiradoras das criações científicas e artísticas.
CRONOS – divindade que devorou seus filhos, portanto responsável pela passagem do tempo que nos devora: o tempo faz os jovens ficarem velhos.
Num patamar intermediário entre os homens e as divindades havia os semi-deuses, heróicos autores de proezas extraordinárias, normalmente filhos de um deus com um mortal. Os principais semi-deuses foram: Hércules, Teseu, Europa, Heracles, Perseu, Jasão, Édipo, Cadmo, Ájax, Aquiles, Atalanta e Belerofonte.

As artes plásticas
A escultura grega teve como valores estéticos básicos o humanismo, a simplicidade, o racionalismo, o equilíbrio das formas, a leveza do conjunto e a busca de harmonia e ordem. Acima de tudo, a escultura grega foi uma grande homenagem ao ser humano - baseou-se na representação idealizada da figura humana (O homem era representado segundo um ideal de perfeição). A representação realista de temas rurais, sentimentos humanos, cenas esportivas e demais aspectos da vida dos gregos, aparece na estatuaria, onde se destacaram Fídias e Míron. Também são destacados os baixos relevos que decoram o Phaternon.
O DIscóbulo – MÍron
A pintura, caracterizada por um colorido figurativismo nas artes de cerâmica, retratava cenas do cotidiano e passagens mitológicas.
Um banquete
Na arquitetura, cujos grandes nomes foram Calícrates e Ictínio, responsáveis pela construção de vários monumentos, notadamente o Phartenon em Atenas – três estilos de colunas foram marcantes: o jônico, caracterizado pela leveza e elegância; o dórico, com colunas de linhas retas e capitel liso, expressando funcionalidade; e o coríntio, esbanjando luxo e prosperidade nas suas colunas ornamentadas.
As colunas gregas. Dórica, jônica e coríntia.
O mais notável conjunto arquitetônico é o da acrópole em Atenas, mandado construir por Péricles, com escultura de Fídias, um dos maiores artistas plásticos do século V a.C.. Sobressaem também os templo (o de Zeus, em Olímpia; o de Ártemis, em Éfeso; o de Palas Atená, em Atenas), os teatros (o de Dionísio, em Atenas; o de Epidauro) e outros edifícios públicos.
Maquete eletrônica do Pathernon em Atenas (visão externa).

A literatura
Os dois primeiros grandes escritores de Atenas foram Homero, autor da Ilíada e da Odisséia, e Hesíodo, que escreveu Teogonia (descrevendo a origem e a vida dos deuses) e os trabalhos e os dias (onde reflete sobre a situação dos pequenos proprietários rurais da Ática). Nas obras de Homero, evidenciou-se a poesia épica: “No centro dessa criação literária ergue-se sempre o herói radiante e vencedor, aureolado pela gloria de suas armas e feitos, mas ele se ergue diante do fundo escuro da morte certa que, também a ele, arrancará das suas alegrias para levá-lo ao nada, ou a um obscuro mundo de sombras, não melhor do que o nada.”. (LESKY, A. A tragédia grega. São Paulo, Perspectiva, 1980, pp. 18 - 19). Não cabe aqui discutir o mérito ou não de Homero quanto à autoria das duas obras clássicas da literatura grega mas destacar o caráter de arte dessas obras e sua importância como fontes históricas para o estudo do período gentílico da Historia grega e sua transição para a sociedade escravista.
Na poesia destacaram-se os trabalhos de Safo, da Ilha de Lesbos, poetisa cujos versos primam por um erotismo sutil, e também os de Anacreonte e Píndaro, que cantaram o amor, o gozo, os prazeres:
“Dionísio! Filho almo de Zeus,
Libertador das penas, liaios!
Possues-me, nos delírios teus
E atrais-me, ó tu, que, até os desmaios,
Dás vinho! Ensinas-me as coréias;
Dás-me o prazer mais singular.
Pois tenho o gosto de beber,
Mas sem dos outros me privar;
Eu canto alegre a voz erguer;
Numa Afrodite achar prazer
E, novamente, vir dançar.”.
(ANACREONTE, ODES, edições de ouro, p. 91).

