Pesquisa no blog

terça-feira, 7 de abril de 2009

Iluminismo - Padrão - Pré.

O pensamento ilustrado (Iluminismo).
Durante os séculos XVII e XVIII, o dinamismo da sociedade capitalista nascente, da ciência em desenvolvimento, esbarraram nos entraves do sistema absolutista de poder e nos dogmas obscurantistas pregados por instituições religiosas que se aliaram aos reis de poder absoluto. Vários intelectuais, alguns deles ligados a burguesia, outros independentes ou até aristocratas, passaram a criticar a teoria do conhecimento então vigente (conhecimento é revelação divina), anunciando um conjunto de idéias que preconizavam uma nova forma de pensar a natureza, a sociedade e, mais tarde, novas estruturas econômicas, políticas, sociais e culturais, mais condizentes com a exigência de liberdade dos tempos então em curso. Idéias tradicionais concernentes a temas como Deus, existência humana, universo e natureza foram questionadas e modificadas produzindo como resultado uma revolução intelectual que trouxe a tona uma “nova visão do mundo – racional, mecanicista e em grande parte impessoal, mas ao mesmo tempo humanitária, tolerante e, por conseguinte, voltada para a compreensão tanto das fraquezas quanto das aspirações da humanidade”. (BURNS, EDWARD McNALL. História da Civilização ocidental: do homem das cavernas as naves espaciais / EDWARD McNALL BURNS, ROBERT E. LERNER, STANDISH MEACHAM; São Paulo: Globo, 2003, p.453).

Contexto histórico-intelectual em que surgiu o iluminismo
O pensamento ocidental, antes tão marcado pelo misticismo religioso, conheceu a partir dos séculos XVII e XVIII uma nova possibilidade de construção sustentada no racionalismo. O mundo físico e seus fenômenos deixavam de ser justificados pela religião e passavam a ser explicados pela razão. O Iluminismo foi acima de tudo uma revolução cultural porque propôs uma nova forma de entender a natureza e a sociedade, e significou uma transformação profunda na forma de pensar, pois rompeu com a maneira como as pessoas pensavam antes.
Vale salientar que apenas uma parcela da população européia teve contato com as novas idéias e descobertas cientificas. A grande maioria da população continuou a entender o mundo a partir do que ensinavam e as teses religiosas.
Desde o século XVI, a Europa vivia em processo de múltiplas transformações. As Grandes Navegações, a Reforma Religiosa, o surgimento dos Estados Nacionais e a expansão do comércio, foram, aos poucos, desintegrando o que havia restado da velha ordem feudal. Nos séculos XVII e XVIII, o mundo preparava-se para viver o tempo do capital e da burguesia. Houve uma grande expansão demográfica na Europa e um melhor aproveitamento da riqueza. Os capitalistas investiam em avanços tecnológicos que, por sua vez, permitiam acumular riquezas cada vez maiores. Foi neste contexto de consolidação do universo burguês que as idéias iluministas se estruturaram.
As novas formas de vida e as conquistas humanas da Época Moderna não se articulavam com a riqueza das antigas estruturas de poder político e econômico e, também, do pensamento religioso que dominava a vida intelectual. As conquistas técnicas abriam possibilidades de avanço em vários campos, com os quais antes não se ousava sonhar. Mas o universo intelectual dominado pelos pressupostos da religião católica condenava o interesse cientifico, logo apontado como heresia pelo clero, que temia perder seus privilégios econômicos, políticos e sociais. A fim de seguir em busca desses novos caminhos que se colocavam como novas possibilidades, os iluministas tinham de romper com as tradições do passado.

