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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Revolução Francesa

A revolução francesa (1789-1799)

A Obra histórica da revolução francesa
A segunda metade do século XVIII foi um período de intensa agitação política, o antigo Regime recebia críticas e contestações de diversas naturezas e em vários lugares. É neste contexto que eclode a Revolução Francesa, para muitos o maior e mais importante de todos os movimentos revolucionários deste período.
Os acontecimentos iniciados na França em 1789, e que se constituíram em um dos fatos históricos mais estudados pela cultura ocidental, tiveram sua origem em tempos bem anteriores. Uma revolta popular com a intensidade da que ocorreu na França, não surge de um ano para o outro, e sim é fruto de muitas décadas de exploração excessiva, de empobrecimento constante e de injustiças sociais muito graves. Independente da organização burguesa para acabar com a Monarquia e instituir um governo onde fosse à classe dominante, o que se viu em 1789 foi uma mobilização em larga escala das classes populares, que englobava os trabalhadores urbanos, os desempregados e pobres em geral e os camponeses. Foi, como destacam muitos historiadores, uma revolução de toda a sociedade; o seu desfecho foi burguês, o movimento foi popular e as repercussões deste abalaram toda a Europa: "Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência da Revolução Industrial Britânica, sua política e ideologia foram formados fundamentalmente pela Revolução Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fabricas, o explosivo econômico que rompeu com as estruturas sócio econômicas tradicionais do mundo não europeu, mas foi à França que fez suas revoluções e a elas deu suas idéias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as nações emergentes, e a política européia (ou mesmo mundial) entre 1789 e 1917 foi em grande parte a luta a favor e contra os princípios de 1789, ou os ainda mais incendiários de 1793. A França forneceu o vocabulários e os temas da política liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o vocabulário de nacionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de organização técnica e cientifica e o sistema métrico para a maioria dos países. A Ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido às idéias européias inicialmente através da influência francesa. Esta foi a obra da Revolução Francesa". (HOBSBAWN, Eric. "A Era das Revoluções (1789-1848)". SP: Paz e Terra, 2001, p.71-2).
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A França no século XVIII
Uma combinação de desagregação do Feudalismo, crescimento econômico da burguesia, empobrecimento da nobreza, intensificação do Absolutismo e aumento da miséria do campesinato formavam o contexto social francês às vésperas do movimento de 1789.