O teatro
Nos primórdios de Atenas, realizava-se uma curiosa cerimônia: todas as vezes que a cidade era vítima de doenças, catástrofes naturais e outros malefícios, os habitantes arrastavam um bode pela Polis para que ele captasse a causa do mal, sendo, em seguida, sacrificado para libertar a cidade dos perigos.
Noutros termos, o sacrifício do bode purgava os pecados da cidade: daí a origem da expressão bode expiatório, existente em praticamente todas as línguas ocidentais. Em grego, o termo usado para nomear o bode era “tragós”, que deu origem ao termo tragédia. Essa cerimônia de sacrifício do bode deu início ao teatro grego: a função das tragédias gregas era catártica, ou seja, fazer os habitantes da cidade, através das obras teatrais, refletir sobre os valores éticos e políticos da Polis, libertando-a, pedagogicamente, dos vícios, erros morais e injustiças. O objetivo da tragédia era purgar a cidade dos desvios éticos. A palavra teatro tem a mesma origem da palavra teoria: contemplar para entender e explicar uma determinada realidade. Na Grécia, as peças teatrais eram sempre levadas ao ar livre e em anfiteatros, caracterizando-se pela presença do coro, que explicava o texto aos expectadores.
Anfiteatro ateniense
Os principais tragediógrafos gregos foram: Ésquilo (525 – 456 a.C.), o “pai da tragédia” e autor de “Prometeu Acorrentado” e “Os Persas”; Sófocles (496 – 406 a.C.), criador de clássicos como “Antígona”, “Electra” e “Édipo Rei”; Eurípedes (480 – 406 a.C.), autor de “Mulheres Troianas” e “Alceste”. Importante é ressaltar que a tragédia grega captou, com extremo talento e rara perspicácia, os arquétipos (modelos fundamentais) da condição e do comportamento humanos. Prova disso é que, séculos depois, a Psicanálise, disciplina científica nascida no século XIX, usaria personagens e situações das tragédias gregas para explicar a psicologia humana. “Complexo de Édipo”, “Complexo de Electra” e outras expressões semelhantes são hoje de uso corrente, inclusive banalizadas até por revistas populares. Um importante exemplo de tragédia grega, que captou dramas humanos, encontra-se nos trabalhos de Eurípedes: “(...) para Eurípedes, inteiramente dentro do espírito da sofistica, o verdadeiro centro de todo acontecer é o homem. As ações do homem e as diretrizes divinas já não se unem, para ele, num mundo de irreconciliáveis contradições, para formar um cosmo ético. Nele, o destino humano nasce do próprio homem, do poder de suas paixões (...)”. (LESKY, OP. CIT. PP. 163 - 164).
Além da tragédia, o teatro grego conheceu, em menor escala, espetáculos de comédia, gênero dedicado a descrever, de maneira satírica e crítica, a vida cotidiana e os costumes da comunidade. O principal comediógrafo foi Aristófanes (445 – 385 a.C.) autor de textos como “A Paz”, “As Nuvens” e “As Vespas”. “Aristófanes é conservador: o seu ideal é a identificação do Estado e religião, como em Ésquilo; de corpo e espírito, como em Píndaro. (...) Aristófanes não é profundo. Não tem ideologia bem definida. O seu conservantismo é um tanto sentimento, elogiando os “bons velhos tempos” e denunciando o ´modernismo´ perigoso dos ´intelectuais´ e dos ´socialistas´”. (CARPEAUX, O. M. A literatura grega e o mundo romano, edições de ouro, PP. 51 e 52).