A razão e a verdade
O pressuposto básico do Iluminismo era a razão, e seu objetivo encontrar a verdade. Para os iluministas o conhecimento somente podia ser considerado como verdade quando fosse evidente para a razão e para os sentidos. Não bastaria alguém enunciar, uma autoridade afirmar, assim como não importaria se existisse o peso da tradição. Para ser considerado verdadeiro, um determinado pressuposto teria de passar pelo crivo da razão. Considerando o universo de crenças e de dogmas que ordenaram o pensamento da Idade Média, essa nova perspectiva do conhecimento era de fato revolucionária.
O primeiro pensador a teorizar a duvida como meio de desvendar a realidade foi o francês René Descartes, que viveu entre 1596 e 1650, portanto um cientista do século XVII. Podemos dizer que seu trabalho foi à fonte de inspiração dos iluministas. Descartes acreditava que todo saber cientifico pode ser traduzido em idéias precisas e claras como a Matemática. Ele defendia a tese que o conhecimento obedecia a uma progressão e que, seguindo essa ordem progressiva, seria possível desvendar tudo que ainda era desconhecido.
O caminho adotado por Descartes para chegar a esse sistema que leva ao saber absoluto foi duvidar da veracidade dos conhecimentos até então consagrados, questionava tudo o que já se conhecia como verdade. Para o pensador francês não existe reflexão fora da duvida. Um de seus enunciados afirma: “Se duvido, penso”. A sua afirmativa mais famosa (“Penso, logo existo”) nos leva a concluir que ele questionava até mesmo a sua própria existência.
“As implicações do pensamento de Descartes foram de enorme relevância. (...). As pessoas, afirmava ele, não só tinham o direito de reavaliar o passado como a obrigação de fazê-lo e, quando necessário, rejeitar-lhe as convicções. Deviam ter a coragem de experimentar, a fim de revelar e entender a natureza mecânica do universo”. (BURNS, EDWARD McNALL. Op. Cit., p.455).
O pensamento cartesiano, resultado das conclusões de Descartes, entendia que quando a verdade não era evidente era preciso desenvolver métodos para fazê-la emergir. Os métodos propostos foram os seguintes:
· Análise: que dividia em etapas simples os problemas encontrados no processo de conhecimento de objetos muito complexos:
· Síntese: que partia dos elementos mais simples para atingir o conhecimento dos mais complexos.
· Enumeração: que seguia o cominho da investigação de todos os aspectos envolvidos em uma determinada questão. Essa formulação buscava cobrir todo o campo analisado a fim de não quebrar a ordem progressiva do conhecimento.
Apesar de negar as explicações dogmáticas da Igreja e acreditar que a pessoa por si só era capaz de chegar à verdade, o pensador francês não negava a existência de Deus.
No pensamento cartesiano, a razão poderia levar a pessoa ao conhecimento da verdade absoluta, eterna. A razão era, em si, universal e plena de todos os conhecimentos que o Indivíduo deveria atingir. Os iluministas entendiam a razão mais como instrumento do que como uma entidade com substancia própria. A ação da razão seria operar sobre os aspectos da realidade apreendidos pelos sentidos, tornando-os racionalmente conhecidos e possibilitando seu entendimento. Essa linha de racionalismo revela a influência do Empirismo Inglês teorizado por Francis Bacon (1561-1626) e John Locke (1632-1704).
O Empirismo Inglês sustentava-se no pressuposto de que as idéias surgiam daquilo que sentíamos, ou seja, tudo aquilo que surgia no intelecto passava antes pelos sentidos. Dessa forma não seria possível a existência de idéias em si mesmas, surgidas apenas no campo da razão. O Empirismo defendia a experimentação (plano dos sentidos) para se chegar ao conhecimento (plano das idéias). Essa metodologia derivou na concepção mecanicista da ciência criada por Isaac Newton (1642-1727), que trabalhava a partir da observação dos fenômenos particulares para induzir regras gerais que eram traduzidas em linguagem matemática.
A atmosfera cultural dos anos de 1700, que permitiu o desenvolvimento e divulgação do iluminismo, fundamentava-se nas bases racionais da revolução intelectual de Descartes e seus contemporâneos. Em um sentido restrito, podemos afirmar que o pensamento iluminista do século XVIII foi o resultado da aplicação dos princípios racionalistas às reflexões sobre economia, sociedade, política e cultura. Assim, logo o questionamento das verdades estabelecidas no campo da explicação dos fenômenos naturais transformou-se na duvida a respeito dos problemas mais imediatos do homem. “Na época, outro gênero de saber que se apresentava como verdadeiro dizia respeito ao Estado e ao Governo. A tradição do antigo regime afirmava que o poder dos reis era sagrado, pois vinha diretamente de Deus. É claro que, entendido desse modo, o poder real não podia ser posto em duvida, qualquer que fosse a atitude do monarca. Obedecer ao rei era obedecer a deus. Isso tornava os súditos passivos e obedientes, incapazes até de sonhar com a possibilidade de resistência a um tirano. É certo que essa doutrina havia sido questionada por filósofos mais ousados, e, no século XVII, Hobbes havia mostrado que o poder político é coisa absolutamente profana, diz respeito apenas as decisões dos homens. Mas foi no século XVIII que o questionamento da natureza divina do poder, transformaram-se em ataques ao absolutismo real. Os pensadores iluministas deram uma importância prioritária ao papel critico da razão, que deve denunciar as idéias ou discursos que, por trás de pretensão a verdade, podem estar simplesmente ocultando as ambições de uns poucos”. (NASCIMENTO, Milton Meira de e Nascimento, Maria das Graças l. Iluminismo – a revolução das luzes. São Paulo: Ática, 1998, p. 23).
Os ideais iluministas eram profundamente otimistas em relação ao ser humano e à nossa capacidade de controlar e conhecer tudo o que nos rodeia. No plano social, esse otimismo se traduziu na crença de que os homens eram agentes históricos, que eram capazes de conduzir a história de acordo com seus interesses. Pela primeira vez, o ser humano era pensado como único responsável pela construção do seu futuro. Antes do século XVIII, havia a crença na interferência divina, professada tanto pelas religiões monoteístas como politeístas. A vontade divina era o que determinava o destino humano. A partir do Iluminismo, o ser humano tomou a história em suas mãos.
No plano político, o pensamento das Luzes foi a base de sustentação ideológica das revoluções burguesas. Os preceitos de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, presentes na Revolução Francesa, foram a derivação política das teses racionalistas. Já que as pessoas é que são as construtoras de seus destinos e de sua história, não havia mais como justificar o poder de um rei que governava por direito divino.
A crença de que o ser humano seria capaz de conhecer tudo o que existia no mundo perceptível aos sentidos, entendidos a luz da razão e experimentação, levou à criação da Enciclopédia – ou Dicionário Racional da Ciência, das Artes e Ofícios -, que deveria conter todo conhecimento humano até sua época. A Enciclopédia francesa foi a ampliação de uma enciclopédia inglesa, publicada em 1728, e sua elaboração foi coordenada pelo escritor Denis Diderot (1713-1784), que contou com varias dezenas de colaboradores.
O principal colaborador de Diderot foi o matemático Jean Le Rond D’Alembert, mas outros expoentes do Iluminismo, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau, também contribuíram para a produção dos textos que integravam o compendio. A obra completa contém 35 volumes, nos quais é feita uma revisão critica das artes e das ciências sob o prisma do Humanismo e do Racionalismo. O objetivo dos enciclopedistas era divulgar as suas teses filosóficas e as descobertas cientificas.