As Questões Econômicas
A França vivia uma situação de decadência irreversível da economia feudal, mais não tinha ainda uma economia capitalista forte e bem estruturada. As propriedades feudais já não possibilitavam a sobrevivência da sociedade, o feudalismo francês tornava-se inviável por causa do aumento populacional e pelo fim das terras que podiam ser arroteadas. Devido à falta de condições para sobreviver no campo, muitas famílias mudavam para as cidades onde o comercio e as manufaturas ofereciam novas oportunidades de trabalho.
Mas apesar da falência do feudalismo, a nobreza recusava-se a mudar de vida. Não aceitava entrar para o comércio, como aconteceu com a fidalguia portuguesa, nem se interessava por desenvolver em suas terras atividades capitalistas, como fizeram os nobres ingleses. Os nobres franceses prendiam-se às velhas tradições que consideravam o trabalho uma atividade indigna para a sua condição social. Ainda viviam sob a ideologia medieval que dividia a sociedade entre “os que rezam (clero), os que combatem (nobreza) e os que trabalham (servos)”. Trabalhar era igualar-se aos servos.
Muitos nobres tiveram de vender suas terras e passaram a disputar com a burguesia os cargos públicos de prestigio. Essa parcela da nobreza vivia à custa do dinheiro público ou das doações que a população era obrigada a fazer à Igreja, aos senhores feudais e ao Estado.
Os senhores feudais que haviam conseguido manter suas terras exigiam de seus trabalhadores impostos abusivos, que condenavam os camponeses a uma situação de penúria extrema e de muita revolta. No século XVIII, o campesinato francês se sublevou inúmeras vezes contra os nobres e clérigos que possuíam feudos. Essa parte da nobreza sobrevivia da exploração do trabalho dos camponeses.
Paralelamente se desenvolviam as atividades capitalistas, sobretudo o comercio. Muitos comerciantes haviam enriquecido, mas a permanência de características do sistema feudal era um entrave ao desenvolvimento de suas atividades. O principal obstáculo eram as alfândegas internas, ou seja, os pedágios que os donos de feudos e a Igreja católica cobravam sobre as mercadorias que atravessavam suas terras. Essa sobretaxação tornava as mercadorias muito caras e dificultava o pleno desenvolvimento das atividades mercantis e industriais. A burguesia também pagava impostos ao Estado.
A burguesia percebia que as possibilidades de expansão de suas atividades eram barradas pelo peso fiscal representado pelo Estado absolutista, pela nobreza e pelo clero. Alem disso, por não possuírem direitos políticos, os burgueses não tinham nenhuma garantia sobre as suas propriedades. Havia sempre o risco de um confisco real.
Para os que viviam do trabalho, que eram pelo menos 80% da população francesa, a situação econômica estava muito difícil às vésperas da Revolução. Os camponeses eram, em sua maioria, pessoas livres, pelo menos juridicamente, mas as condições de trabalho e rendimento eram péssimas, ainda vivendo como servos. A dificuldade de conseguir trabalho nas cidades obrigava a permanência no campo; os donos de terras aproveitavam-se dessa circunstância para se exceder na cobrança de impostos. Dessa forma a situação econômica do campesinato pode ser caracterizada como abaixo da linha de pobreza.
Nas cidades os trabalhadores urbanos formavam um grupo mais desqualificado ainda do que os camponeses. Na estrutura da sociedade feudal não havia espaço definido para os trabalhadores urbanos que, embora crescendo significativamente durante o século XVIII, continuavam política e economicamente agregados à burguesia para quem trabalhavam. Eram um grupo social sem independência.
Na população urbana havia, também, um grande numero de pessoas sem ocupação fixa, normalmente oriundas do campo, de onde saíam porque não encontravam trabalho na lavoura ou apenas para tentar a sorte nas cidades. Durante o processo revolucionário, essa massa de desempregados que vagava pelas cidades, sobretudo por Paris, era facilmente mobilizada pelos discursos dos revolucionários mais radicais.