As ciências
Grande foi também o desenvolvimento das ciências naturais entre os gregos, destacando-se Ptolomeu, astrônomo que defendia a tese de que a Terra era o centro do Universo (geocentrismo); Eratóstenes, geógrafo que mediu a circunferência da Terra; Euclides, que formulou os preceitos fundamentais da geometria e Arquimedes, que descobriu certos princípios básicos da física como os da roldana e da alavanca, além de descobrir as leis da flutuação dos corpos.
No campo das ciências hoje chamadas de “sociais”, chama a atenção o trabalho de Heródoto de Halicarnasso (484 – 425 a.C.), cujo mérito foi o de tentar criar um método para compreender e explicar a História. Além de relatar as Guerras Médicas, o “pai da História”, como passou a ser conhecido Heródoto, visitou o Egito, a Península Itálica e a Ásia Menor, visando conhecer esses povos para melhor descrevê-los. Outro importante historiador foi Tucídides autor da célebre “História da Guerra do Peloponeso”: “Se Heródoto merece ser chamado de o pai da História, muito mais merece o seu contemporâneo mais jovem, Tucídides, ser chamado de o pai da História cientifica. Influenciado pelo ceticismo e pelo espírito pratico dos sofistas, ele preferiu trabalhar com base em provas cuidadosamente verificadas, rejeitando opiniões, lendas e boatos. O assunto de sua História foi à guerra entre Esparta e Atenas, que ele descreveu cientifica e desapaixonadamente, salientando a complexidade das causas que levaram ao conflito fatídico. Seu objetivo era apresentar uma narrativa exata que pudesse ser lida com proveito pelos estadistas e generais de todas as épocas, e deve-se reconhecer que teve pleno êxito. Se houver defeitos em seu método histórico, consistiram em ter destacado em excesso os fatores políticos, em detrimento dos sociais e econômicos, e não haver considerado a importância das emoções na História. Além disso, demonstrou preconceito contra as facções democráticas de Atenas após a morte de Péricles.”. (BURNS, OP.CIT. P. 115).

A Filosofia
A Filosofia (“filos”: amigo; “sofia”: sabedoria) foi, sem qualquer sombra de dúvida, a maior das criações gregas, consistindo no fundamento de todo o pensamento ocidental até hoje. Ao contrário dos outros povos da Antiguidade, que se limitaram a buscar compreender o mundo através de mitos e deuses, os gregos, com seu espírito especulativo e crítico, objetivavam explicar a natureza e o homem de maneira racional. Ao longo da história helênica, inúmeras escolas filosóficas, cada uma delas com uma metodologia e objetos de estudo diferenciados, floresceram na Península Balcânica.
AS ESCOLAS FILOSÓFICAS GREGAS
Mileto
VII – VI a.C.
Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Empédocles
Buscaram descobrir o elemento físico responsável pela criação da natureza : a água, o ar, o apeíron (o “indeterminado”), a matéria, etc...
Éfeso
VI a.C.
Heráclito
Formulou o conceito de dialética: a realidade, sempre em movimento, transformando-se, baseia-se na harmonia dos contrários: guerra e paz; dia e noite; chuva e seca, etc... É famosa sua frase: “ninguém se banha duas vezes nas águas do mesmo rio”. Para ele, o elemento criador e destruidor da realidade era o fogo.
Eléia
VI – V a.C.
Parmênides
Elaborou a teoria do Ser, criando os princípios da identidade (“o Ser é) e da contradição (“o Não-Ser não é”), bases da lógica ocidental. Para Parmênides, o Ser é único, imutável, imóvel, eterno, infinito e indivisível. Além disso, Parmênides procurou distinguir o que é objeto puramente da razão - o que ele chamou verdade - e o que era dado pela observação, pelos sentidos - que ele denominou de opinião. Parmênides, dessa forma, abriu um debate até hoje travado: razão e experiência, teoria e pratica, idealismo e materialismo.
Pitagórica
VI a.C.
Pitágoras
Pregava a noção de que o número é a essência do Universo. Embora tenha alcançado um grande desenvolvimento da matemática, suas concepções idealistas atendiam aos interesses das camadas mais conservadoras de Atenas, pois pareciam revelar um mundo permanente e imutável.
Sofistas
V a.C.
Protágoras, Górgias e Céos
Do ponto de vista da teoria do conhecimento, eram relativistas: verdade é aquilo que é útil, para a ação humana. Na política, alguns de seus seguidores desenvolveram teorias sobre a legitimidade da existência do Estado. A atividade desses pensadores coincidiu com a época de maior florescimento da democracia ateniense. Seus princípios democráticos entrechocaram-se com as visões absolutizantes da aristocracia territorial
Socráticos
V - IV a.C.