O pensamento político-econômico iluminista
O movimento das Luzes realizou uma ampla crítica à forma do poder vigente (Absolutismo) e propôs uma nova maneira de entendimento da vida social e política. Ao mesmo tempo em que refletia o panorama histórico do século XVIII, a ilustração sedimentava o processo político revolucionário que teria inicio no final daquele mesmo século. Os principais formuladores do pensamento político iluminista foram:
· JOHN LOCKE (Segundo tratado de governo civil) – Principais teses:
- Direitos naturais do homem: vida, liberdade e propriedade.
- Papel do Estado: preservar os direitos naturais do homem e proporcionar garantias de uma vida social segura.
- Direito de rebelião: recurso contra o Estado opressor (todo Estado que não cumprir o seu papel).
· MONTESQUIEU (O espírito das leis) – Principais idéias:
- O soberano absoluto naturalmente abusa de seu poder.
- Para evitar os abusos a única solução é dividir o poder, rompendo seu caráter absoluto.Teoria da divisão de poderes: Executivo, legislativo e judiciário. O poder fiscaliza o poder. “Só se impede o abuso do poder quando pelas disposições das coisas o poder detém o poder”.
· JEAN JACQUES ROUSSEAU (O Contrato social) – Postulados do mais radical dos filósofos da ilustração:
- Direitos naturais do homem: vida, liberdade, propriedade e exercício da cidadania.
- Papel do Estado: Garantir os direitos naturais do homem e fazer cumprir a decisão da maioria (vontade geral).
- Universalidade da participação: a vontade geral deve refletir a decisão da maioria social.
- Criticas a burguesia: A propriedade é a fonte de todos os males e da desigualdade e insegurança entre os homens.
Os pressupostos das Luzes estiveram presentes em inúmeras revoluções ocorridas a partir da segunda metade do século XVIII. Essas idéias varreram quase o mundo todo, levando as pessoas a se organizarem para derrubar a sociedade de privilégios que marcou o Estado Moderno. Nas colônias americanas, o ideário iluminista estimulou as lutas de independência. No Brasil, as Conjuras Mineira (1789) e Baiana (1798) foram fortemente influenciadas pelo Iluminismo.
Um importante desdobramento do iluminismo político foi a formulação de novos princípios para a gestão das riquezas produzidas pelos homens. Tratava-se, no melhor interesse burguês, de afirmar as prerrogativas do individualismo e liberalismo econômico em detrimento das concepções controladoras e intervencionistas postas em prática pelo Estado absolutista através de sua política econômica, o Mercantilismo. As principais doutrinas econômicas do iluminismo foram:
· A Fisiocracia – Sustentada por economistas como os franceses Quesnay (1694-1774), Turgot (1727-1781) e Gournay (1712-1759), defendia como principais idéias: a existência de leis naturais da economia, o fim do intervencionismo estatal, o livre comércio e a exaltação da terra como fonte de todas as riquezas.
· O Liberalismo – Sistematizadas por Adam Smith (A riqueza das nações, 1776) as idéias econômicas liberais podem assim ser sintetizadas:
- Existem Leis naturais que administram a economia.
- Fim do intervencionismo estatal.
- O principio fundamental que deve reger as economias é o da liberdade e ele é aplicável a todas as suas relações: Comércio, produção, concorrência e contrato de trabalho.
- Individualismo econômico: o enriquecimento individual é enriquecimento de toda a sociedade.
- O Trabalho como fonte de todas as riquezas. A racionalização da exploração do trabalho aplicando ao seu valor a lei da oferta e da procura, organizando-o de forma eficiente (divisão do trabalho) e barateando o custo que ele representa.