A organização social
A sociedade francesa estava organizada em três Estados, definidos pela origem (nascimento). A exceção eram as pessoas que entravam para a carreira eclesiástica e, por isso podiam mudar de estamento. Por exemplo: os filhos dos servos já nasciam servos, assim como os filhos dos nobres nasciam nobres, mas, em situações especiais, um jovem de origem humilde poderia se tornar um membro do alto clero – e, assim, mudar de condição social. Mas essa não era a regra geral, uma vez que os cargos mais importantes da Igreja Católica eram quase sempre ocupados por membros da nobreza.
A sociedade francesa era, portanto, dividida em estamentos, estados ou ordens. Nas ordens privilegiadas estava a aristocracia, formada pelo alto clero e pela nobreza, que eram isentos de quaisquer impostos, e representavam cerca de 4% da população francesa na segunda metade do século XVIII. Esses grupos eram totalmente refratários a idéia de perderem seus privilégios mantidos a centenas de anos. Juntos, Clero e Nobreza, na prática, eram sustentados pelo terceiro estado. Contudo, em meio a nobreza, existiam pessoas que eram “ardentes defensoras de reformas, nobres de toga, homens que haviam adquirido algum cargo judicial (daí a “toga”) que conferia um titulo de nobreza, bem como a oportunidade de acumular riquezas substanciais em terras e outras propriedades. incluíam-se nesse grupo homens talentosos e ponderados , como barão de Montesquieu, filósofo, o Conde Mirabeau, advogado, e o Marquês de Lafayette, estadista que acorrera ao auxilio as colônias americanas. Entre os nobres de toga haviam homens que viriam a desempenhar papel de relevo na própria revolução.”. (BURNS, op. cit. p. 485.)
Os restantes 96% eram considerados o Terceiro Estado, a plebe responsável pelo trabalho e pelo pagamento dos impostos que sustentavam o governo absolutista, o primeiro e o segundo estado. Na condição de terceiro estado eram classificados os burgueses enriquecidos com o comercio e as atividades financeiras, os camponeses que viviam do próprio trabalho, os artesões, pequenos proprietários de terras, trabalhadores urbanos, sans-culottes (pequena burguesia de Paris), militares de baixa patente e todos os que tinham origem plebéia. Os grupos urbanos eram protagonistas de várias insatisfações. A burguesia questionava o oneroso sistema tributário oriundo do mercantilismo governamental, bem como seus regulamentos de atividades, que obstaculizavam o desenvolvimento e a expansão de seus negócios. Havia uma tendência anti-mercantilista que predominava entre os comerciantes, financistas e industriais: Monopólios comerciais concedidos a companhias privilegiadas, interferência na sua liberdade de fazer negócios fora do pais, leis que controlavam os salários, fixação de preços, eram vistos como ações que se direcionavam apenas para a manutenção dos privilégios da corte.
O campesinato era a classe mais numerosa do terceiro estado e sua presença foi fundamental no processo revolucionário. A maior parte dos camponeses era constituída de pessoas livres, mas as relações feudais de produção continuavam a predominar. Sendo assim o fim da servidão não significou o fim dos impostos excessivos que condenavam os agricultores a entregarem à nobreza e ao clero a parte que era destinada à sua alimentação.
“Motivo importante da insatisfação dos camponeses eram os tributos que haviam sobrevivido ao fim do regime senhorial. (...) Uma das mais odiosas dessas obrigações era o pagamento de uma renda anual ao senhor que no passado havia controlado a terra. Outra era a doação ao nobre local de uma parte do valor recebido toda vez que se vendia um pedaço de terra. Além disso, os camponeses tinham que contribuir com as banalités ou taxas pelo uso de varias servidões de propriedade senhorial. (...) As mais exasperantes de todas as relíquias do feudalismo eram, provavelmente a Corvéia, e os privilégios de caça da nobreza. A Corvéia (...) havia-se transformado numa obrigação devida ao governo. (...) Ainda maiores inconveniências resultavam dos privilégios de caça dos nobres. Em algumas partes da França proibia-se aos lavradores a capina ou a ceifa na época da procriação, para não molestar os ninhos das perdizes. Coelhos, gralhas, e raposas não podiam ser mortos, apesar da devastação que faziam nas searas ou entre as aves domesticas ou animais novos. Além disso, o camponês devia conforma-se em ver seus campos pisoteados , em qualquer tempo, pelos cavalos de um despreocupado bando de nobres caçadores. (...)
(...) Durante o século XVIII eles se viram também prejudicados pelo fechamento crescente de terras antes publicas e comuns. As terras deixadas de pousio, bem como aquelas que só raramente se cultivavam, eram consideradas comuns , e quem desejasse podia levar o gado a pastar ali. Essas terras comuns, encontradas mais no oeste da França, representavam um recurso importante para os camponeses. Além do já mencionado direito a pastagem, eles desfrutavam o de apanhar lenha e de respingar os campos cultivados após a colheita. Agora, os conselheiros econômicos do Rei – Charles Calonne, Lomenie de Brienne e Jacques Necker – declaravam serem esses direitos coletivos obstáculos ao progresso da agricultura. Ansiosos para aumentarem seus rendimentos mediante a elevação da eficiência de suas propriedades, os latifundiários concordavam. O resultado foi a autorização, pela coroa, da divisão das terras comuns e seu fechamento como propriedade privada. Assim, os camponeses se viam pressionados de um lado a reconhecer as obrigações de um obsoleto sistema senhorial, e por outro a aquiescer com as exigências do moderno capitalismo agrícola, ao mesmo tempo em que pagavam impostos dos quais seus vizinhos aristocratas estavam isentos.”. (BURNS, op. cit. p. 486-488.).


