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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Segunda guerra mundial (1939-1945)
O desfecho da Primeira Guerra Mundial não proporcionou a paz que se esperava. Primeiro, porque alguns países, sobretudo a Alemanha e Itália, ficaram em situação econômica bem difícil; segundo, porque as disputas imperialistas que levaram ao primeiro conflito não foram resolvidas e as potencias continuavam disputando as áreas de dominação; terceiro, porque, após se reorganizar militarmente sob o governo nazista, a Alemanha estava novamente preparada para disputar com a Inglaterra a hegemonia econômica européia.
Assim, a ordem internacional imposta pelas potencias vencedoras na primeira guerra mundial dificultou o acesso da Alemanha e da Itália aos mercados consumidores externos e as fontes de matérias-primas, insatisfeitas, as duas nações adotaram medidas para solucionar seus problemas internos e aumentar sua influencia econômica e política em diversas partes do mundo, inclusive na Europa.
Seriamente afetada pela grande depressão, a Alemanha nazista estabeleceu como meta prioritária a conquista do “espaço vital”, enquanto a Itália de Mussolini reivindicava novas possessões coloniais. Em 1935, os italianos conquistaram a Etiópia. No ano seguinte, os alemães remilitarizaram a região da Renânia, na fronteira com a França, e em 1938, anexaram a Áustria (Anschluss).
Esse avanço estimulou novamente a competição entre as grandes potencias, colocando em xeque o precário equilíbrio sobre o qual se apoiava a segurança internacional, fazendo fracassar a já combalida Liga da Nações e desencadeando a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Os antecedentes da guerra

Causas Gerais
"... a decisão de qualquer guerra nem sempre deve ser considerada como um caso absoluto: muitas vezes o Estado vencido vê na sua derrota um mal transitório, a que as circunstâncias políticas ulteriores poderão fornecer um remédio." (Clausewitz).

Quase todos os historiadores concordam que a causa diplomática mais profunda da Segunda Guerra Mundial tem sua origem no Tratado de Versalhes, assinado entre as potências vencedoras da Primeira Grande Guerra (sobretudo Inglaterra e França) e as Vencidas (a Alemanha e a Áustria). A Alemanha se viu despojada da Alsácia-Lorena (que havia conquistado na guerra franco-prussiana de 1870), como teve de ceder à Polônia uma faixa de seu território que lhe dava acesso ao Mar Báltico (o chamado "corredor polonês"). A cidade alemã de Danzig passou ao controle da Liga das Nações e o território do Sarre, rico em carvão foi cedido por um período de 15 anos à França. Também foi vedado a Alemanha possuir um exército superior a 100 mil homens exigiu-se a desmilitarização da Renânia (Região fronteiriça com a França), assim como o desmantelamento das fortificações situadas a 50 Km do Reno. Viu-se compelida a entregar todos os navios mercantes cuja tonelagem ultrapassasse a 1.600 toneladas e ceder gado, carvão, locomotivas, vagões, cabos submarinos, etc. A totalidade da sua dívida para com os aliados foi fixada na Conferência de Bologne (21 de junho de 1920) em 269 bilhões de marcos-ouro a serem pagas em 42 anuidades. Não poderia desenvolver pesquisas bélicas, possuir submarinos ou realizar projetos militares (aviões, canhões, etc.).
O velho Império Austro-Húngaro foi desmembrado pelo tratado de Paz de St. Germain, onde teve que entregar o Tirol do Sul para a Itália, reconhecer a Independência da Hungria, Tchecoslováquia, Polônia e Iugoslávia, além de lhe ser vedada a união com a Alemanha. A Áustria foi proibida de possuir um exército superior a 30 mil homens.
Estas sanções aplicadas pelos vencedores tornaram-se fonte de amargos rancores, que facilmente foram explorados pela extrema direita nacionalista (nazistas que começam a proliferar na Alemanha em 1919).
Com seus 65 milhões de habitantes e sua tradição militar, a Alemanha fatalmente viria reivindicar o seu lugar no rol das potências européias. Os diplomatas burgueses se esqueceram da lição do Congresso de Viena (1815), quando os vencedores de Napoleão procuraram não humilhar a França, a nação mais povoada da Europa Ocidental naquela época. Esta contradição entre potencial demográfico e industrial e o não reconhecimento diplomático de um estatuto privilegiado para a Alemanha, terminaram por fazer com que a ascensão de Hitler fosse possível.
A crise econômica que se abate sobre o sistema capitalista mundial a partir de 1929, vai ser o fator mais poderoso para que um novo arranjo do poder em escala mundial seja pleiteado. A crise levou os países capitalistas a tomarem medidas protecionistas visando salvar os mercados internos das importações estrangeiras, ocorrendo uma verdadeira guerra tarifária. A produção mundial reduziu-se em 40%, sendo que a diminuição do ferro atingiu a 60%, a do aço 58%, a do petróleo 13% e a do carvão 29%. O desemprego grassou nos principais países industrializados: 11 milhões nos Estados Unidos, 6 milhões na Alemanha, 2 milhões e meio na Inglaterra e um número um pouco superior na França.
Como a economia já estava suficientemente internacionalizada (com exceção da URSS que se lançava nos Planos Qüinqüenais e estava isolada do mundo capitalista) todos os Continentes foram atingidos, aumentando ainda mais a miséria mundial. A América Latina, por exemplo, teve que reduzir em 40% suas importações e sofreu uma queda de 17% em suas exportações. É nesse contexto caótico que a Alemanha, no Ocidente, e o Japão, no Oriente, vão tentar explorar o debilitamento de seus rivais. Uma nova luta por mercados e novas fontes de matérias-primas levaria o mundo à Segunda Guerra Mundial. Esta luta teve como ponto de partida a própria Europa e, no caso do Japão, a Ásia e o Pacifico.
A conjuntura externa caótica e a situação interna de desespero conduzem Hitler ao poder na Alemanha em 1933. Atuando implacavelmente, em menos de um ano sufocou todos os movimentos oposicionistas (sociais-democratas, comunistas, liberais e até no interior do próprio Partido Nazista) dando início à "Revolução Nacional-socialista" que tinha como objetivo fazer a Alemanha retornar ao grau de potência européia.
Naturalmente que para tal empreendimento era necessário romper com o tratado de Versalhes, pois este impedia tanto a conquista do "espaço vital" como o rearmamento. Atenuava-se o desemprego e atendiam-se as necessidades da poderosa burguesia financeira e industrial da Alemanha. Para evitar a má vontade das potências ocidentais, Hitler coloca-se como campeão do anticomunismo a nível mundial, assinando com o Japão (novembro de 1936) e com a Itália (janeiro de 1937) o Pacto Anti-Comintern, cujo fim é ampliar o isolamento da URSS e, quando for possível, atacá-la.
O Japão, que igualmente passa por convulsões internas graves, dá início em 1931, a uma política externa agressiva, explorando o enfraquecimento dos Impérios Coloniais europeus que se mostram impotentes para superar a crise econômica. Em 1937, após ter ocupado a rica região da Manchúria, invade o resto do território chinês, dando início ao longo conflito na Ásia. Seu expansionismo vai terminar por chocar-se com os interesses norte-americanos na Ásia (Filipinas) e levar à guerra contra os Estados Unidos.
Os avanços nazi-fascistas foram recebidos com desagrado pelas democracias ocidentais – Estados Unidos, Inglaterra e França -, mas estas nada faziam para impedi-los ou reprimi-los. Na verdade, as potências capitalistas revelavam-se mais intransigentes com o comunismo soviético do que com as duas versões de direita do totalitarismo. Assim, a cada avanço nazi-fascista, apresentavam seus protestos, mas não assumiam nenhuma atitude concreta para debelar o perigo. Essa política de apaziguamento (expressão cunhada pela liga das nações da qual Inglaterra e França eram integrantes) revelou a falência da sociedade das nações em preservar a paz mundial já que a sua política de “concessões para evitar o confronto” só alimentava os desejos expansionistas do Eixo. Seu ponto culminante foi a Conferencia de Munique em 1938.

Antecedentes imediatos

A Guerra Civil Espanhola (1936/38)
Esta guerra serviu para Hitler experimentar sua estratégia da blitzkrieg (avanço de carros de combate conjugados com bombardeios aéreos maciços) e detectar a indecisão e fraqueza dos aliados ocidentais.

A crise dos sudetos e o acordo de Munique
A ascensão de Hitler ao poder e seu nacionalismo exacerbado fizeram com que os alemães que habitavam países vizinhos, entrassem em ebulição, desejando integrarem-se na Grande Alemanha. Já em março de 1938, Hitler havia anexado a Áustria (Anschluss), tornando-a província do Reich. Com isso a integridade territorial da Tchecoslováquia ficou ameaçada. A Sudetolândia, região fronteiriça com a Alemanha, possuía uma população de origem germânica que perfazia 65% dos habitantes, apesar de legalmente pertencer a Tchecoslováquia desde 1919.
É justamente nesta região que os Tchecos tinham seu sistema defensivo, nos moldes franceses. Hitler começa a exercer pressão junto ao governo tcheco para anexá-la. O perigo de guerra torna-se iminente. Neste exato momento, Chamberlain, primeiro-ministro conservador da Inglaterra e Daladier, Presidente da França, propõem encontrar-se com Hitler em Munique. O Acordo de Munique terminou com uma estrondosa vitória dos nazistas, pois receberam a anuência para poder ocupar a Sudetolândia em troca de uma simples promessa de paz - que não seria cumprida. Esse acontecimento convenceu Hitler ainda mais da debilidade dos aliados ocidentais, estimulando-o a reivindicar a plena integração do "corredor polonês" ao Reich. Em março de 1939 a Tchecoslováquia deixa de ser independente, transformando-se no "Protetorado da Boemia e Morávia".

O pacto Germano-Soviético
Para poder invadir a Polônia, havia a necessidade da neutralização de uma das potências vizinhas da Alemanha. A Inglaterra e a França já haviam cedido a Tchecoslováquia e provavelmente iriam à guerra se a Polônia fosse invadida. Qual a reação da URSS? Hitler, veterano da Primeira Guerra Mundial sabia que a Alemanha não poderia repeli-la, isto é, ser obrigada a lutar simultaneamente, no Ocidente e no Oriente.
Assim pensou fazer um acordo com Stalin, temeroso que uma invasão (os exércitos russos haviam sido desbaratados pelos alemães entre 1914/17) pusesse abaixo as conquistas industriais da Rússia Soviética. Não hesitou. A recente demonstração de fraqueza da Inglaterra e França, fez com que estendesse sua mão calorosamente ao maior adversário do comunismo.
Em agosto de 1939, é assinado o Pacto de não agressão germano-soviético, cujas cláusulas secretas implicam na partilha da Polônia, reconhecendo a hegemonia soviética sobre os Estados Bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia). A estrada para a guerra estava aberta. Em 1º de setembro de 1939, os exércitos nazistas entraram na Polônia, iniciando o que ficou conhecido como segunda guerra mundial.

O desenrolar da guerra
Diante desta nova agressão, Inglaterra e França declararam guerra a Alemanha. A Itália, ao contrário do esperado, permaneceria neutra até 1940.
Utilizando um tática inteiramente nova, a blitzkrieg, os alemães derrotaram rapidamente a Polônia ocidental em cumprimento as clausulas secretas do acordo germano-soviético.
No primeiro semestre de 1940, os alemães ocuparam a Dinamarca e a Noruega. O passo seguinte foi a invasão da Holanda e da Bélgica para chegar a França. Após contornarem a linha maginot, os exércitos alemães cercaram as forças aliadas na praia francesa de Dunquerque, aprisionando milhares de soldados e forçando a retirada de Dunquerque, um dos eventos mais dramáticos da guerra em questão.
Após a vitória em Dunquerque os alemães ocupam Paris em junho de 1940, dividindo a França em dois setores distintos: O Norte, submetido a Berlim, enquanto no sul instalou-se a República de Vichy, um governo pró-nazista liderado pelo Marechal Pétain.
Em seguida travou-se a Batalha da Inglaterra. Os nazistas iniciaram uma ofensiva naval e aérea contra Londres, que foi bombardeada sistematicamente a partir de Setembro de 1940. Contudo, a ação defensiva da RAF (Real Força Aérea inglesa) e a supremacia da Inglaterra no canal da mancha evitaram a invasão da Inglaterra pelas forças de Hitler. Ainda em 1940, a Itália declarou guerra a França e a Inglaterra e o conflito alastrou-se para o mediterrâneo, Ásia e África.
Em junho de 1941, os alemães abriram uma nova frente de batalha, invadindo a União Soviética. Paralelamente, as ações japonesas no extremo oriente preocupavam Washington, que exigia de Tóquio a retirada das zonas ocupadas na China. Em dezembro de 1941, o Japão desfechou de surpresa um ataque aéreo contra a base naval norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, onde se encontrava a frota americana do Pacifico e um grande número de aviões. Em resposta, o governo norte-americano declarava guerra ao eixo. A partir daí, o conflito assumiria proporções mundiais desenvolvendo-se em três frentes: a ocidental, a oriental e a do pacífico.

A guerra no ocidente
Em outubro de 1942 os alemães sofreram decisiva derrota para as forças inglesas comandadas pelo General Montgomery, na batalha de El Alamein, no Egito. A seguir, forças anglo-americanas, sob o comando do General Eisenhower, impuseram nova derrota aos Afrikakorps de Rommel.
Libertado o norte da áfrica, o exercito americano invadiu a Itália. O Duce foi destituído e se refugiou no norte do país onde, com apoio alemão, fundou a república social italiana, em setembro de 1943. Enquanto isso, o Rei Vitor Emanuel III se rendia em Roma, mas as tropas alemãs sediadas na Itália Central continuaram a combater. A essa altura, soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), também lutavam na Itália contra os alemães. Preso quando tentava fugir para a Suíça, Mussolini foi fuzilado por militantes da resistência italiana em 1945.