Sócrates
(469 – 399 a.C.).
Combateu os sofistas, pois acreditava ser possível conhecer a verdade absoluta. Seu método se dividia, numa linguagem simples, em duas etapas: a “ironia”, que consistia em destruir os preconceitos, e a “maiêutica” (“parto das idéias”), ou seja, eliminados os falsos conceitos, a verdade surgiria da própria Razão humana. Sua outra grande preocupação foi o problema do Uno e do Múltiplo: “mil homens são mil indivíduos diferentes, mas há neles uma coisa em comum: todos, embora diferenciados, são humanos. Portanto, existe, em todos eles, uma essência de Humanidade”. Defensor de uma verdade absoluta, Sócrates entendia que a virtude era a forma de conhecimento exato, livre dos falsos conceitos. Assim, apenas a elite teria condições de governar. Foi condenado a morte como inimigo da democracia, por corrupção dos costumes e por pretender substituir a religião tradicional por um ser supremo criador do universo.
V - IV a.C.

Platão
(429 – 347 a.C).
Formulou o conceito de que todas as coisas existentes no mundo eram cópias imperfeitas de essências únicas presentes no “mundo das idéias”. Politicamente, foi também um representante da aristocracia. Suas convicções políticas eram conservadoras - ele defendia, como forma ideal de governo, uma republica aristocrática escravista, dirigida por filósofos governantes e guerreiros guardiões.
IV a.C.

Aristóteles
(384 – 322 a.C.).
Pensador extremamente rico e amplo, Aristóteles acreditava que todos os seres são fruto da junção da essência e da matéria. Não existe, para ele, um “mundo das idéias” além da realidade: o conceito, a essência e as idéias só se realizam na forma material. Como Platão, Aristóteles escreveu em um período de crise da democracia escravista. Preocupou-se com as formas de governo, considerando legitimas a monarquia, a oligarquia e a democracia. Escreveu um longo tratado, A Política, onde analisou os regimes políticos e as formas de Estado.
Sobretudo a partir do século V a.C., o pensamento filosófico e cientifico dos gregos atingiu notável desenvolvimento. Com Demócrito fizeram-se progressos notáveis em vários ramos do conhecimento:na astronomia, na física, na biologia, na matemática, na geografia, nas artes e na história. Leucipo e Demócrito afirmavam que a natureza se compõe de partículas sólidas e indivisíveis - os Átomos -, cujos arranjos e movimentos condicionavam a diversidade dos fenômenos naturais e sociais. Ao explicar as causas dos fenômenos por causas mecânicas - o movimento dos átomos - Demócrito lançou as bases do materialismo mecanicista. Sua teoria atômica mostrou-se um valioso instrumento na descoberta da física e química modernas.
Já Hipocrates de Quios, começou a tradição medica, que se caracterizou pela exatidão e objetividade da observação e registro de sintomas, libertando-se das praticas mágicas da medicina egípcia e babilônica.
Sobre o universalismo da cultura grega e sua influencia, poderíamos concluir como Isócrates: “De tal modo a nossa cidade se distanciou dos outros homens, no que toca ao pensamento e a palavra, que os seus alunos se tornaram mestres dos outros, e o nome de gregos já não parece ser usado para designar uma raça, mas uma mentalidade, e chamam-se de Helenos mais os que participam da nossa cultura do que os que ascendem a uma origem comum.”. (ISÓCRATES, ORADOR ATENIENSE).

5) A Cultura Helenística
No período helenístico, quando a Grécia estava sob domínio macedônio, o pensamento grego voltou-se para o indivíduo, preocupando-se com o “bem viver”. Como reflexo da decadência política, a filosofia grega se desinteressou dos grandes temas metafísicos e políticos, conhecendo uma série de escolas de reflexão chamadas de “Éticas Menores”. Foram elas: o Epicurismo, formulado por Epicuro (defendia que a felicidade consistia nos prazeres naturais); o Estoicismo, criado por Zenão (propunha que a “ataraxia” - o bem viver - só seria atingido pela resignação, pelo auto-controle e indiferença diante da dor e do sofrimento); e, finalmente, o Ceticismo, elaborado por Pirro (afirmava que a verdade não pode ser conhecida, pois os sentidos humanos são limitados, e assim o ideal, para os indivíduos, é não desejar e não pretender coisa alguma).