O despotismo esclarecido
Alguns iluministas defendiam a idéia de que, para bem conduzir os destinos da nação, os reis deveriam ser educados pelos filósofos a fim de dominar o conhecimento que leva à verdade, pois só assim poderiam conduzir seus súditos à felicidade. Por outro lado, seus conhecimentos seriam o parâmetro para a educação dos súditos.
Vários monarcas, sobretudo da Europa Central, adotaram a educação e o conhecimento formulados pelos iluministas. Era comum os reis buscarem nas idéias dos filósofos o aconselhamento para a solução dos problemas de Estado. Essa tentativa de união entre um poder excessivamente centralizado e as teses iluministas foi denominada de Despotismo Esclarecido. Todavia, os especialistas no assunto entendem que o nome de Absolutismo Ilustrado seria mais apropriado, uma vez que continuavam a ser governos absolutos, com a diferença de que adotavam algumas teses ilustradas (ou iluministas).
Os absolutistas ilustrados pretendiam governar de acordo com as teses racionais do Movimento das Luzes. Sua intenção não era propriamente modificar o Estado, mas governar de acordo com as novas idéias em vigor, entendendo que esse procedimento fortaleceria o seu poder. Apesar de manter a centralização característica do Absolutismo, os reis ilustrados colocavam-se como servidores do Estado com a tarefa de conduzir a nação à felicidade. Além disso, as decisões e ordenações reais deveriam ser justificadas pela razão e não mais pelos pressupostos religiosos.
Em geral, o Absolutismo Ilustrado ocorreu em reinos onde a burguesia não era ainda classe social de projeção e os reis ilustrados buscavam apoio junto à aristocracia. Em troca do apoio, a nobreza fundiária exigiu algumas vantagens que acabaram por fortalecer os laços feudais e determinaram sua permanência por longo tempo. Na Rússia, por exemplo, algumas praticas feudais se prolongaram até o inicio do século XX.
O Absolutismo Ilustrado encontrou maior expansão na Prússia, na Rússia e na Áustria. Nesses três reinos, reis de grande força política usaram os privilégios econômicos garantidos pela centralização monárquica para realizar obras de vulto, fazendo com que esse tipo de governo ficasse associado a grandes realizações.
Na Prússia, Frederico II, que governou de 1740 a 1786, foi o responsável pela unificação nacional, pelo desenvolvimento econômico e pela criação de um grande exército que construiria uma das mais importantes escolas militares do mundo. Como era adepto das Luzes, defendeu a tolerância religiosa, estimulou o ensino e combateu o analfabetismo.
Na Rússia, o absolutismo ilustrado de maior destaque foi o de Catarina II, que governou de 1762 a 1796 e que foi esposa de Czar Pedro III. Catarina era alemã e teve uma educação francesa, o que, certamente, deve tê-la familiarizado com as idéias iluministas. A Czarina foi uma grande incentivadora das forças econômicas promovendo o incremento da agricultura e da indústria.
Na Áustria, foi Jose II, que ocupou o trono entre 1780 e 1790, o governante mais influenciado pelo Iluminismo. O rei ilustrado promoveu o desenvolvimento da indústria e foi um grande defensor do Colbertismo, forma de intervenção do Estado na economia com o objetivo de desenvolver o setor industrial. José II conseguiu submeter a igreja ao poder do Estado e estabeleceu o predomínio da razão sobre a crença religiosa.

Um comentário:

  1. é bastante legal a gente saber que em qualquer lugar que vamos temos um pouco de absolutismo e iluminismo dentro da gente.

    ResponderExcluir