A guerra no oriente, no Pacífico e o desfecho do conflito
O inicio da invasão alemã sobre a União soviética foi fulminante. Em setembro de 1941 as forças nazistas já estavam as portas de Moscou. Mas não bastava tomar a capital soviética. Os nazistas queriam destruir Leningrado, a cidade símbolo da revolução de 1917. Ali começaram os problemas para os alemães. Em Leningrado a resistência soviética era feroz. O cerco alemão sobre a cidade durou dois anos, mas a cidade jamais se rendeu. Ao mesmo tempo, aproximava-se o terrível inverno das estepes russas, responsável pela derrota de Napoleão no século XIX. Em Moscou, a ofensiva alemã fracassou.
Fracassado o ataque a capital soviética, restava Stalingrado. Ali, durante cinco meses, os dois exércitos lutaram, as vezes a uma temperatura inferior a 21 graus abaixo de zero, rua a rua. Em fevereiro de 1943 o 5º exército alemão se rendeu. Após essa derrota tem inicio o declínio do poderio nazista na segunda guerra mundial. A vitória de Stalingrado e o reforço representado pelas armas norte-americanas deram aos aliados a confiança de que podiam derrotar as Forças do Eixo. A guerra entrou, então, em sua fase final, que foi o avanço aliado. Saindo da Inglaterra e do norte da África, os exércitos aliados avançaram sobre as posições conquistadas pelos alemães, fazendo as tropas nazistas recuarem. Essa movimentação começou em maio de 1943 e não parou até maio de 1945, quando Berlim foi invadida pelos aliados.
Uma das mais importantes etapas do avanço aliado foi o Dia D, o Desembarque na Normandia. No dia 6 de junho de 1944, milhares de soldados aliados desembarcaram no norte da França, atacando os exércitos nazistas na base ocidental. Paralelamente, o exército vermelho soviético conquistava as posições nazistas no leste europeu. Sucessivamente, Bulgária, Hungria, Tchecoslováquia, Polônia e Finlândia foram libertadas. No dia 2 de maio de 1945, as tropas soviéticas tomaram Berlim e decretaram a derrota alemã.
No Pacífico, a guerra ainda não terminara. O governo do Japão prosseguiu a luta após a derrota alemã por meio dos Kamikazes, pilotos de avião que se lançavam contra alvos militares em ataques suicidas. Diante disso e da perspectiva de uma longa guerra contra um exército ainda bastante numeroso, o governo norte-americano decidiu lançar mão da bomba atômica, a mais destrutiva arma jamais inventada pelo ser humano. Em agosto de 1945, duas dessas bombas atingiram as cidades de Hiroshima e Nagazaki. Com elas, o mundo ingressa na era nuclear.
A União Soviética, aproveitando-se da tragédia, declarou guerra ao Japão, invadindo a Manchúria e a Coréia e ocupando as ilhas Kurilas e de Sacalina. Em setembro de 1945 o Japão se rendeu, passando a ser dirigido por um governo militar norte-americano, que deu inicio ao processo de democratização do país.

Os acordos de paz
Em fevereiro de 1945, quando já se tornara claro que a derrota do eixo era questão de tempo, os lideres dos Estados Unidos (Franklin Roosevelt), da Inglaterra (Winston Churchill) e da União Soviética (Stálin) reuniram-se na Conferência de Yalta, na Criméia, as margens do mar negro, para acertar os detalhes da ofensiva contra a Alemanha, fixar as zonas de ocupação sobre o território germânico e reformular o mapa europeu.
Em julho de 1945, foi assinado o Acordo de Potsdam, que definiu a ocupação e divisão da Alemanha em duas áreas, uma controlada pelos soviéticos e outra controlada por ingleses, franceses e norte-americanos. A cidade de Berlim, que estava situada em território soviético, também foi dividida da mesma forma. Além disso, a Alemanha pagaria as reparações de guerra na forma de máquinas, equipamentos e navios mercantes; perderia extensas porções do seu território, suas forças armadas seriam completamente desmobilizadas e seu parque industrial reduzido. Em Potsdam também foi definida a criação do tribunal de Nuremberg, para julgar os crimes de guerra cometidos pelos nazistas.
Em abril e junho de 1945, na Conferencia de São Francisco, foi definida a criação da ONU, Organizações das Nações unidas, que deveria exercer o papel de mediadora nos conflitos internacionais a fim de evitar novas tragédias.

Algumas conseqüências
O mundo que emergiu do terrível conflito era bastante diferente daquele que existia em 1939. As potências do Eixo estavam esmagadas, mas também a Grã-Bretanha e a França saíram debilitadas da guerra. Para definir a nova relação de forças internacionais, cunharam-se duas expressões: superpotências e bipolarização – mostrando que o planeta se encontrava dividido em duas zonas de influência econômica, política e ideológica, controladas respectivamente pelos EUA e URSS. Do confronto entre ambos (Guerra Fria) resultaram a Guerra da Coréia (1950–53), a Guerra do Vietnã (1961–75) e a Guerra do Afeganistão (1979–89). Somente em 1985, com o início da Perestroika (reestruturação econômica) e da Glasnost (transparência política), implantadas por Gorbachev na URSS, esse cenário instável começou a se desfazer.
O socialismo marxista ganhou considerável impulso com o crescimento do poder soviético, após a Segunda Guerra Mundial. Além dos países da Cortina de Ferro (Europa Central e Oriental), passaram a ter governos comunistas Estados do Extremo Oriente (China, Coréia do Norte, Vietnã, Laos, Camboja), do Oriente Médio (Iêmen do Sul), da África (Angola, Moçambique, Etiópia) e até mesmo da América Latina (Cuba, onde Fidel Castro se transformou no mais antigo ditador do mundo – esteve no poder desde 1959 até o início do atual século).
Politicamente, o final da guerra marca também o declínio do poder da Europa ocidental no mundo. Os Estados Unidos e a União Soviética surgiram como as duas únicas grandes potências políticas, econômicas e militares em torno das quais o restante dos países do mundo se alinhou.
Outras conseqüências da Segunda Guerra Mundial foi o progressivo declínio dos impérios coloniais europeus. Os Estados europeus, que lutaram contra o imperialismo alemão, não tinham como justificar seu imperialismo sobre outros povos.
A Segunda Guerra Mundial marcou também o início da era atômica. Em pouco tempo, além dos Estados Unidos, a União Soviética e outros países passaram a dispor de armas atômicas.
A segunda guerra mundial também marcou, em definivo, o declinio da hegemonia capitalista européia, cujas potencias foram suplantadas pelo Estados Unidos da América. Assim, os custos materiais também foram espantosos: cidades em ruínas; pontes, sistemas ferroviários, vias fluviais e portos destruídos; terras agrícolas abandonadas, gado morto e minas de carvão desabadas. Muitas pessoas, famintas e sem lar, vagando pelas ruas e estradas. A Europa tinha pela frente uma tarefa imensa de reconstrução, que realizou com impressionante rapidez graças a ajuda econômica norte-americana.
O número de vítimas da Segunda Guerra Mundial foi sem precedentes. Morreram aproximadamente 46 milhões de pessoas: cerca de 26 milhões de soviéticos, 4 200 mil alemães, 4 320 mil poloneses (a maioria judeus), 2 milhões de japoneses, 400 mil americanos e 370 mil ingleses.
Finalmente, os avanços tecnológicos provocados pela guerra resultaram em numerosas aplicações pacíficas, que vão desde a penicilina até o radar ou a propulsão a jato para os aviões.

A ASCENSÃO DO TOTALITARISMO

A ascensão do totalitarismo (1922 – 1938)
No período Entre guerras proliferaram os regimes totalitários, governos militarizados, que baseavam seu poder na força das armas e da propaganda política. São considerados por muitos historiadores como reações nacionalistas extremadas as perdas que alguns países sofreram ao fim da primeira guerra mundial.
Os efeitos da Primeira Guerra Mundial e da crise econômica que se abateu sobre a Europa, por toda a década de 1920, geraram uma insegurança quanto ao futuro de muitos países. O desemprego em massa, a constante alta do custo de vida e as dificuldades em solucionar essas questões criaram uma descrença no Liberalismo e nos valores democráticos.
Por outro lado, havia o exemplo da Rússia, que aparentava manter-se protegida da crise que assolava o restante da Europa. A revolução proletária parecia ter dado certo, não se falava de desemprego e de carestia no Estado socialista. Era natural que uma grande parte da classe trabalhadora chegasse à conclusão de que a solução definitiva para seus problemas era o processo revolucionário. Por isso, em alguns países, sobretudo na Itália e na Alemanha, as teses socialistas ganhavam cada vez mais adeptos.
A crise econômica sem perspectiva de soluções combinada com o desgaste dos regimes parlamentaristas, aliadas à expansão do Socialismo, assustou a burguesia, que acabou buscando nos movimentos nazi-fascistas o apoio que lhe garantiria a manutenção da propriedade privada e a repressão aos que pensavam em acabar com seus privilégios, sobretudo os grupos políticos de esquerda.




Princípios do Totalitarismo Nazi-Fascista
· Valorização do Estado (totalitarismo). Ancorados no pressuposto de que nada deve existir acima do Estado, fora dele ou contra ele, os nazistas e fascistas depositavam os destinos da nação nas mãos do Estado e o governante acabava por encarnar o Estado.
· O autoritarismo, regime político em que é postulado o princípio da autoridade que é aplicada com freqüência em detrimento das liberdades individuais. Pode ser definido como um comportamento em que uma instituição ou pessoa se excede no exercício da autoridade de que lhe foi investida. Na Alemanha nazista e na Itália fascista estava relacionada a autoridade suprema de seus líderes, o Duce (italiano), Benito Mussolini, e o Führer (alemão), Adolf Hitler.
· Supervalorização da nação em detrimento do individuo (nacionalismo), baseado no principio de que a organização nacional é a mais alta forma de corporificação da sociedade.
· Xenofobia. Conduzido ao extremo, chegou, na Alemanha, a idéia de superioridade da raça ariana e a prática da solução final contra judeus (Antissemitismo) e outros grupos considerados inferiores.
· Militarismo. Pregava a “função regeneradora da guerra”, na solução dos problemas econômicos e sociais.
· Anticomunismo. O comunismo marxista foi identificado como principal inimigo do totalitarismo de direita. Os fascistas e nazistas afirmavam que o comunismo promovia a desunião e enfraquecimento nacional já que estava fundamentado na idéia de luta de classes.
· Corporativismo: Peculiaridade do totalitarismo italiano. O povo, produtor de riquezas, organizava-se em corporações sindicais, que governavam o pais através do partido fascista, que era o próprio Estado. Negava-se a existência da oposição entre classes porque cabia ao Estado harmonizar os interesses sociais.
Um dos mais conhecidos lemas do Nazi-Fascismo – Acredita! Obedece! Luta! -, resume os princípios fundamentais dessa doutrina. Acreditar nos pressupostos da doutrina. Obedecer cegamente ao líder. Lutar contra os adversários da doutrina.
É preciso refletir sobre o apoio da população de países como Alemanha e Itália aos princípios nazi-fascistas. Havia forças muito significativas trabalhando contra a liberdade. Em primeiro lugar, grande parte da população da Europa vivia um período de incertezas: as lideranças nazi-fascistas, habilmente, prometiam um futuro de gloria e de riqueza (Na versão nazista o III Reich; na versão fascista o resgate da glória do antigo Império Romano) e a destruição daqueles que “eram os responsáveis pelo sofrimento”, identificados como comunistas, democratas, judeus, homossexuais, ciganos, poloneses, eslavos e outras “minorias”. Ao refletir sobre esta questão o escritor Goldhagen escreveu:
“A revolução nazista alemã, assim como todas as revoluções, teve duas forças propulsoras fundamentais: um empreendimento destrutivo – uma completa revolta contra a civilização – e um empreendimento construtivo – uma tentativa singular de construir um homem novo, um corpo social novo e uma nova e nazificada ordem na Europa e além. Foi uma revolução incomum, que, internamente, era realizada - apesar da repressão à esquerda nos primeiros anos - sem coerção e violência maciças. Essa revolução significava em primeiro lugar a transformação das consciências - inculcar um novo etos [costumes, hábitos, comportamentos] nos alemães. Em sua maior parte, foi uma revolução pacífica, voluntariamente aceita pelo povo alemão. Dentro de casa, a revolução nazista germânica foi, como um todo, consensual”. (GOLDHAGEN, Daniel Jonah. Os carrascos voluntários de Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 486).
Ao lado dessa promessa de futuro grandioso, havia uma intensa propaganda que tinha o objetivo de seduzir as mentes mais resistentes. Eram constantes as demonstrações do poderio militar, a mistificação do líder, a criação de valores que engrandeciam a figura dos militares em relação ao restante da sociedade. Essas peças de propaganda não eram casuais, havia uma elaboração muito bem pensada, discutida pelo alto escalão dos partidos e aplicada de acordo com os mais modernos princípios da comunicação em massa da época. “Joseph Goebbels foi o porta-voz do nazismo e utilizou-se do rádio, do cinema, do teatro e da literatura para divulgar a sua convicção totalitária e fidelidade a Hitler. ‘Bem educado e muito inteligente, foi um grande mestre na arte de influenciar as massas, um demagogo nato e um tático astucioso na política do poder. Ninguém como ele foi capaz de usar com tamanha audácia a mentira como instrumento político. Até hoje os especialistas no assunto não conseguem concordar a respeito de qual dos dois – Hitler ou Goebbels – foi o melhor orador. Goebbels, ao contrário de Hitler, permanecia totalmente frio, mesmo nos comícios mais intoxicantes. Nunca foi muito popular. Incapaz de controlar sua língua, quase não tinha amigos. Mas o pequeno Schrumpfgermane (o “alemão escolhido”) sabia como conquistar respeito.”. (JANSSEN, K. H. Hitler e seus adeptos. In: Século XX, p.1432).
O totalitarismo de direita se expandiu porque encontrou uma conjuntura social favorável; o discurso nazi-fascista proferia o que as pessoas queriam ouvir e o Estado oferecia apoio aos que se encontravam abandonados pelo poder publico.