A situação política
A França era uma Monarquia Absolutista, em que o poder do rei era justificado pelo Direito Divino. O Estado Absolutista Francês criou a contradição que em grande parte foi responsável pela sua destruição: promoveu um expressivo enriquecimento dos comerciantes, mas manteve certas estruturas feudais – como os pedágios em solo francês – que impediam o pleno desenvolvimento das atividades capitalistas .
Ainda podemos atribuir à Monarquia a falência das finanças publicas, observada nas duas décadas que precederam a Revolução. A estrutura do Estado era antiquada,onerosa, pela necessidade de sustentar a corte e muitos palácios da família real. As despesas não eram reguladas pela receita, e sim a receita era regulada pelas despesas. Ou seja, cobravam-se impostos de acordo com os gastos, quando o razoável é gastar aquilo que foi arrecadado.
“(...) a estrutura de governo da França não era nem lógica, nem sistemática. Reinava a confusão em quase todos os setores, sendo isso resultado de um crescimento longo e um tanto irregular da máquina burocrática que remontava a idade média. De quando em quando, eram criados novos órgãos, a fim de atender a alguma necessidade especifica, muitas vezes sem levar em conta os que já existiam. Consequentemente, havia grande superposição de funções e inúmeros funcionários inúteis recebiam vencimentos do erário publico (...)”. (BURNS, op. cit. p. 484.)
Para agravar esse peso econômico representado pela corte, pelo funcionalismo publico e pelos gastos descontrolados, a França se envolveu na Guerra de Independência dos Estados Unidos. A luta contra a Inglaterra colocou as finanças publicas em situação de ruína.
“A Inglaterra e a França tinham estado em conflito a maior parte do século XVIII. Em todas as guerras entre eles, com exceção de uma, a França tinha sido derrotada e pagara essas derrotas com a cessão de colônias . Por ironia, era a guerra que os franceses haviam ajudado a ganhar – a guerra de independência americana – que agora acarretava os problemas mais prementes. As despesas incorridas para manter esquadras e exércitos no hemisfério ocidental haviam sido particularmente pesadas, exigindo grandes empréstimos. A conseqüência foi uma dívida nacional que o governo francês ineficientemente burocrático, verificou que não podia suportar, embora não fosse maior que a deixada por Luís XIV em 1714 e representasse cerca da metade da dívida dos ingleses. Luis XVI pressionou seus conselheiros no sentido de criarem novos métodos de contenção das despesas e de tributação, a fim de manter o governo à tona. No entanto, esses homens, bem como o Rei, reconheciam que nada podiam fazer, a menos que, por milagre, lograssem induzir o Clero e a Nobreza a abrir mão dos antigos privilégios que lhes permitiam esquivar-se ao pagamento de uma parcela eqüitativa dos impostos nacionais”. (BURNS, op. cit. p. 484.)


A eclosão da revolução (1789)
Havia um clima de revolta quando o ministro do rei resolveu convocar uma reunião dos Estados Gerais para maio de 1789. Os Estados Gerais eram a Assembléia representante dos grupos sociais (clero, nobreza e terceiro estado). Sua função era discutir os problemas nacionais, mas basicamente não existiu durante o período do Absolutismo, uma vez que não se reunia desde 1614. A convocação foi uma tentativa do governo de solucionar a crise, uma verdadeira confissão real da impossibilidade de solucionar os problemas nacionais.
A nobreza e o clero acreditavam que controlavam a Assembléia porque o sistema de votação definido pela lei estabelecia um voto para cada estado. Sendo assim, a nobreza teria um voto; o clero um voto; o povo um voto. Como os dois primeiros estados defendiam os mesmos interesses, sua vitória estaria garantida. Mas o terceiro estado exigiu que a votação fosse nominal, tendo cada estamento um numero representativo de deputados. Por esse sistema ele teria a maioria dos votos.
Percebendo o rumo dos acontecimentos, o rei tentou barrar a entrada dos deputados na Assembléia. Revoltados, os representantes do terceiro estado invadiram um salão destinado a um esporte da nobreza, o jogo de péla, onde juraram se manter reunidos até concluírem uma nova Constituição. Era o dia 20 de junho de 1789, e o Juramento do jogo de Péla é considerado o marco inicial da Revolução Francesa pelos historiadores.
No dia 9 de julho, a Assembléia dos Estados Gerais se auto-proclamou Assembléia Nacional Constituinte e começou a elaborar uma nova Constituição para a França. Observe que, até esse momento, não havia uma intenção declarada de pôr fim à monarquia.