6) Aspectos do cotidiano

6a) O papel atribuído às mulheres

6a1) Esparta
“As mulheres também recebiam, desde a infância, um rigoroso treinamento físico e psicológico, mas gozavam de algumas liberdades inexistentes em outras cidades-Estado. Por exemplo, as espartanas praticavam ginástica e participavam de jogos. Também podiam comparecer as reuniões públicas, além de administrarem o patrimônio familiar juntamente com seus maridos”. (BRAICK, PATRÍCIA RAMOS. OP. CIT. P. 76).

6a2) Atenas
“A sociedade ateniense foi organizada para o mundo masculino. Às mulheres estavam reservadas funções domesticas. Os pais tratavam dos casamentos das filhas adolescentes, as quais, após as núpcias, ficavam sob o domínio total dos maridos. Docilidade e submissão: esse era o comportamento esperado das mulheres de Atenas. Assim, quando os esposos recebiam convidados para o jantar, elas ficavam em seus aposentos, normalmente no andar superior das casas, ungindo o corpo com essências aromáticas e óleos perfumados para gozar posteriormente da companhia dos maridos. Mas esse era um ideal aristocrático de vida. As mulheres pobres tinham que trabalhar na preparação de alimentos e cuidar dos filhos, atividades que as mais ricas podiam deixar a cargo de escravos ou escravas.
Assim como no caso das mulheres, os homens eram educados de acordo com as possibilidades de sua posição econômica e social. Os filhos de familias ricas eram educados por professores particulares e tinham tempo disponível para praticarem esportes e atividades artísticas como a música. Exercícios militares também faziam parte da educação. Os homens das classes subalternas, pelo contrário, muitas vezes trabalhavam lado a lado com os escravos na produção de artesanato ou na agricultura.”. (BRAICK, PATRÍCIA RAMOS. OP. CIT. P. 76).

6b) Os gregos antigos e o prazer homoerótico.

“A homossexualidade grega, de K.J. Dover, tem o porte dos grandes clássicos sobre a sexualidade. Evoca, pela erudição, rigor e elegância de argumentos, "Christianity, Social Tolerance, and Homosexuality", de John Boswell, ou os estudos de Paul Veyne e Peter Brown. Sua originalidade deve-se, sobretudo, à exploração de processos judiciários e pinturas de vasos decorativos, fontes de pesquisa até então inéditas. Analisando processos de cidadãos acusados de praticarem a prostituição masculina e a iconografia erótica, Dover confirma e dá novo relevo ao que era conhecido pela análise de textos cômicos, filosóficos ou poéticos. Na Antiguidade grega, a "pederastia", ou seja, a relação sexual entre o homem mais velho, o "erastes", e o rapaz jovem, o "erômenos"', era aprovada, incentivada e tomada como modelo de ética amorosa.
Porém o leitor engana-se se projetar no passado os hábitos mentais do presente. A relação "pederástica" não coincide com a moderna relação "homossexual". Na Grécia não existiam palavras para designar o que chamamos de "homossexualidade" e "heterossexualidade" porque simplesmente não existia a idéia de "sexualidade". A sexualidade é uma construção cultural recente, como mostrou Foucault. No mundo helênico havia um eros múltiplo, heterogêneo, sem contrapartida no imaginário de hoje. Assim, o eros da "pederastia" era, em sua "natureza", diverso do eros presente entre homens e mulheres ou mulheres e mulheres. Por princípio era virtuoso, ao contrário da "homossexualidade" contemporânea, tida como vício, doença, "degeneração" ou perversão, desde que foi inventada pelas ideologias jurídico-médico-psiquiátricas do século XIX.
Entretanto, inventada justamente porque era dirigida para a virtude, a "pederastia" era draconiamente regulada em seu exercício. O que estava em jogo era a educação do cidadão, portanto, toda conduta que evocasse passividade e excesso, era considerada indigna. O "erômeno" não podia ser passivo na relação amorosa, isto é, não podia ser penetrado, pressionado física ou moralmente a ceder aos avanços sexuais do "erastes", subornado com dinheiro ou presentes etc. Do mesmo modo, toda desmedida, toda "hybris", era igualmente reprovada por ser pouco viril. Os amantes deviam ser comedidos, evitando exageros lúbricos ou apaixonados. A boa vida era a vida política. Em conseqüência, o uso dos prazeres devia estar a serviço da honra do cidadão. A liberdade sexual privada, como a concebemos, era impensável na Grécia[...]”.
(Autor do comentário: Jurandir Freire Costa, historiador).