O Estado Fascista Italiano
Em meio a crise que se abateu sobre a Itália após a Primeira Guerra Mundial, as forças políticas se polarizaram. As classes trabalhadoras, embaladas nas teses comunistas, se organizavam e promoviam greves e manifestações públicas contra o Estado, uma monarquia parlamentar desmoralizada ao fim da primeira guerra mundial.
Foi então que ganhou destaque o Partido Fascista, fundado em 1919 por Benito Mussolini e a milícia paramilitar do partido, os camisas negras. Criado a partir da propaganda anticomunista, da defesa da pátria e da propriedade privada, o Partido Fascista ganhou a simpatia e o apoio financeiro da burguesia italiana.
Diante das dificuldades da policia em reprimir as manifestações populares, as elites passaram a usar a milícia fascista contra os trabalhadores. Em 1922, em meio a uma onda de greves, os fascistas perceberam que essa era a conjuntura ideal para tomar o poder. Sob alegação de que pretendiam restaurar a ordem pública cinqüenta mil camisas negras se deslocaram para a capital italiana e realizaram o que ficou conhecido como Marcha sobre Roma. Além de reprimir a população que estava nas ruas, os fascistas exigiram o controle do poder ao Rei Vitor Emanuel III. O governo não teve como reagir àquela força que cresceu e se armou sob o beneplácito das elites e do Estado e o monarca convocou Mussolini para organizar o gabinete ministerial.
Depois do assalto ao poder, os fascistas trataram de eliminar seus opositores. O Líder socialista Mateotti foi assassinado e, em 1925, o governo totalitário foi integralmente constituído. Mussolini foi aclamado Duce, o condutor supremo da nação, com o apoio da Confederação Geral das Indústrias.
O governo fascista tratou de recuperar a economia incentivando a produção agrícola e industrial. Em 1929, ganhou o apoio da igreja Católica ao assinar o Tratado de Latrão, que reconhecia a soberania do Estado católico do Vaticano. Na década de 1930, para superar os prejuízos causados pela crise de 1929, incentivou a indústria bélica, e a propaganda fascista passou a proclamar os benefícios da guerra. A Itália se preparava para a Segunda Guerra Mundial.

A Revolução Espanhola (1936-1939)
Também conhecida como Guerra Civil Espanhola, o conflito ocorrido na Espanha entre 1036 e 1939 pode ser considerado como parte da expansão nazi-fascista pelo continente europeu.
Uma ampla frente popular, formada por anarquistas, sindicalistas, democratas e comunistas, venceu os partidos conservadores nas eleições de 1935. Foi formado um governo de lideranças socialista que adotou, como uma de suas primeiras medidas, a retomada do projeto de reforma agrária que já havia sido aprovado em 1931.
As propostas socialistas do novo governo e a pressão popular exigindo o aprofundamento das reformas do Estado levaram os reacionários à formação de uma coligação que foi denominada Partido da Falange. Nele estavam agrupados membros da elite agrária, o alto clero e o exército. O partido adotava os pressupostos fascistas e seu líder era o General Francisco Franco, que recebeu ajuda militar e financeira dos governos totalitários da Alemanha e da Itália.
Colocaram-se contra a Falange, na defesa da Republica, as forças democráticas da Espanha, os grupos políticos representados no governo, os bascos e catalães, as milícias populares nacionais e as Brigadas Internacionais, que eram grupos de militantes de esquerda de vários países, incluído o Brasil, que voluntariamente se apresentavam para lutar ao lado das forças republicanas.
No dia 18 de julho de 1936, os militares alinhados na Falange iniciaram uma sublevação que foi o estopim do confronto entre as duas forças antagônicas da sociedade espanhola. A guerra durou três anos e foi uma das mais cruentas do século XX. Os nazistas, que estavam se preparando militarmente para um novo confronto com a Inglaterra, aproveitaram a guerra espanhola para testar suas novas armas, que matavam indiscriminadamente soldados e população civil.
As brigadas internacionais e as milícias nacionais resistiram bravamente ate 1939, mas o poderio militar que os nazistas colocaram nas mãos dos exércitos falangistas era, naquela época, imbatível. As forças republicanas foram derrotadas e Franco impôs aos espanhóis um governo totalitário de cunho fascista que durou ate 1975, ano da morte do ditador.
O Estado totalitário espanhol tinha algumas características específicas como a submissão do Estado às Forças Armadas, o excessivo clericalismo, o incentivo às atividades agrícolas e o desinteresse pela expansão territorial.

A Ditadura em Portugal
O Estado totalitário em Portugal foi organizado por Antônio de Oliveira Salazar, que foi conduzido ao poder pelos militares em 1928. Salazar era um político católico adversário dos republicanos, que teve como principais grupos de apoio a Igreja, o exército, os latifundiários e os capitalistas ligados à indústria.
O ditador português criou um aparato jurídico-administrativo copiado do modelo italiano, que lhe garantia poderes excepcionais. A legislação proibia as greves, as eleições livres, a formação de partidos políticos e os sindicatos livres. Era um regime de partido único e que usava a policia política (PIDE) para perseguir e punir os opositores do governo.
A ditadura instituída por Salazar sobreviveu à sua morte, em 1968. A Revolução dos Cravos, ocorrida em 1974, com a participação de vários segmentos da sociedade portuguesa, derrubou o governo totalitário, que já estava perto de completar meio século, e instituiu um governo democrático.

O Estado Nazista Alemão
As sanções impostas pelo Tratado de Versalhes mergulharam a economia alemã em uma crise sem paralelo no período. O fim da guerra significou também o fim do poder do Kaiser e a criação da Republica de Weimar (1918-1933), de orientação social-democrata. A nova República não teve meios de recuperar a economia por causa da evasão de divisas provocada pelo pagamento das multas exigidas pelos países vencedores da guerra. Além disso, teve de enfrentar muitas greves e conflitos sociais, e precisou combater opositores de direita e de esquerda.
No começo da década de 1920, a Alemanha entrou em um processo inflacionário que inviabilizou a sua vida econômica. A inflação chegou ao patamar absurdo de mais de 30 000% ao mês, em 1923.
O contexto de hiperinflação provocou uma severa concentração de rendas, o empobrecimento das classes media e a condenação das classes trabalhadoras à condição de miséria. De forma mais aguda do que em outros países em crise, a população alemã encontrava-se sem perspectivas de futuro: o governo de Weimar atuou mais nas repressões aos movimentos populares do que na busca de soluções para as dificuldades das classes pobres.
O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NAZI) foi fundado em 1919, com idéias semelhantes às do Partido Fascista, criado na Itália no mesmo ano. Em 1923, os nazistas, liderados pelo Marechal Landendorf e por Adolf Hitler, tentaram, sem sucesso, tomar o poder. A tentativa de golpe, que foi denominada Putsch de Munique, resultou na prisão de seus organizadores.
A crise de 1929 interrompeu o processo de recuperação econômica da Alemanha, que, desde 1924, tentava sair das dificuldades. Milhões de trabalhadores (44% da população) perderam seus empregos, o que gerou uma reativação das idéias socialistas e dos movimentos populares. Temendo a crise social, a burguesia e as camadas médias procuraram apoio nos partidos de direita, que combatiam o Comunismo e propunham um governo forte, capaz de reprimir qualquer revolta social
Nessa época, as milícias nazistas, as SA, que funcionavam como grupos paramilitares de oposição a esquerda, ganharam grande prestigio por sua ação contra os comunistas. O prestigio das SA fez do Partido Nazista e de seu líder uma das mais importantes forças políticas do começo da década de 1930. Por isso, em 1933, Hitler foi nomeado para o cargo de Chanceler, que correspondia a chefia do governo. De posse da Chancelaria, o líder nazista organizou uma série de golpes, como mandar incendiar o Parlamento (Reischtag) e acusar os comunistas do crime para justificar a instalação de um governo totalitário. Esses golpes tinham a função de permitir total liberdade de ação ao ditador.
Em 1933, Hitler, apoiado pela alta burguesia, assume o cargo de 1º ministro e inicia o processo de governo ditatorial e expansionista que levará o mundo à Segunda Guerra Mundial.
Os nazistas estruturam uma ditadura totalitária sustentada na força das armas; nas milícias especiais como as SA (seções de assalto), as SS (seções de segurança) e a Gestapo (Policia Política); na eficiência da propaganda; no apoio dos grupos conservadores da sociedade; e, destacadamente, na crescente militarização do Estado. Em 1935, o chefe dos nazistas adotou o titulo de Fuhrer e fundou o III Reich.


Texto complementar 01: Do “Mein Kampf” (Minha Luta).

“O objetivo da nossa luta deve ser o da garantia da existência e da multiplicação de nossa raça e do nosso povo, da subsistência de seus filhos e da pureza do sangue, da liberdade e independência da Pátria, a fim de que o povo germânico possa amadurecer para realizar a missão que o criador do universo a ele destinou.”. (Minha Luta, Primeira Parte, Capítulo VIII, Começo de minha atividade política.).

“O homem que desconhece e menospreza as leis raciais (...) impede a marcha triunfal da melhor das raças, com isso estreitando também a condição primordial de todo o progresso humano”.

“O que hoje se apresenta a nós em matéria de cultura humana, de resultados colhidos no terreno da arte, da ciência e da técnica, é quase que exclusivamente produto da criação do Ariano. É sobre tal fato, porém, que devemos apoiar a conclusão de ter sido ele o fundador exclusivo de uma humanidade superior.”. (Minha Luta, Primeira Parte, Capítulo XI, Povo e Raça.).

“(...) o Estado deve ter como seu mais alto objetivo a conservação e aperfeiçoamento da raça, base de todos os progressos culturais da humanidade.”. (Minha Luta, Segunda Parte, Capítulo II, O Estado). (HITLER, Adolf. Minha Luta. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1934. pp. 184-327.).

“(...) o judeu não é movido por outra coisa senão pelo egoísmo individual nu e cru (...) Por isso também é que o povo judeu, apesar de suas aparentes aptidões intelectuais, permanece sem nenhuma cultura verdadeira e, sobretudo, sem cultura própria. O que ele hoje apresenta, como pseudo-civilização, é o patrimônio de outros povos, já corrompidos nas suas mãos.”. (HITLER, Adolf. Minha Luta. Primeira Parte, Capítulo XI, Povo e Raça. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1934. p. 255.)
"Der ewige Jude" (“O eterno Judeu”; 1940), pôster do mais famoso filme anti-semita da propaganda nazista. Mostra os judeus da Polônia como corruptos, ladrões, preguiçosos, perversos e feios.

Texto Complementar 02: O Fascismo.
O Fascismo é em primeiro lugar um nacionalismo exacerbado. A nação, sagrada, é o bem supremo. O seu interesse exige uma tripla coesão interna, política, social e étnica, e exige também a supressão de qualquer dos antagonismos que a dividem e enfraquecem.
Para que a nação tenha a certeza de poder viver e prosperar, o Estado deve ser forte. A centralização suprimirá os particularismos regionais; o Estado fará prevalecer o interesse coletivo sobre os dos indivíduos, dos grupos profissionais ou das classes sociais. (...) O Estado será policial e a Justiça estará às suas ordens.
O Estado forte encarna-se num chefe, providencial, guia e salvador da nação, erguido da massa pelo impulso da sua personalidade; a sua palavra é a lei e é também a verdade. (MICHEL, Henri. Os Fascismos. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977. pp. 13-20.).

A CRISE DE 1929

A crise de 1929
Os acontecimentos de 1929 foram definidos como uma crise de superprodução, como explica Leo Huberman: “... a crise que começou a existir com o advento do sistema capitalista,... parece parte e parcela do nosso sistema econômico; é caracterizado não pela escassez, mas pela superabundância. Nela os preços, ao invés de subirem, caem.” (Historia da Riqueza do Homem).
Até a Primeira Guerra Mundial, a maior parte do mundo era abastecida por produtos industrializados vindos da Europa, principalmente da Inglaterra. Naquela época, as fábricas dos Estados Unidos produziam para o mercado interno e para outros países da América. Durante a guerra, as empresas estadunidenses passaram a vender para antigos clientes dos europeus. Para aumentar a produção, os industriais fizeram investimentos por meio de empréstimos bancários ou com o lançamento de ações na bolsa de valores. Esse movimento foi acompanhado por empresas de outros países, levando a um aumento da capacidade de produção mundial. Investir no parque industrial nesse período tornou-se um negócio extremamente lucrativo nos EUA, pois a concorrência havia enfraquecido no mercado internacional.
Porém, com o final do conflito, as firmas européias se reconstituíram aos poucos, buscando retomar seus antigos mercados. Mesmo assim, as companhias estadunidenses não paravam de crescer e elas dependiam de mercados externos para vender sua produção. A euforia da economia veio acompanhada por uma forte onda especulativa do mercado financeiro - a esperança no lucro certo das empresas e negócios estadunidenses incentivava a população a investir sua renda na compra de ações. Ao mesmo tempo, a euforia consumista formou uma grande classe média beneficiada pela baixa dos alimentos, a concessão de crédito e o aumento salarial. Uma bela casa recheada com eletrodomésticos e um carro na garagem simbolizavam a vitória do chamado “american way of life” (modo de vida americano).
Assim, os EUA emergem da primeira guerra mundial como maior produtor industrial mundial, maior exportador de capitais e maior credor em nível internacional sem, no entanto, contarem com uma demanda externa que absorvesse o seu excedente produtivo e de capitais obsoletos. Parte das economias européias, antes assoladas pelo conflito da Primeira Guerra, deram sinais claros de recuperação e diminuíram drasticamente sua demanda pela produção norte-americana.
Com o fim da Primeira Guerra, a euforia consumista teve de ser refreada. O ritmo de produção do período de guerra era muito maior do que o suportado por uma economia em tempos de paz. Aos poucos, a diminuição do ritmo de produção e a redução na margem de lucro das empresas foram dando sinais de um processo de recessão da economia dos EUA – o desemprego começou a crescer no país. Não tendo como escoar sua própria produção, as empresas reduziram os gastos com mão-de-obra para equilibrar suas finanças. O cidadão americano, acostumado com a estabilidade econômica, contraiu dívidas com a esperança de pagá-las com o retorno financeiro dado pela especulação na bolsa de valores.
Esse processo desenvolvido ao logo dos anos de 1920, logo apresentou um quadro desastroso à economia dos EUA. O poder de compra do salário reduziu-se drasticamente. A indústria não conseguia escoar a riqueza produzida. No campo, estoques inteiros se acumulavam à espera de preços que, no mínimo, cobrissem as despesas com a produção. Em 1928, mais de 4 milhões de pessoas não tinham trabalho. No ano seguinte, o mercado financeiro deflagrou o golpe final na economia.
Em 1929, a retração da produção e do consumo afastou os cidadãos estadunidenses do mercado financeiro. Nas bolsas de valores, a incessante venda das ações estimulou a queda no valor das mesmas. No mês de outubro a situação alcançou situação alarmante. Sem o interesse na compra, vários especuladores, empresários e cidadãos comuns viram suas ações perderem o seu valor monetário. No dia 24 daquele mês foi anunciado o “crash” (quebra) da Bolsa de Valores de Nova York. Como se diz no Jargão do mercado, “a Bolsa quebrou”. Bilhões de dólares investidos no mercado de ações desapareceram de um dia para o outro. Fortunas construídas através da especulação desmancharam-se no ar como fumaça e milhares de empresas faliram (segundo VICENTINO, 85.000 empresas e 4.000 bancos).
Tinha início o período da Grande Depressão, que só começaria a ser enfrentada em 1933. O ritmo da produção caiu para a metade, milhares de empresas pediram falência, os salários despencaram e uma massa de desvalidos tomou conta das cidades dos Estados Unidos. A crise norte-americana repercutiu no mundo todo (DEPENDENTE DOS CAPITAIS NORTE-AMERICANOS). Nações que tinham dívidas com os EUA suspenderam as importações e as nações agro-exportadoras perderam um dos seus mais importantes mercados consumidores, a exceção foi a URSS que vinha desenvolvendo sua economia sem dependência das finanças externas.
Além de configurar a crise da economia dos EUA, a quebra da bolsa e a grande depressão exigiram a remodelação do sistema econômico capitalista.

O New Deal (1933-1939)
A crise iniciada em 1929 começou a ser combatida em 1933, quando foi eleito Franklin Delano Roosevelt, que baseou sua campanha eleitoral na promessa de atacar a crise. Sua primeira ação foi quebrar os pressupostos do Liberalismo econômico e promover uma intervenção do Estado na economia através de um plano econômico denominado New Deal. A equipe que montou o plano entendia que o Estado deveria fornecer os meios para que as pessoas voltassem a consumir, reaquecendo, assim, a economia. Dessa forma, o salário-desemprego e a formação de frentes de trabalho subvencionadas pelo governo deixavam de ser considerados gastos e passaram a ser entendidos como investimentos.
As medidas adotadas pelo New Deal, para estimular a economia e debelar a crise foram:
· Criação do salário-desemprego.
· Estimulo a atividades que geravam empregos, mas que não resultavam em produção de bens, como a construção ou reparo de obras publicas.
· Aumento dos salários dos trabalhadores de baixa renda.
· Controle dos preços dos produtos de primeira necessidade.
· Empréstimos estatais aos produtores agrícolas arruinados.
O New Deal deu resultado e a economia norte-americana conseguiu se recuperar em apenas dez anos. O plano dos economistas contratados por Roosevelt representou o resgate do Capitalismo através da criação de um novo caminho que incluía a intervenção do Estado para evitar crises e abusos econômicos. Essa idéia central estava fundamentada nas teorias do economista John Maynard Keynes e, por isso, foi batizada de Keynesianismo ou neocapitalismo.
Por outro lado, as nações européias prejudicadas com a crise responderam a seus problemas com a eclosão de movimentos socialistas e o surgimento de governos totalitários. Na Itália e na Alemanha, o movimento nazi-fascista pregava medidas radicais contra a miséria econômica e o caos social. Os movimentos de esquerda ganharam mais força, trazendo o ideário comunista como solução para a crise. Em pouco tempo, uma nova guerra mundial veio discutir o jogo político-econômico internacional.

A Revolução Russa

A Revolução Russa (1917) – Da revolução de 1917 ao Stalinismo

Introdução
Já se tornou lugar comum afirmar que a Revolução Russa de 1917 tem o mesmo significado para o século XX do que a Revolução Francesa para o século XVIII. Ambas foram formidáveis movimentos de massas e idéias que deram novo perfil a História da Humanidade: transformaram a vida de milhões e empolgaram ou aterrorizaram outros tantos. A bibliografia sobre ambas é vastíssima e continuam provocando polêmica - mais a russa do que a francesa. Seu raio de ação e influência deslocou qualquer outro movimento anterior. Nem o Cristianismo, nem o Islamismo, nem o Budismo, nem qualquer outro movimento de massas e idéias atingiu seu ecumenismo. Naturalmente que isto se deveu a maior integração econômica e comercial do mundo, assim como pelo desenvolvimento das comunicações.
A presente exposição trata de destacar mais os aspectos teóricos do que os fatos que levaram a Rússia a Revolução. A primeira parte consta de uma síntese das principais idéias que forjaram o pensamento revolucionário de 1917 acompanhada da situação que se seguiu. Também dá destaque às transformações econômicas e políticas produzidas durante o período Stalinista (1928/53). No final do texto encontra-se um pequeno organograma sobre o socialismo e suas divisões.

As idéias: o socialismo
Como nosso tema é a Revolução Russa e suas conseqüências, vamos nos ater ao movimento de idéias que a inspirou para posteriormente desenvolvermos os principais eventos.
Para alguns historiadores o Socialismo surgiu durante a Revolução Francesa, como uma de suas correntes subterrâneas, o movimento de Graco Babeuf. No entanto, ele tornou-se sólido e substancial, muito tempo depois com Karl Marx e de Friedrich Engels, quando da publicação do Manifesto Comunista em 1848.
Estes dois pensadores alemães, terminaram por produzir uma extensíssima obra econômica e política que permitiram extraordinário embasamento teórico e prático para o Socialismo. Engels, percebendo a diferença de Marx em relação às demais correntes socialistas e anarquistas, denominou seu pensamento, como "Socialismo Científico", classificando os demais como "Socialismo Utópico", visto que não apresentavam soluções práticas para a transformação da sociedade capitalista em sociedade socialista, limitando-se a elaborar fórmulas de sociedades perfeitas (tais como os projetos de Owen e Fourier). O pensamento de Marx, ao contrário, destinava-se a mudar radicalmente o destino das sociedades humanas e sua filosofia era o instrumento desta formação. Segundo ele "as filosofias até agora trataram de compreender o mundo, trata-se de modificá-lo". (Marx, Karl. Ideologia Alemã).
Sinteticamente suas idéias podem ser assim esquematizadas:
· Toda a História da Humanidade nada mais é do que um conflito permanente entre classes sociais antagônicas. Senhores e Escravos, Patrícios e Plebeus, Nobres e Burgueses e, na época contemporânea: Burgueses e Proletários. Quer dizer, as classes sociais e sua existência são condicionadas pela História. A Sociedade do futuro implica na sua abolição e na implantação da igualdade.
· Esta abolição da sociedade de classes se daria devido a própria crise do Sistema Capitalista. Por gerar a constante concentração da Propriedade e das Rendas nas mãos de poucos, levaria por oposição, a aumentar a miséria geral dos não-proprietários, que se rebelariam e destruiriam esta sociedade. Como o processo histórico é dialético, tudo aquilo que existe (O Capitalismo) será superado por uma forma social superior (O Socialismo), nascida no próprio ventre da sociedade anterior. O Feudalismo teria sido mais ameno que o Escravismo; o Capitalismo uma forma superior ao Feudalismo e, por conseqüência, o Socialismo seria superior ao Capitalismo. Estas grandes transformações são feitas pelos homens organizados em classes sociais. A Burguesia depôs a Nobreza, o Proletariado deporá a Burguesia.
· O Socialismo é por sua vez uma etapa intermediária, onde conviveriam formas da sociedade anterior (Capitalista), com formas da sociedade futura, tingindo posteriormente a etapa final da pré-história da Humanidade - o Comunismo. Esta etapa de transição seria gerida pela "Ditadura do Proletariado"; a nova classe instalada no poder não poderia se desfazer do aparato Estatal, pois teria que enfrentar as ameaças da contra-revolução burguesa. Para Marx, o Estado continua existindo (ao contrário dos anarquistas que propunham sua imediata abolição) como uma arma de defesa da Revolução.
· A Revolução proletária é, pois, inevitável, havendo dois caminhos para concretizá-la. Um, conquistando posições estratégicas dentro da sociedade capitalista através da dinamização dos sindicatos e dos partidos operários; outra, por um golpe dado por revolucionários audazes que empalmariam o poder em favor dos proletários. Estas duas tendências estiveram sempre latentes dentro dos escritos políticos de Marx e Engels, gerando a diferenciação entre social-democracia e comunismo.
· Como conseqüência lógica do que foi exposto, Marx acreditava que a Revolução Proletária ocorreria num país onde o Capitalismo fosse suficientemente desenvolvido para gerar as condições necessárias a sua transformação. Para uma sociedade chegar ao Socialismo teria que necessariamente percorrer um longo desenvolvimento capitalista. Isto excluía a possibilidade de se chegar ao Socialismo numa sociedade atrasada onde a maioria da população é composta de camponeses e não de proletários urbanos (os exclusivos agentes da transformação da História). A implantação do Socialismo nas sociedades capitalistas não seria socialmente onerosa porque o desenvolvimento tecnológico permitiria atender a todos "segundo suas necessidades". A Humanidade livrar-se-ia, pois, da alienação do trabalho e das exigências de atender aos ditames do Lucro e do Capital para suprir-se a si própria.
· Somente durante os últimos anos de sua vida, Marx passou a grangear fama e respeito, cabendo parte do mérito a Engels, responsável pela divulgação de seus escritos (o 2º e 3º volumes do Capital foram publicados após a morte de Marx) e pela preservação da pureza do pensamento do amigo.

O pensamento revolucionário na Rússia
Durante séculos a Rússia permaneceu isolada das grandes transformações sociais, econômicas e culturais porque passava a Europa Ocidental. A Reforma ou o Renascimento pouco efeito tiveram em sua paisagem política e cultural. O mesmo acontecendo com o Iluminismo e as Revoluções burguesas. Segundo Kireievski "o alargamento material do império absorveu durante séculos toda a energia do povo russo: o crescimento material tornou impossível o crescimento espiritual". De fato o antigo principado de Moscóvia no século XIV, não ultrapassava em extensão a atual Finlândia. Trezentos anos depois, estendia seu domínio por mais de vinte e dois milhões de quilômetros quadrados, englobando as mais variadas culturas, religiões e grupamentos raciais - Seus grandes impulsionadores foram os czares Ivan III, Ivan IV (o Terrível), Pedro - o Grande e Catarina II. Submetendo a ferro e a fogo os tártaros, os turcos, os cossacos, os tchecos, os mongóis, os poloneses, e as tribos nômades da Sibéria; sua extensão, ia do Vístula, na Polônia, até o Oceano Pacífico, no extremo Oriente.
O governo dos czares - a autocracia absoluta - foi uma decorrência da necessidade de integração deste vasto território heterogêneo. Quando Bizâncio caiu em poder dos Turcos Otomanos, o Príncipe de Moscóvia atraiu para sua capital os restos da administração e do clero grego ortodoxo, assimilando suas práticas funcionais e hierárquicas. A igreja, tal como em Constantinopla, estava subordinada ao Estado e seu chefe era nomeado diretamente pelo Imperador. A Rússia desconheceu, pois, o latente conflito existente na Europa Ocidental, entre o clero e o aparato estatal.
Esta fusão completa entre Estado e Igreja naturalmente contribuiu para o sufocamento do livre - pensar. A intelectualidade russa vivia permanentemente sob vigilância quer de parte do Estado quer de parte do Santo Sínodo. No entanto, a maior aproximação da Rússia com o Ocidente no século XIX (principalmente depois das guerras napoleônicas) tornou inevitável a penetração dos ideais libertários vindos da Europa. Primeiro sob a forma do liberalismo e em seguida do socialismo. Não deixa de ser um paradoxo que a Rússia do século XIX, pobre e brutalizada, terminasse por gerar grandes talentos da literatura mundial tais como Gogol, Dostoevski, Tchecov, Turguenieff, Tolstoi e Gorki. E, na política, homens do porte de Alexandre Herzen, Bakunin, o Príncipe Kropotnik e o introdutor do marxismo na Rússia - George Plekhanov.

O Reformismo autocrático e os populistas
As reformas executadas pelo czar Alexandre II (entre 1861-5), tais como a abolição da servidão da gleba, criação das câmaras municipais (zemstvos), atenuação da censura na imprensa e nas universidades) foram provocadas pelo fracasso russo durante a Guerra da Criméia (1853-8) onde foram batidos pelos corpos expedicionários franco-britânicos, que impediram a Rússia de atingir Constantinopla e ter acesso ao Mediterrâneo. Esta era de reformas, devido sua timidez, terminou por gerar um descontentamento ainda mais amplo. Insatisfez a nobreza porque aboliu alguns de seus privilégios; os camponeses porque eles tiveram que se endividar para obter autonomia; a intelectualidade porque não haviam sido suficientemente profundas.
Foi da intelectualidade que partiu a primeira tentativa de derrubar o regime por um movimento não-palaciano. Inicialmente denominou-se "Terra e Liberdade" e seu objetivo era convencer a massa rural a sublevar-se contra o czar. O fracasso desta tentativa e a repressão que se seguiu, levou os populistas (narodiniks) a embrenharem-se na sina do terrorismo político. Acreditavam que, abatendo as figuras exponenciais do regime czarista, provocariam uma rebelião popular. Em 1881 o próprio czar Alexandre foi vitimado por uma jovem militante, Sofia Perovskaia. Os populistas inspiravam-se nos anarquistas ocidentais, pensando poder levar a Rússia ao comunismo devido a existência de comunidades rurais organizadas em torno do mir (uma espécie de unidade de produção comunal) que facilitariam sua implantação. O terrorismo apenas reforçou ainda mais o aparato estatal e justificou a intensificação da opressão e da censura. É neste contexto que o marxismo vai surgir como alternativa à prática política e teórica dos narodiniks.