Um comentário:

  1. Só nã diga pra seus alunos que Heródoto é o pai da História,aquele preconceituoso!
    rs...
    A Hístória é algo que sempre existiu,o que aconteceu foi apenas o "domínio" dela, assim como acontece com o fogo na pré-história.
    História é uma força, algo abstrato que flutua por entre os homens, eles descobriram isso e utilizaram para denominar o conhecimento que chamamos de histórico.

    "Heródoto de Helicarnasso apresenta aqui os resultados de sua investigação, para que o tempo não apague os trabalhos dos homens e para que as grandes façanhas, realizadas ou pelos gregos ou pelos bárbaros não caiam no esquecimento." (HERÓDOTE, Histories.Paris: Les Belles Lettres, 1970. Prologue. Livre I)

    Aquele que foi apresentado por Cícero como "o pai da História" é um grego originário de Helicarnasso, na Jônia, que viveu entre dois grandes conflitos: o das Guerras Médicas e o da Guerra do Peloponeso, entre 484 a.C. e 420 a.C. Autor de Histórias, divididas em nove livros, dois terços de sua obra consagradas aos acontecimentos das Guerras Médicas. Com Heródoto, nasce o historiador, pelo duplo uso do nome próprio e da terceira pessoa desde o prólogo de sua obra que estabelece uma distância, uma objetividade em relação à matéria narrada. (DOSSE,François. A História. O historiador: um mestre da verdade. Cap I, pág.13-14)

    "O égito é uma dádiva do Nilo." (uau!)
    Quem disse isso? o incrível Heródoto de Helicarnaso. Mas porque será que ele afirmou que o Egito era uma dádiva do Nilo? Como assim se o Nilo não existisse será que a civilização egipcía não existiria? Sabemos que o rio Nilo foi realmente algo de suma importância para o desenvolvimento de tal civilização, mas o rio também enche,causa problemas a população que se aloja próximo,distroi as plantações, entre várias outras coisas que implica na estabilidade das populações ribeirinhas.
    Ah! já sei! O homem egípcio era bem inteligente e resolveu pensar em algo para controlar a força da enchente dos rios, pensou em sistemas de irrigação,o que ajudou na agricultura, na produção do que era essencial para a sobrevivência daqueles homens,a alimentação.Realmente o homem egipcío é fantástico, inteligente, ousado e ativo.
    O rio por si só não faz nada,só enche, seca,segue seu rumo e pro aí vai, mas o hommem egípcio não.
    E Heródoto vem dizer que o Egito só foi o que foi por causa do rio Nilo, que espécie de pai da História é esse? preconceituoso como todo e qualquer Grego, pois não admitia ver o poder de outra civilização e explicar tal desenvolvimento argumentando a inteligencia dos homens daquela civilização,que não era Grega e sim Egípcia.
    Quando ele fala em não tomar posicionamento a favor de grgos ou bábaros, ele mente! pois afirmando que o Egito é uma dádiva do Nilo ele está sendo bem grego e não admitindo e reconhecendo o poder do outro,os egípicios.

    Como comentário acho que isso basta, peço desculpas se atingi a algum fã de Heródoto, a intenção aqui não é acusa-lo nem desmerecer seu posto mas apenas expor minha opnião.

    Nathalia Santana

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