A social-democracia
Em março de 1898, na cidade de Minsk, nove delegados representando as principais cidades do país, reuniram-se para o 1º Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Denominação inspirada no Partido Social-Democrata alemão, fundado por Lassale em 1863 e o mais poderoso partido político operário do Ocidente. Entre os delegados encontrava-se Vladmir Ilich Uliánov, cujo codinome era Lênin, o futuro fundador do Estado Soviético. Como resultado concreto do congresso foi difundido o Manifesto do POSDR, redigido por Peter Struve que, dentro da ortodoxia marxista, aceitava as duas etapas da futura Revolução Russa (a primeira de cunho democrático-burguesa e a segunda socialista-proletária sem fazer menção à ditadura do proletariado nem quais os meios para realizar sua missão). Os marxistas diferiam profundamente dos populistas e, tanto na Rússia como no exílio, intensificaram a polêmica sobre o destino do país e quais as táticas corretas a serem empregadas para a derrubada da autocracia. Em síntese, defendiam as seguinte posições:
· Era um profundo equívoco querer transformar a Rússia em um país socialista, pois o capitalismo ainda era incipiente não gerando as condições necessárias para a transição.
· A prática do terrorismo era absolutamente inócua pois não abalava a estrutura do regime: "de que adianta abater o czar se o czravitch está logo alí para substituir seu pai?”. Era necessário desenvolver um longo e amplo trabalho de "preparação" das massas, através da propaganda e da agitação. Levá-las à consciência da certeza da derrubada do czarismo como um todo e não em ações isoladas.
· Favorecer a implantação do capitalismo na Rússia. Quanto mais empresas e indústrias lá se instalassem mais cresceria o proletariado urbano e favoreceria o surgimento da única classe verdadeiramente revolucionária. Ironicamente, esta posição dos marxistas, serviu para que fossem vistos como menos perigosos pela Okrana, a polícia secreta do Czar, que passou dedicar maior atenção àqueles que, no momento, lhes pareciam mais ameaçadores, os terroristas populistas.
· Os próprios marxistas, organizados em torno do POSDR, não estiveram por muito tempo unidos. Cinco anos depois - no exterior - organizaram um 2º Congresso (primeiro na Bélgica e depois em Londres) que terminou por levá-los à cisão, formando-se duas facções: a da maioria (bolcheviques) e a da minoria (mencheviques). Aparentemente as causas da divisão foram motivos de pequena monta, mas terminaram por alargar-se com o tempo transformando-os em dois partidos distintos, e todas as tentativas de reunificação lograram em fracasso (Como durante o Congresso de Estocolmo, em 1906).
· Mesmo dentro do seu partido, Lênin teve que lutar várias vezes para que seus companheiros aceitassem seus pontos de vista. Como a Rússia, pouco desenvolvida e possuindo uma massa de mais de cem milhões de camponeses, poderia lançar-se na construção do Socialismo? Em primeiro lugar propôs que os operários se aliassem à massa rural, sem esta aliança um partido revolucionário teria escassas possibilidades de sobrevivência. Em segundo lugar, acreditava que a Guerra Mundial (1914-18) terminaria por desencadear uma série de Revoluções proletárias e a Rússia não ficaria isolada. Deste modo, o evidente atraso econômico, cultural e tecnológico do país, receberia auxílio externo. Apesar de suas divergências com a social-democracia alemã, Lênin tinha esperança que no momento aprazado o proletariado alemão faria a sua Revolução e socorresse seus camaradas. O fracasso desta expectativa conduziu a União Soviética à teoria do "socialismo num só país" e a ascensão de Stalin ao poder supremo.
Mencheviques e Bolcheviques
Não nos cabe aqui expor toda a polêmica surgida em torno da questão do quadro editorial do jornal do Partido - O Iskra - a "centelha que deveria provocar a Revolução", e sim fixar as linhas gerais que levaram a formação das duas correntes.
Os mencheviques, influenciados pelo pensamento convencional do marxismo europeu, pregavam:
· A formação de um partido o mais amplo possível, considerando todo colaborador - direto ou indireto, como um membro do partido;
· Não acreditavam na possibilidade da Rússia transitar rumo ao Socialismo sem antes percorrer o desenvolvimento do Capitalismo;
· Como consequência, deveriam aliar-se à burguesia para depor o czarismo.
Os bolcheviques - liderados por Lênin - apresentavam outra proposta:
· O partido deveria ser formado por revolucionários profissionais, só sendo membro quem militasse ativamente nas suas fileiras; isso se devia à permanente infiltração de "agentes provocadores da polícia secreta do czar e pelas condições gerais da repressão na Rússia, que não permitiam a existência de um partido "aberto";
· Devido ao atraso das massas operárias e camponesas o partido se tornaria a "vanguarda do proletariado" composto por elementos mais conscientizados e endurecidos na luta política, disciplinados e obedientes ao Comitê Central. De certa forma, bolcheviques e mencheviques terminaram por concretizar as "duas vias" para o Socialismo que estavam latentes no pensamento de Marx e Engels. Quando ocorreu a revolução de fevereiro de 1917, derrubando o czarismo, os mencheviques exerciam uma enorme influência no meio dos operários de Petrogrado. No transcorrer do ano foram lentamente se desgastando na sua vã tentativa de amparar a esquálida burguesia russa, terminado por sucumbir junto com ela

OBS. Leninismo: Podemos dizer que o Leninismo, como pensamento autônomo dentro do Marxismo, fundia-se inteiramente com o Bolchevismo. Pecaríamos pela verdade, no entanto, se não estabelecêssemos algumas distinções entre o Leninismo e o Bolchevismo, não esquecendo que, após a morte de Lênin, em 1924, o Bolchevismo continuou existindo, se fracionando em várias tendências. As principais contribuições de Lênin para o plano teórico-prático do Socialismo e da Revolução seriam as seguintes:
a) a tentativa de redefinir as perspectivas do desenvolvimento capitalista e/ou revolucionário na era do Imperialismo. Ao seu ver, o Capitalismo encontrava-se extremamente consolidado nos países desenvolvidos fazendo com que parte da classe operária passasse a usufruir de uma melhoria substancial em seu modo de vida. Explicava-se a tendência reformista que o Socialismo havia assumido nestes países. No entanto, a dinâmica revolucionária deslocava-se para a periferia do Sistema. Nos países atrasados, onde o Capitalismo era pouco desenvolvido ocorreria a possibilidade de eclosão da Revolução "quebrar a corrente capitalista em seu elo mais fraco". As teorias de Lênin foram consideradas verdadeiras heresias contra o pensamento de Marx e sua posição foi de quase total isolamento.
A Revolução Russa de Fevereiro (março pelo calendário atual) foi um enorme movimento de massas que espontaneamente rebelara-se contra o czarismo. Nenhum partido a insulflou. Ao contrário, a grande maioria dos revolucionários militantes foi surpreendida - acrescente-se que a maioria deles estava presa na Sibéria (como Stalin) ou no exílio (Lênin na Suíça e Trotski nos Estados Unidos). Como também foi espontânea a organização de sovietes (conselhos) em todas as fábricas, repartições, bairros e regimentos militares, que passaram a formar um poder paralelo.

As Causas da revolução Russa
A expressão Revolução Russa é relativa às duas revoluções vitoriosas de 1917: a primeira, denominada Revolução de Fevereiro (março, pelo calendário juliano então usado na Rússia), levou à queda da autocrática monarquia imperial. A segunda, denominada Revolução Bolchevique ou Revolução de Outubro (Novembro), foi organizada pelo partido bolchevique contra o governo provisório instalado na primeira fase.
No começo do século XX, a Rússia, com aproximadamente 150 milhões de habitantes, estava mergulhada em profundas contradições.
Apesar de certo desenvolvimento econômico comercial e industrial, a base da economia ainda era agrária sendo que somente a agricultura era responsável pela produção de mais de 50% da riqueza nacional. Assim, o desenvolvimento econômico do país era extremamente moroso; seu comércio e sua indústria encontravam-se nas mãos de estrangeiros e o grosso da produção era consumida pelo próprio Estado. Isso levou ao desenvolvimento de uma burguesia e classe média extremamente frágeis. A burguesia russa jamais atingiu a autonomia da ocidental, pois sua dependência do Estado era muito grande, além de estar vinculada aos compromissos assumidos junto ao capital internacional (sobretudo o inglês e o Francês) que financiava o tímido processo de industrialização em curso, controlava bancos e CIAS comerciais. A presença estrangeira no financiamento da industrialização russa tornou a burguesia um apêndice do sistema internacional fazendo-a procurar proteção junto ao Czar (tarifas protecionistas, etc.) em troca de apoio político.
O atraso econômico russo resultava em grande desigualdade social. “No topo da pirâmide social estavam os grandes proprietários de terra, clero – membros da Igreja ortodoxa – e os oficiais do exército, configurando uma ordem social baseada na propriedade da terra e na posse de títulos honoríficos, não havendo o dinamismo da sociedade tipicamente capitalista. As terras, em geral, áreas enormes, pertenciam aos Boiardos, nobres proprietários que exploravam a grande massa camponesa, cerca de 80% da população. Apesar de os estatutos da emancipação, elaborados em 1861, terem dado aos servos, os Mujiques, liberdade pessoal e habilitação para tornarem-se proprietários, cerca de 40% das terras continuavam com a nobreza, enquanto os camponeses viviam em condições miseráveis.”. (VICENTINO, Cláudio. op. cit. p. 363). De outro ângulo, A extraordinária concentração de operários nos grandes centros urbanos do país (perto de três milhões em Moscou e Petrogrado), a exploração a que estavam submetidos (o capitalista russo só sabia competir reduzindo gastos) e a exigüidade do espaço político que possuíam (impedidos de participarem dos organismos parlamentares) acabaram impulsionando esses operários russos seguirem a estrada da revolução e não do Reformismo.
No aspecto político, a dinastia Romanov, no poder desde 1613, governava de forma absolutista, apresentado a figura do Czar, confundido com o próprio Estado, como governante de direito divino. Somando-se a esse fato a existência de uma burguesia frágil e duplamente dependente (do Estado e do capital internacional) temos uma equação onde nobres e burgueses serviam politicamente ao Estado e gozavam de privilégios econômicos possibilitados pela brutal exploração desencadeada sobre a massa operária e camponesa. As tentativas de se opor ao poder czarista eram ofuscadas pela ação da OKRANA (polícia política) que se voltava especialmente contra anarquistas e marxistas. O poder concentrado nas mãos do Czar pouco espaço deixava para o florescimento do liberalismo, defendido pelo frágil partido dos Kadetes (liberais-burgueses), que representava apenas uma pequena fração da população – aqueles burgueses que eram muito ricos.
Foi no governo de Nicolau II (1894-1917), o último dos czares, que a crise revolucionaria rebentou, primeiramente em 1905 e posteriormente em 1917.
A revolução de 1905, chamada por Lênin de “ensaio revolucionário”, eclodiu ao final da guerra russo-japonesa (1904-05), de caráter imperialista pela disputa da Coréia e da Manchúria, e que terminou com uma espetacular derrota dos russos, fato que ativou a oposição. Em 22 de janeiro de 1905, uma manifestação pacifica realizada em frente ao palácio de inverno de Nicolau II, em São Petersburgo, foi violentamente reprimida pela cavalaria dos cossacos, morrendo centenas de pessoas. O episódio, então chamado de “domingo sangrento”, desencadeou uma onda de protestos pelo país que resultaram em uma greve geral e levantes militares como o do encouraçado Potemkim
Como reflexo dessa situação, o Czar foi obrigado a por fim a guerra contra os japoneses e, ainda, se comprometeu, no manifesto de Outubro, a instaurar uma Monarquia Constitucional e Parlamentar mediante a formação da Duma (parlamento). Com o manifesto, iniciou-se a formação dos Sovietes – conselhos de trabalhadores – em várias regiões do Império russo, incentivando a participação popular no processo.
Embora a criação da Duma tenha se concretizado, o czar colocou-se acima do parlamento e decretou sua dissolução em várias ocasiões, só enfrentando oposição dos Sovietes que, lentamente, foram se constituindo como um poder paralelo ao do Estado absolutista, fato que os poria na posição de principal base sócio-política em que se apoiaria a revolução de 1917.
Estes são pois um conjunto de fatores mais amplos, de estrutura, que terminaram por favorecer um tipo específico de Revolução. O colapso geral, deu-se com a entrada da Rússia na Primeira Grande Guerra. A incapacidade do czarismo em vencer e as insuportáveis condições internas, terminaram por fazer com que a eclosão do movimento revolucionário fosse incontrolável.

As etapas da Revolução de 1917
Em fevereiro de 1917 Nicolau II foi derrubado e instaurou-se a República da Duma, sob a chefia de Alexandre Kerensky, líder Menchevique. o governo encontrou-se dividido entre o poder formal (o Governo Provisório liderado pela burguesia, classe-média e setores da nobreza liberal) e os Sovietes (de operários soldados e marinheiros) sem cuja aquiescência pouco podia ser feito. Contudo, a partir de Julho, o governo provisório transformou-se em uma ditadura que não se preocupou em resolver os problemas mais importantes: a paz e as reformas em todos os níveis. Kerensky manteve, assim, a Rússia na primeira guerra mundial, principal fator de desgaste do Estado burguês nascente, fortalecendo a oposição dos Bolcheviques que, baseada nos Sovietes, unia trabalhadores e soldados.
Liderados por Lênin, Trotsky e Stálin, os bolcheviques haviam ganhado popularidade com as Teses de Abril, enunciadas nas reivindicações de “paz, pão e terra”, onde se propunha a retirada da Rússia da Primeira guerra, a realização de uma reforma agrária e a regularização do abastecimento interno. Sob o lema “todo poder aos Sovietes”, Trotski recrutou uma milícia revolucionaria em Petrogrado, a “guarda vermelha”, futuro embrião do exército vermelho.
As teses de Abril
Em fins de setembro de 1917, uma ofensiva militar contra os alemães, organizada por Kerensky (pressionado pelos aliados franco-britânicos) é derrotada. Milhares de soldados abandonam o fronte, desertando em massa, terminando por engrossar as fileiras dos bolcheviques que prometiam paz imediata e distribuição das terras para os camponeses. O Governo Provisório não tinha mais condições de subsistir. No dia 25 de outubro, os bolcheviques apoiados pelos principais regimentos de Petrogrado, pelos marinheiros da esquadra do Báltico e da Fortaleza de Kronstadt e pela guarda vermelha, tomam de assalto o Palácio de Inverno - sede do Governo Provisório – os departamentos públicos e criam o governo provisório do Conselho dos Comissários do Povo. No comando do conselho estavam Lênin (na presidência), Trotski (encarregado dos negócios externos) e Stálin (chefiando os assuntos internos). A publicação do Apelo aos trabalhadores, soldados e camponeses, primeiro documento oficial da Revolução, transferiu todo o poder para os sovietes.
“Parecia óbvio que o velho mundo estava condenado. A velha sociedade, a velha economia, os velhos sistemas políticos tinham, como diz o provérbio chinês “perdido o mandato do céu”. (...) A Revolução Russa, ou mais precisamente, a Revolução Bolchevique de outubro de 1917, pretendeu dar ao mundo esse sinal. Tornou-se, portanto, tão fundamental para a história deste século quanto a Revolução Francesa de 1789 para o século XIX. (...) A Rússia, madura para a revolução social, cansada de guerra e à beira da derrota, foi o primeiro dos regimes da Europa Central e Oriental a ruir sob as pressões e tensões da Primeira Guerra Mundial. (...) Na verdade, o governo do czar desmoronou quando uma manifestação de operários (no habitual “Dia da Mulher” do movimento socialista – 8 de março) se combinou com um lock-out industrial na notoriamente militante metalúrgica Putilov e produziu uma greve geral e a invasão do centro da capital, do outro lado do rio gelado, basicamente para exigir pão. (...)
A reivindicação básica dos pobres da cidade era pão, e a dos operários entre eles, melhores salários e menos horas de trabalho. A reivindicação básica dos 80% de russos que viviam da agricultura era, como sempre, terra. Todos concordavam que queriam o fim da guerra... O slogan “Pão, Paz, Terra” conquistou logo crescente apoio para os que o propagavam, em especial os bolcheviques de Lênin que passaram de um pequeno grupo de uns poucos milhares em março de 1917 para um quarto de milhão de membros no início do verão daquele ano”. (HOBSBAWM, Eric J. A Revolução Mundial. In: Era dos extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. 2ª ed. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das letras, 1995. pp. 62-68.).

O governo de Lênin (1917-1924)
De inicio, o novo governo nacionalizou as indústrias e os bancos estrangeiros, redistribuiu as terras no campo e firmou um armistício com a Alemanha, o tratado de Brest-Litovski, para sair da guerra mundial.
As transformações que contrariavam velhos interesses, no entanto, estimularam a oposição dos russos brancos (Mencheviques e Czaristas) que, apoiados pelas potências da Entente, mergulharam a Rússia em uma sangrenta guerra civil que duraria mais quatro anos.

A guerra civil e o comunismo de guerra
A guerra civil eclodiu em abril de 1918. Em várias regiões da Rússia, ex-generais Czaristas levantaram suas tropas contra o governo bolchevique. Aproveitando-se do verdadeiro caos em que o país se encontrava, as nações aliadas resolveram intervir a favor dos brancos. Tropas inglesas, francesas, americanas e japonesas desembarcaram tanto nas regiões ocidentais (Criméia e Geórgia) como nas orientais (ocupação de Vladivostok e da Sibéria Oriental). Seus objetivos eram: derrubar o governo bolchevique e instaurar um regime neoczarista (a favor da continuação da Rússia na guerra).
Para poder enfrentar a maré contra-revolucionária, o novo governo instituiu o Exército Vermelho, comandado por Leon Trotski que revelou-se um brilhante estrategista, disciplinador rígido e líder das tropas. Na passagem dos anos vinte para vinte e um, todas as formações contra-revolucionárias haviam sido derrotadas e seus principais expoentes exilaram-se no exterior. As forças expedicionárias aliadas foram obrigadas a retirar-se, tanto pela derrota dos Brancos, como pela pressão da opinião pública internacional.
No terreno econômico, devido a situação de emergência e pelo próprio ímpeto revolucionário, instituiu-se o "comunismo de guerra". O dinheiro e as leis do mercado foram abolidas, sendo substituídos por uma economia dirigida baseada no confisco de cereais produzidos pelos camponeses. Embora o comunismo de guerra tenha viabilizado os recursos necessários para que o exercito vermelho derrotasse o exercito branco, em 1921, surgiram serias crise de abastecimento, além de revoltas camponesas diante dos confiscos da produção agrícola. Lênin instituiu então a NEP (Nova Política Econômica), um planejamento estatal sobre a economia que combinava princípios socialistas com elementos capitalistas. A fim de evitar um colapso total da economia após a guerra civil, a NEP estimulava a pequena manufatura privada, o pequeno comercio e a livre venda da produção pelos camponeses nos mercados, estimulando produção, emprego e abastecimento. A NEP durou até 1928, obtendo a recuperação parcial da economia soviética e a reativação de setores fundamentais, fazendo crescer a produção industrial, agrícola e o comércio.
Politicamente, ainda na fase da guerra civil, os bolcheviques iniciaram a luta final contra outras facções da Esquerda (mencheviques, anarquistas e social-revolucionários), terminando por se transformarem no único partido legalizado do país. Durante o X Congresso do partido, em 1921, adotaram uma resolução ainda mais drástica - a proibição da existência de facções dentro do partido. Quer dizer, os bolcheviques estendiam a ditadura sobre si próprios. Enquanto a liderança esteve nas mãos de Lênin, não foram tomadas medidas repressivas contra os membros recalcitrantes ou divergentes. Mas, essa mesma ditadura, serviria como poderoso instrumento coercitivo quando Stalin tomou a direção partidária.
Em 1918 foi elaborada uma constituição que criava a República Soviética socialista Russa e, em 1923, outra, que instituía a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), resultado de um acordo de união das diferentes regiões do antigo Império russo, transformadas em repúblicas federativas e socialistas.

O Socialismo num só país
A tragédia do bolchevismo dos anos vinte se deu na medida em que, devido ao peso das circunstâncias, tiveram que transformar-se num partido que representava a si mesmo. Suas bases sociais - o proletariado urbano, além de ser escasso numericamente, foi literalmente dizimado pela guerra civil e pela desorganização da economia ocorrida neste período. Depois de longos anos de guerra e da guerra civil, a extrema tensão em que foram submetidas as massas tornou-Stálin, Lênin e Mikhail Kalinin (foto do VIII Congresso do Partido Comunista Russo, Março 1919as apáticas. Este comportamento favoreceu a implantação da ditadura partidária, mas os custos políticos foram terríveis - não só para o socialismo russo, como para a causa do socialismo internacional.
O isolamento em que o país se encontrava aprofundou-se ainda mais. A tão esperada revolução que deveria ocorrer num país desenvolvido, não ocorreu. Depois do fracasso dos espartaquistas (facção radical do Partido Comunista Alemão) em 1919 e dos comunistas em 1923, a Alemanha deixou de figurar como uma possível aliada. Estes fatores terminaram por fazer com que os bolcheviques fossem obrigados a alterar sua estratégia interna. A União Soviética de agora em diante deveria contar com seus próprios recursos. Evidentemente que aceitar esta nova situação era uma heresia. O socialismo era um movimento internacional, que não podia ser limitado por fronteiras, os fatos, no entanto, eram uma poderosa evidência para qualquer teoria internacionalista. A União Soviética teria que lançar-se na "construção do Socialismo" enfrentando todos os fatores adversos; a falta de quadros técnicos e culturais, o imenso analfabetismo do campesinato, a baixa produtividade e a pouca qualificação de seu operariado.
Lênin morreu em janeiro de 1924 sendo sucedido por um triunvirato com plenos poderes sobre o Estado e a Organização Partidária. Deles, (Kamenev, Zinoviev e Stálin) foi Stálin que de fato passou a usufruir maior poder e autoridade (Secretário Geral do PCUS) responsável pela administração do Partido e pela admissão ou exclusão de seus militantes.
Numa época em que a reconstrução do país ganhava cada vez mais importância, os administradores foram ocupando o lugar dos teóricos e dos agitadores - Stálin terminou sendo o veículo da nova situação. Graças a seus poucos recursos teóricos, não tinha nenhum grande compromisso em manter fidelidades ideológicas, ao contrário servia-se delas para executar o seu projeto político-econômico.
Isto não evitou a polêmica entre o grupo dirigente. Ao aceitarem o "Socialismo num só país", esboçado inicialmente por Bukharin e posteriormente por Stalin - jogaram automaticamente Trotski na oposição. Ele era a expressão do ímpeto revolucionário da época heróica, que lentamente estava sendo arquivada pela nova elite dirigente. Sua formação cosmopolita e internacionalista, o indispunha com o "Socialismo num só país", que se identificavam com os ditames do aparelho administrativo-burocrático e com o nacionalismo. Em 1928, terminou sendo expulso do Partido e desterrado em Alma Alta (na Ásia) e, posteriormente, foi obrigado a exilar-se no exterior. A tese do "Socialismo num só país" pode ser esquematizada da seguinte maneira:
· Industrialização total, baseada na produção nacionalizada, dando prioridade aos meios de produção (indústria pesada).
· Coletivização progressiva da agricultura, visando à transformação última da propriedade coletiva em propriedade estatal).
· Mecanização geral do trabalho, extensão do treinamento "politécnico", tendente a "equalização" entre trabalhos urbanos e rurais.
· Aumento gradual do padrão de vida desde que mantido os itens 1 e 3.
· Formação de uma moral universal do trabalho, e de uma eficiência competitiva: eliminação de todos os elementos transcendentais, psicológicos e ideológicos (Realismo Soviético).
· Preservação e fortalecimento das maquinarias estatal, partidária, militar e gerencial.
· Após haverem sido atingidas as metas previstas, transição para um sistema de distribuição do produto social de acordo com as necessidades individuais.

O Stalinismo e os grandes expurgos
Nos anos trinta a União Soviética iria se lançar numa das mais formidáveis e traumatizantes aventuras dos tempos contemporâneos. A transição vertiginosa de um país agrário num país industrializado. Pela primeira vez na História esta transição não se daria pelas forças cegas da lei do mercado e sim pelo impulso estatal amparada na planificação econômica geral. Stalin enterrou definitivamente a NEP e deu início ao lançamento das bases industriais que permitiram posteriormente a URSS sair vitoriosa no conflito com a Alemanha Nazista (1941-45). No entanto, sua política teve terríveis conseqüências no plano físico, moral e intelectual da nação. Acicatado pela necessidade de fazer frente a "ameaça capitalista" que cercava o país, os soviéticos lançaram-se à tarefa num ritmo sem precedentes.
O primeiro passo dado foi a coletivização forçada a que os camponeses foram submetidos. A URSS do final dos anos vinte possuía aproximadamente 25 milhões de pequenas propriedades, onde viviam mais de cem milhões de camponeses com suas famílias. A contradição da propriedade privada da terra e propriedade socializada foi resolvida num golpe. Criaram-se milhares de fazendas coletiva (Kolkozes) e granjas estatais (solvkozes) que deveriam iniciar uma nova etapa da história da exploração agrícola do solo. Esperava-se deste modo, fazer com que a produtividade agrícola aumentasse com a mecanização das lavouras, cumulando-se assim a renda necessária para a sustentação dos grandes projetos de eletrificação e industrialização. A resistência dos camponeses foi muito além das expectativas. Mataram seu gado, inutilizaram suas ferramentas e, em muitas regiões, rebelaram-se abertamente contra o regime. Stalin foi implacável. Mobilizaram-se inclusive forças do Exército para cumprir o projeto de coletivização e milhões de pessoas foram deportadas para os campos siberianos, condenados a trabalhos forçados.
Na área urbana os projetos industriais cresciam como cogumelos, o padrão de vida era baixo e as dificuldades de habitação, transporte e alimentação duríssimas. Milhares de camponeses foram jogados dentro das fábricas, onde sua inabilidade, indisciplina e ignorância provocavam um espantoso índice de acidentes de trabalho. Mas o clima do país, pelo menos nos primeiros anos da década dos trinta era de entusiasmo. A juventude lançou-se ardorosamente na construção industrial, pois esperava-se em breve chegar finalmente a sociedade igualitária. Milhares de administradores, economistas, engenheiros eram formados e engajavam-se na monumental tarefa. No entanto, a população ainda iria passar pôr um teste ainda mais duro - a Era do Terror - quando Stalin decidiu-se pela eliminação de todos àqueles que lhe fizeram e faziam oposição, dentro do partido.
O assassinato de Kirov, um dedicado homem de confiança de Stalin, na "capital da Revolução" (Leningrado), serviu de pretexto para que o ditador pudesse iniciar os terríveis expurgos que espantaram o país e o mundo. Numa série de processos (entre 1936 e 1938) toda a "Velha Guarda" do partido bolchevique foi esmagada. Este terrível período ficou na memória como a Yezovchina - o terror de Yezov chefe da Polícia Secreta (NKVD) - que também foi executado quando Béria assumiu o comando do aparelho repressivo, em 1938.
Durante a plenitude do poder stalinista a ciência, as artes e a literatura tornaram-se adstritas à política. Nenhum ramo do conhecimento atuava à margem dos interesses partidários imediatos, tornando-se instrumento da propaganda oficialista, sob a batuta do Ministro da Cultura Zhedanov. Artistas e historiadores viviam sob a vigilância permanente e seus textos, muitas vezes, eram censurados pelo próprio Stálin (de acordo com a tradição czarista, pois Nicolau I fazia o mesmo com as rimas do grande poeta Puschkin). Mesmo assim, os alcances da instrução massiva atingiram as multidões. Os grandes clássicos da literatura tornaram-se acessíveis aos operários e camponeses. Balzac, Tolstoi, Setndhal, Tchecov, Shakespeare e Homero tiveram tiragens contadas aos milhões, era o realismo socialista. O Realismo Socialista foi o estilo artístico oficial da União Soviética entre as décadas de 1930 e 1960, aproximadamente. Foi, na prática, uma política de Estado para a estética em todos os campos de aplicação da forma, desde a Literatura até o Design de produto, incluindo todas as manifestações artísticas e culturais soviéticas (Pintura, Arquitetura, Design, Escultura, Música, Cinema, Teatro etc.). O Realismo Socialista está diretamente associado ao comunismo ortodoxo e aos regimes de orientação ou inspiração stalinista.

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)


A Europa entra em declínio
A Europa brilhava sobre o mundo... Vivia-se o apogeu da sociedade liberal, capitalista. O apogeu, dialeticamente, traz consigo o germe da mudança. Esse germe, sob a forma de novas circunstâncias históricas, era caracterizado pela miséria do proletariado em meio à abundância, as crises de superprodução, a frenética busca de mercados, os problemas sociais e econômicos. Todos esses problemas, juntos, geraram a crise do mundo liberal capitalista e a Primeira Grande Guerra representou na prática o início desta crise.
Os homens da época, mesmo às vésperas do conflito, não acreditavam na possibilidade de uma guerra longa e generalizada. Levantavam a possibilidade de uma guerra rápida e localizada, nos moldes das ocorridas no século XIX, e, acima de tudo, necessária a solução dos problemas europeus.
Mas o longo período de relativa paz mantida desde o fim das guerras napoleônicas e o “equilíbrio europeu” estabelecido no Congresso de Viena em 1815 terminaram. Ofuscada pelos esforços de guerra, a Europa declinou. Os problemas sociais e econômicos agravaram-se: a classe média se pauperizou e a pressão operária aumentou. Em meio à guerra, a Revolução Socialista explodira na Rússia, e, agora, representava uma ameaça para a Europa e o capitalismo.
“Muitos historiadores tem chamado a atenção para a atmosfera que por toda a Europa em 1914 promovia uma mentalidade bélica, e para a excitação gerada pela declaração de guerra. Em agosto de 1914, os jovens clamavam por serem convocados. Não só na Alemanha, mas também na Grã-Bretanha, na França e na Rússia, considerava-se que a guerra oferecia uma fuga pitoresca de uma vida aborrecida, dando oportunidade ao heroísmo individual e aos atos de rebelde bravura.
As teorias da evolução e as noções populares a respeito da sobrevivência dos mais aptos derramavam-se sobre o pensamento nacionalista. Os países precisavam expandir sua influência, ou entrariam em decadência. (...) Havia uma competição aguda entre todas as grandes potências européias pela influência e domínio sobre o mundo menos civilizado, por motivos tanto políticos quanto econômicos.
Os países entraram em guerra porque acreditavam que podiam conseguir melhores resultados por meio da guerra do que por negociações diplomáticas, e achavam que, se permanecessem de fora, seu status de grandes potências seria gravemente abalado. Esse foi seu maior equívoco”. (HENING, Ruth. As origens da Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Ática, 1991. pp. 65-70.).

Até 1914 – Hegemonia da Europa
Apesar do desenvolvimento dos Estados Unidos e do Japão, a Europa exercia em 1914 a supremacia econômica e política sobre o resto do mundo. Econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Era a maior importadora de produtos agrícolas e matérias-primas dos países que hoje compõem o Terceiro Mundo. Hegemonia política porque na sua expansão, o capitalismo europeu gerou à necessidade de controlar os países da Ásia, África e América Latina.
Á Europa era desigual quanto à estrutura econômica e política. Dos 23 Estados europeus, 20 eram Monarquias e só a França, Suíça e Portugal eram Repúblicas. Os regimes políticos eram constitucionais, mas o Parlamentarismo, forma típica do Liberalismo Político, só existia de fato na Grã-Bretanha, Bélgica e França, pois os demais países, apesar de constitucionais, possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha.
Os problemas sociais refletiam a diversidade das estruturas sócio-econômicas. Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava. Já nos países da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. Entretanto, a ameaça de uma revolução social era remota naquele momento, pois a maioria dos partidos socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do Liberalismo. As únicas exceções eram algumas facções de esquerda, como os Bolchevistas russos.
Só os Estados Unidos e o Japão colocavam-se fora da influência européia, disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”. Em 1914 os Estados Unidos já eram potência econômica mundial, controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. O Japão, após sua “abertura ao Ocidente”, desenvolveu-se rapidamente via Revolução Meiji, passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas voltando suas vistas para a China e a Manchúria, na Ásia.

Alianças e choques Internacionais no período anterior à Guerra
O clima internacional na Europa era carregado de antagonismos que se expressavam na formação de alianças secretas ou em sistemas, tornando a ameaça de uma guerra um fato consumado.
O desenvolvimento desigual dos países capitalistas, a partir de fins do século XIX, levara países que chegaram tarde à corrida neocolonialista internacional, como a Alemanha, a reivindicarem uma redivisão do território econômico mundial, acentuando a rivalidade na luta por mercados consumidores, aquisição de matérias-primas fundamentais e áreas de investimentos. Essas rivalidades imperialistas se refletiam em âmbito mundial devido à interdependência criada entre as economias das diversas regiões do mundo pela expansão do capitalismo. Daí decorre o caráter mundial do conflito. Existiam inúmeros pontos de atrito entre as potências, os principais eram:
1° – O conflito Anglo-germânico: a Alemanha, unificada tardiamente e tendo se desenvolvido “rompendo etapas” no final do século XIX, já desalojara a Inglaterra da sua posição de “oficina do mundo”, mas não possuía colônias, áreas de investimentos e outros mercados correspondentes à sua pujança econômica, daí a política agressiva expressa também na corrida naval, o que foi considerado uma ameaça à secular hegemonia marítima inglesa;
2° - O entrechoque Franco-alemão: girava principalmente em torno da questão da Alsácia-Lorena, territórios franceses anexados à Alemanha em 1871. Os alemães se opunham também à penetração francesa no Marrocos, o que “ameaçava” a “paz mundial”, fato demonstrado com os incidentes de Tânger (1905), Casablanca (1908) e Agadir (1911);
3° - A oposição Austro-russa: acentuado quando os russos, afastados do Extremo Oriente após a derrota para o Japão em 1905, voltaram suas atenções para os Bálcãs, onde passaram a apoiar à Sérvia, foco de agitação nacionalista anti-austríaca. Necessitando de uma saída para o mar, os russo ameaçavam a tradicional hegemonia austríaca na região;
4° - O antagonismo Russo-alemão: disputavam o controle dos Estreitos de Bósforo e Dardanelos, já que a rota do expansionismo russo cortava a do imperialismo alemão (Construção da ferrovia Berlim-Bagdá);
5° - As rivalidades Austro-sérvias: nos Bálcãs, a Sérvia fomentava as agitações nacionalistas dentro do Império Austro-Húngaro, levando a constantes atritos e a um quase conflito em 1908, quando a Áustria ocupou a Bósnia-Herzegovina e em 1912 quando uma coligação de países balcânicos passou a lutar contra o Império turco-otomano, acirrando as tensões. Foi esse último foco de atritos, envolvendo os interesses dos sistemas de alianças, que provocou o início do “grande guerra”, em 1914.
No plano ideológico a época se caracterizou pela intensificação dos nacionalismos, os quais serviam para encobrir as ambições imperialistas: podem ser mencionados o Pan-germanismo (Alemanha), o Revanchismo (França) e o Pan-eslavismo (Rússia).
Para sustentar o nacionalismo agressivo e o imperialismo beligerante, os países empreenderam a corrida armamentista. Intensificou-se a produção de armas e munição, desenvolveu-se a construção naval e aumentaram-se os exércitos: era a “Paz Armada”.
“Se a Alemanha fosse extinta amanhã, depois de amanhã não haveria um só inglês no mundo que não fosse rico. Nações lutaram durante anos por uma cidade ou um direito de sucessão - não deveríamos nós lutar por um comércio de duzentos e cinqüenta milhões de libras? A Inglaterra deve compreender o que é inevitável e constituir sua mais grata esperança de prosperidade. A Alemanha deve ser destruída“. (Trechos de The Saturdaw Review, citado por BURNS, pág. 784.)
Essa atmosfera de tensão explica a formação de dois sistemas de alianças: A Tríplice aliança, aparentemente mais coesa, agrupava Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. O outro sistema era a Tríplice Entente, formada de uma aliança militar (a franco-russa) e dois acordos (a Entente Cordiale – franco-inglesa — e o Acordo anglo-russo). Os vínculos entre tais países eram mais frágeis do que aqueles que entrelaçavam o “sistema alemão” e tinha contra si a fragilidade social, política e econômica da Rússia, sendo também difícil prever o comportamento da Inglaterra antes de iniciar-se um conflito armado.
O assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono Austro-húngaro, por um estudante Sérvio, Gravillo Princip, ligado a organização terrorista Mão Negra, foi a causa imediata da primeira guerra mundial. A partir deste fato, os sistemas de alianças entraram em funcionamento e o conflito se generalizou:
1 - a Áustria, apoiada pela Alemanha, exigiu reparação da Sérvia. Não sendo atendida integralmente, declarou guerra aos Sérvios.
2 - a Rússia mobilizou as tropas em defesa da Sérvia. A 01 de agosto a Alemanha declarou guerra à Rússia e, dois dias após, à França.
3 - Imediatamente a Bélgica foi invadida, ignorando a Alemanha a sua neutralidade, o que levou em 04 de agosto, a Inglaterra a declarar-lhe guerra.
4 – A Itália se omitiu, embora pertencesse à Tríplice Aliança, argumentando que o seu compromisso com a Áustria e com a Alemanha previa sua participação apenas no caso de tais países serem agredidos. Posteriormente apoiaria à Entente.
No início da guerra, sete Estados já se achavam envolvidos diretamente: Áustria-Hungria, Rússia, Sérvia, Inglaterra, Bélgica, França e Alemanha. Á 23 de agosto, o Japão juntou-se aos Aliados e, em novembro, a Turquia aderiu às Potências Centrais. A guerra tomou um caráter mundial à medida que as colônias desses países se viram envolvidas.

A “Guerra de Movimentos”
Em 1914, a tendência principal foi dada pela ofensiva alemã na frente ocidental, com a penetração em território francês, e pelo avanço nos Bálcãs, onde a presença turca foi essencial. Entretanto, em setembro a ameaça que pesava sobre Paris foi detida pela batalha de Marne, evento que levou à estabilização da frente ocidental. Por mar, a Alemanha foi bloqueada pelos Aliados e suas colônias ocupadas, ao mesmo tempo em que os alemães iniciavam a campanha submarina, provocando enormes perdas aos Aliados. Na frente oriental, a ofensiva russa foi detida pelas vitórias alemãs nos Lagos Mazurinos e em Tannenberg.

A “Guerra de Trincheiras”
Os anos de 1915 e 1916 foram caracterizados, na frente ocidental, pela “guerra de trincheiras”. O ano de 1915 foi marcado por gigantesca ofensiva alemã na frente oriental visando eliminar a Rússia, antes de se voltar contra a França.
A partir de 1916, o principal cenário da guerra foi a frente ocidental, onde se defrontavam franceses e alemães, destacando-se a batalha de Verdun, que paralisou a ofensiva germânica. Na Europa Oriental, a Entente realizou uma ofensiva que estimulou a entrada, ao seu lado, da Romênia, logo ocupada pelas Potências Centrais. No tocante ao enfrentamento nas trincheiras, “ A vida para o soldado comum na frente ocidental alternava-se entre a monotonia cotidiana e o extremo desagrado de semanas a fio nas trincheiras lamacentas e infestada de vermes, cabendo-lhe ocasionalmente a horrenda experiência de batalha, um pesadelo não só de artilharia, metralhadoras e arame farpado, mas também de balas explosivas, fogo liquido e gases venenosos. Batalhas que não levavam a quase nada devoravam os homens que nela combatiam. Mais de 600.000 homens foram mortos e feridos quando os alemães sitiaram sem êxito o reduto de Verdum, perto da fronteira oriental da França, durante seis meses, em 1916. Na batalha do rio Somme, que durou de julho a outubro de 1916 e que rendeu aos ingleses e franceses apenas alguns quilômetros, o alemães perderam 500.000 homens, os ingleses 400.000 e os franceses 200.000. Ainda que a guerra, devido a sua natureza imobilista, tenha feito um número relativamente pequeno de baixas civis, a quantidade total foi espantosa: de um total estimado de 65 milhões de homens que lutaram sob a bandeira dos vários beligerantes, 13 milhões morreram e quase outros 20 milhões ficaram feridos”. (BURNS, op. cit. p. 674).
Ao pensarmos a “grande guerra” como um conflito de pouca mobilidade e confrontarmos esse conceito, no sentido militar da expressão, com a realidade das estatísticas, parece-nos nada exagerado adjetivá-la como uma das guerras mais cruentas da História do homem.
1917 – Ano Decisivo para a Guerra
O desfecho do conflito iniciou-se em 1917, caracterizando-se pelo agravamento da campanha submarina alemã, mesmo contra os navios neutros; pela entrada dos Estados Unidos no conflito e a retirada da Rússia da guerra, após a vitória da Revolução socialista. A entrada norte-americana no conflito foi decisiva porque todos os países envolvidos enfrentavam naquele ano problemas internos: a Rússia assistiu à deposição da Monarquia em março e à tomada do poder pelos Bolcheviques em novembro; na França, após fracassada ofensiva, as tropas se amotinaram; a Inglaterra estava à beira do colapso e mesmo entre as Potências Centrais a situação não era boa, uma vez que a campanha submarina alemã fracassara e as dificuldades de abastecimento eram enormes.
O acontecimento principal, entretanto, foi a adesão dos Estados Unidos às potências da Entente, praticamente decidindo o curso da guerra. Desde o início, os EUA financiavam o esforço de guerra franco-inglês, sem, no entanto, abdicar de sua neutralidade. Mas a ameaça de uma derrota da Entente, o que poria em risco os investimentos norte-americanos nesses países, foi aos poucos levando os EUA a abandonar sua neutralidade. Os acontecimentos se precipitaram quando a Alemanha declarou ao Presidente Wilson sua intenção de bloquear as ilhas britânicas e a França, tornando perigosa a situação dos navios neutros. Uma campanha da imprensa estimulou a entrada dos EUA na guerra e, em abril, o Congresso, por proposta de Wilson, declarou guerra à Alemanha.
A contribuição norte-americana foi decisiva: financeiramente, os EUA passaram a auxiliar diretamente os países da Entente; economicamente, a entrada em cena dos contingentes norte-americanos rompeu um equilíbrio de forças que era mantido precariamente pelas Potências Centrais; diplomaticamente, a maioria dos países da América Latina declarou guerra às Potências Centrais.

1918 – A Vitória final do Aliados
O inicio de 1918 foi inaugurado pela enorme ofensiva das Potências Centrais contra a Entente, visando impor condições a esta, antes que as tropas norte-americanas chegassem à Europa. Nesse ano, foram utilizadas as inovações bélicas (tanques, aviões, gases venenosos etc.), recomeçando a “guerra de movimento”. Entretanto, a ofensiva alemã foi paralisada na segunda batalha de Marne. A balança de forças se inclinou definitivamente para a Entente, que iniciou uma contra-ofensiva de grandes proporções, levando os alemães ao recuo.
Na Europa Oriental, a Bulgária capitulou, o mesmo ocorrendo com a Turquia que, ameaçada pelas vitórias inglesas na Síria e no Iraque, decidiu depor as armas. A Hungria foi ameaçada e os italianos, em Vittorio Veneto, iniciaram grande ofensiva. O Império Austro-Húngaro se decompôs porque suas nações proclamaram independência. Só a Alemanha prosseguiu na guerra, mas a partir de novembro, com a ameaça representada pela revolta comunista, as elites alemãs e a cúpula de seu exercito derrubaram o Kaiser e proclamaram a República. A 11 de novembro, os representantes do Governo Provisório alemão assinaram em Rethondes o armistício que punha fim à guerra.

Problemas causados pela Guerra
Esta foi a primeira guerra da qual participaram todas as principais potências do mundo, embora de certa maneira não tivesse deixado de ser, no fundo, uma “guerra civil européia”. As guerras anteriores, contudo, se restringiram à Europa e eram travadas, na sua maioria, entre Estados de economia agrícola. Em 1914 foi diferente: as principais potências envolvidas eram industriais, foram utilizados todos os novos experimentos técnicos com um poder de destruição nunca antes vivenciado pela humanidade.
A Primeira Grande Guerra, pela sua duração e, amplidão, levou à necessidade de mudança de atitude do Estado em relação à economia nacional. Cada Estado passou a controlar ou a submeter à sua autoridade a direção da economia, tomando medidas que revolucionaram os hábitos tradicionais, colocando em xeque as concepções doutrinárias tradicionais, uma vez que os diversos Estados:
01 – recrutaram obrigatoriamente os civis, já que, em pouco, as “reservas de homens” se tinham esgotado;
02 – modernizaram e intensificaram a produção de material bélico; dispuseram da mão-de-obra e regulamentaram seu emprego.
A economia de guerra, que suprimiu a liberdade econômica, incluiu a fixação dos preços de venda das mercadorias e o racionamento mediante o estabelecimento de cotas de consumo à população civil. Proibia-se ou se liberava a importação de produtos de primeira necessidade e se controlavam os transportes, inclusive com o congelamento dos fretes. As fábricas deveriam produzir apenas artigos de guerra, os salários ficavam congelados e proibidas as greves.
O financiamento da guerra ultrapassou as expectativas, tendo os Estados recorrido aos empréstimos externos e internos, destacando-se também o problema dos abastecimentos: pela primeira vez na História adotou-se o racionamento, iniciado na Alemanha e estendido a todos os países, em maior ou menor grau. A vida tornou-se muito difícil para a população civil, que teve seu poder aquisitivo diminuído com a alta desenfreada dos preços e o congelamento salarial em um momento em que a greve era proibida por ser considerada atividade “antipatriótica”.

Problemas Políticos e Sociais
As liberdades políticas foram suspensas e os Parlamentos deixaram de ter voz ativa, uma vez que a urgência das medidas a serem adotadas levou à iniciativa constante do Executivo: “A disciplina imposta pela guerra incrementou a autoridade dos ‘notáveis’ a quem os progressos da Democracia obrigavam, antes, a recuar lentamente: não só a autoridade dos chefes militares, ciosos de suas prerrogativas e cujas altercações com os governos civis nem sempre terminavam com a vitória destes últimos, mas também a da burguesia que fornece a quase totalidade dos quadros do exército (...) A luta contra as opiniões prejudiciais à Defesa Nacional, contra o derrotismo, estende-se não apenas a toda critica dos atos do comando ou do governo, mas a toda opinião que ponha em perigo a União Sagrada discutindo a estrutura social, o exercício da autoridade patronal ou os problemas religiosos.” (CROUZET, M. história geral das civilizações, V.15. P.31).
Toda essa situação foi-se tornando insustentável durante o desenrolar do conflito. Começaram a se desenvolver, com diferentes gradações, opiniões pacifistas nos próprios governos e a oposição socialista continental aumentou. Em 1915 socialistas russos exilados, suíços, italianos, alemães e franceses realizaram em Zimmerwald, na Suíça, um congresso negando a União Sagrada e exigindo “uma paz, sem anexação e sem indenização”. As greves, mesmo proibidas, aumentaram e, na Rússia, o Czarismo foi derrubado com participação da própria burguesia, ao mesmo tempo em que se desenvolvia a Revolução Socialista (1917).

Repercussões da Guerra
Do ponto de vista econômico, a guerra produziu crescente desequilíbrio entre a produção e o consumo, manifestando-se uma crise econômica que teve na inflação seu aspecto mais importante. Essa precária situação econômica, que marcou o declínio relativo da Europa, ocasionou grande desequilíbrio social, destacando-se a pauperização da classe média e o aumento da pressão operária através dos sindicatos controlados pelos partidos socialistas, que se dividiram.
“Até aqui, era um fato elementar (...) que a Europa dominava o mundo com toda a superioridade de sua grande e antiga civilização. Sua influência e seu prestígio irradiavam, desde séculos, até as extremidades da Terra (...) Quando se pensa nas conseqüências da Grande Guerra, que agora finda, pode-se perguntar se a estrela da Europa não perdeu seu brilho, e se o conflito do qual ela tanto padeceu não iniciou para ela uma crise vital que anuncia a decadência (...)”. (DEMANGEON, A. Le Déclin de L’Europe, Payot, págs. 13 e 14.)
A ameaça de revolução pairava sobre a Europa, especialmente nos países derrotados. Tal situação levou a concessões por parte dos setores dominantes, ocorrendo, em contrapartida, o fortalecimento crescente das classes trabalhadoras através da ampliação da legislação social.
Politicamente, a guerra, em um primeiro momento, assinalou a vitória dos princípios liberais e democráticos, com o desaparecimento dos Impérios Alemão, Austro-Húngaro, Russo e Turco otomano e a adoção do regime republicano em quase todos os países. Essa tendência, porém, revelou-se muito breve, uma vez, que a crise que se seguiu à guerra, provocando a intranqüilidade e a instabilidade sociais, levou ao estabelecimento de ditaduras: aprofundava-se a crise do Estado Liberal.

Tratados de Paz: a Conferência de Paris.
Em janeiro de 1919 reuniu-se em Paris uma conferência de paz, na qual eram representados 32 países - Aliados ou neutros. Os países vencidos e a Rússia não participaram. Tal situação inicial já mostrava o objetivo de impor uma “paz cartaginesa” (severa) aos derrotados.
Desde janeiro de 1918 que, em uma mensagem ao Congresso, o Presidente norte-americano Wilson tinha estabelecido os Quatorze Pontos que deveriam, segundo ele servir de base aos futuros tratados regulamentadores da paz. Podemos destacar os seguintes Pontos:
1) abolição da diplomacia secreta;
2) livre navegação nos mares;
3) supressão das barreiras econômicas;
4) redução dos armamentos nacionais aos limites compatíveis com a segurança interna do país;
5) restauração da independência da Bélgica;
6) restituição da Alsácia e da Lorena à França;
7) autonomia para as nacionalidades do Império Austro-Húngaro;
8) regulamentação amigável das questões balcânicas;
9) reconstituição de um Estado polonês, com livre acesso ao mar;
10) instituição de uma Sociedade das Nações destinada a garantir a independência e a integridade territorial de todos os Estados.
As figuras principais da Conferência foram os representantes da França (Clemenceau), Inglaterra (Loyd George) e Estados Unidos (Wilson) que concordaram em fundar a Sociedade das Nações. Posteriormente, foram assinados tratados em separado que regulamentaram a paz entre vencedores e vencidos.

O “Tratado” de Versalhes
Regulava a paz com a Alemanha, sendo composto de 440 artigos; ratificado pela Alemanha em 28 de junho de 1919, na Galeria dos Espelhos. Suas clausulas principais foram as seguintes:
1) Cláusulas de segurança (exigidas pela França, que temia a desforra dos alemães: proibição de fortificar ou alojar tropas na margem esquerda do Reno, totalmente desmilitarizada; fiscalização do seu desarmamento por uma comissão interaliada; em caso de agressão alemã à França, esta receberia auxílio anglo-norte-americano; redução dos efetivos militares; supressão do serviço militar obrigatório, sendo o recrutamento feito pelo sistema de voluntariado; supressão da marinha de guerra; proibição de possuir submarinos, aviação de guerra e artilharia pesada.
2) Clausulas territoriais: devolução da Alsácia-Lorena à França, de Eupen e Malmédy à Bélgica, do Slesvig à Dinamarca; entrega de parte da Alta Silésia à Tchecoslováquia; cessão da Pomerânia e da Posnânia à Polônia, garantindo-lhe uma saída para o mar, mas partindo em dois o território alemão pelo corredor polonês; renúncia a todas as colônias que foram entregues à França e à Inglaterra; entrega de Dantzig, importante porto do Báltico, à Liga das Nações, que confiou sua administração à Polônia.
3) Cláusulas econômico-financeiras: a título de reparação, deveria entregar locomotivas, parte da marinha mercante, cabeças de gado, produtos químicos; entrega à França da região do Sarre, com o direito de explorar as jazidas carboníferas aí existentes, durante 15 anos; durante dez anos, fornecimento de tonelagens de carvão à França, Bélgica e Itália; como “culpada pela guerra”, pagaria, no prazo de 30 anos, os danos materiais sofridos pelos Aliados, cujo montante seria calculado por uma Comissão de Reparações (em 1921, foi fixado em 400 bilhões de marcos).
4) Cláusulas diversas: reconhecimento da independência da Polônia e da Tchecoslováquia; proibição de se unir à Áustria (“Anchluss”); responsabilidade pela violação das leis e usos da guerra: utilização de gases venenosos e atrocidades diversas; reconhecimento dos demais tratados assinados.
“Artigo 159 – As forças militares alemãs serão desmobilizadas e reduzidas como se prescreve adiante.
Artigo 160 – Numa data que não deve ser posterior a 31 de março de 1920, o Exército Alemão não deve compreender mais que sete divisões de infantaria e três divisões de cavalaria. Depois daquela data, o número total de efetivos no Exército dos Estados que constituem a Alemanha, não deve exceder o de cem mil homens...
Artigo 198 – As forças armadas da Alemanha não devem incluir quaisquer forças militares aéreas e navais...
Artigo 231 – Os Governos Aliados e Associados afirmam e a Alemanha aceita a sua responsabilidade e de seus Aliados por ter causado todas as perdas e prejuízos a que os Aliados e governos associados e seus membros foram sujeitos como uma conseqüência da guerra, imposta a eles pela agressão da Alemanha e de seus aliados.
Artigo 232 – Os Governos Aliados e Associados reconhecem que os recursos da Alemanha não são adequados, depois de levar em conta as diminuições permanentes desses recursos, que resultarão de outros itens deste Tratado, para realizar a indenização completa por todas essas perdas e danos”. (FENTON, Edwin. 32 Problemas na História Universal. São Paulo: Edart, 1995. pp. 134-135.).

Outros “Tratados” de Paz
No mesmo ano, foram assinados tratados de paz em separado com os demais vencidos consagrando modificações de fato já ocorridas, como o desmembramento dos Impérios Austro-Húngaro, Russo e Turco-otomano. Os tratados de paz refletiram o caráter imperialista da guerra. Embora a tendência na década de 1920 fosse a de se estabelecer um “esfriamento” nas relações internacionais, a paz rigorosa imposta aos vencidos, sobretudo à Alemanha, aumentou os antagonismos.
Fora da Europa, os principais beneficiários da guerra foram o Japão, que manteve a ocupação de colônias da Alemanha no Pacífico e se apossou das concessões alemãs na China e os Estados Unidos da América, não-participantes da guerra nos seus 03 primeiros anos iniciais, que pagaram suas dívidas além de colocarem sob sua dependência econômica grande parte das potencias capitalistas situadas na Europa e fora delas.
Inglaterra e a França receberam da Liga das Nações antigas colônias alemãs na África, sob a forma de mandatos.
A Rússia, ignorada pelas potências ocidentais na convocação para a Conferência de Paris, teve seus territórios invadidos pelos antigos aliados; o fracasso da intervenção militar resultou em uma política de isolamento do primeiro Estado socialista do mundo: a Política do “Cordão Sanitário”.
A guerra também abalou o Liberalismo Político e Econômico e a Revolução Russa comprovou, pelo menos parcialmente, a aplicabilidade das teorias socialistas do século XIX. A guerra não pusera fim às rivalidades. Estas voltariam a cena, pois em Versalhes foram lançadas as sementes da Segunda Guerra Mundial.
Segundo o historiador Maurice Crouzet, “A primeira guerra mundial, anunciada como ‘a guerra para terminar com todas as guerras’, além de preparar conflitos posteriores ainda mais graves, deixou fixa a imagem de devastações e morticínios. Perto de treze milhões foram mortos e vinte milhões feridos. As despesas bélicas não apresentam termos de comparação com as guerras precedentes e as devastações infligidas aos países em cujos territórios se desenvolveram as operações ou devido à campanha submarina alcançam números vertiginosos. Levando em conta a alta dos preços, o custo total do conflito representa 30% da riqueza nacional francesa, 22% da alemã, 32% da inglesa, 26% da italiana e 9% da norte-americana”. (CROUZET, Maurice. op. cit. p. 45).

Texto complementar
Em 1929, o romancista alemão Erich Maria Remarque (1898-1970), publica Nada de novo no front (Im Westen Nichts Neues), o livro mais conhecido sobre a Primeira Guerra Mundial e que se tornou best-seller mundial. Escrito por um homem que serviu no exército alemão, na dedicatória, Remarque volta-se para as gerações futuras dizendo: “Este livro não pretende ser um libelo nem uma confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte não é uma aventura para aqueles que se deparam face a face com ela. Apenas procura mostrar o que foi uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra. (...) Estamos no outono. Dos veteranos, já não há muitos. Sou o último dos sete colegas de turma que vieram para cá. Todos falam de paz e armistício. Todos esperam. Se for outra decepção, eles vão-se desmoronar. As esperanças são muito fortes; é impossível destruí-las sem uma reação brutal. — Se não houver paz, então haverá revolução. Tenho catorze dias de licença, porque engoli um pouco de gás. Num pequeno jardim, fico sentado o dia inteiro ao sol. O armistício virá em breve, até eu já acredito agora. Então iremos para casa.
(...) Levanto-me. Estou muito tranqüilo. Que venham os meses e os anos, não conseguirão tirar nada de mim, não podem tirar-me mais nada. Estou tão só e sem esperança que posso enfrentá-los sem medo. A vida, que me arrastou por todos estes anos, eu ainda a tenho nas mãos e nos olhos. Se a venci, não sei. Mas enquanto existir dentro de mim — queira ou não esta força que em mim reside e que se chama “Eu” — ela procurará seu próprio caminho. Tombou morto em outubro de 1918, num dia tão tranqüilo em toda a linha de frente, que o comunicado se limitou a uma frase: “Nada de novo no front. Caiu de bruços, e ficou estendido, como se estivesse dormindo. Quando alguém o virou, viu-se que ele não devia ter sofrido muito. Tinha no rosto uma expressão tão serena, que quase parecia estar satisfeito de ter terminado assim.”. (REMARQUE, Ercih Maria. Nada de Novo no Front. Trad. Helen Rumjanek. São Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974. (Coleção Clássicos Modernos). pp. 234-35.).