O dia 14 de julho de 1789
Luis XVI procurou ganhar tempo enquanto as suas tropas cercavam Paris. Na capital o ambiente de tensão se agravava e no campo as revoltas camponesas se intensificavam. No dia 14 de julho, tomou conta de Paris o boato de que os canhões da Bastilha estavam todos preparados para bombardear a cidade. A reação dos parisienses foi imediata: invadiram um deposito de munição e, armados, correram para a Bastilha. O cerco durou perto de quatro horas ao fim das quais o comandante da prisão percebeu que a queda era inevitável. Foram os próprios guardas que abriram as portas da fortaleza permitindo a entrada dos revoltosos e a saída dos prisioneiros.
A Bastilha era uma prisão-fortaleza, onde eram aprisionados os condenados por crimes políticos. Esse episódio, conhecido como a Queda da Bastilha, tem sido apontado como o acontecimento inicial mais importante da Revolução Francesa pelos historiadores.

O processo revolucionário
De uma maneira geral, se aceita uma periodização para o processo revolucionário que obedece aos seguintes critérios e características:

a) Monarquia Constitucional (1789-1792) — Esta fase inicia-se a partir do momento em que um impasse entre os deputados reunidos nos Estados Gerais (Assembléia formada por representantes dos três estados ou ordens, e que devia deliberar sobre o déficit público e a questão fiscal), leva à formação da Assembléia Nacional Constituinte (1789-91). Esta é caracterizada pela tentativa de conciliação entre os interesses da alta burguesia e da nobreza progressista e “liberal”. Tinha por objetivo limitar o poder monárquico, excluir as massas populares de participação política e instaurar um Estado segundo os princípios do liberalismo. Dentre as principais medidas levadas a efeito pela Assembléia, destacam-se: abolição dos privilégios feudais (com indenização), Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, confisco dos bens da Igreja, elaboração de uma Constituição Civil do Clero e, finalmente, promulgação da Constituição de 1791. O texto constitucional estabelecia que a França passava a ser urna Monarquia Constitucional, com o poder monárquico limitado por uma Assembléia Legislativa.
O agravamento da crise econômica, as possibilidades de uma contra-revolução aristocrática interna e a ameaça estrangeira (estimulada pelo próprio rei e pela nobreza emigrada), além da insatisfação com o critério censitário da Constituição, que dividira os cidadãos em ativos (os que têm renda ALTA e, por conseqüência, direitos políticos) e passivos (sem direitos políticos), determinaram o aprofundamento e a radicalização do processo revolucionário.

b) Convenção Nacional (1792-1795) — Fase marcada pelo aumento das pressões populares e pelo radicalismo das posições políticas. A Convenção Nacional, eleita por sufrágio universal, decreta a extinção da Monarquia e a proclamação da República (setembro de 1792). Inicialmente, o controle da I República esteve nas mãos dos Girondinos, corrente política que expressava as aspirações da grande burguesia (armadores, banqueiros, “industriais”, grandes proprietários). O período da República Girondina se estende de setembro de 1792 a junho de 1793 e não consegue fazer frente às necessidades do país. Inseguros na condução da guerra contra o estrangeiro (potencias absolutistas), incapazes de debelar a especulação e os altos preços, as lideranças girondinas, pressionadas pelos “sans-culotes”, são derrubadas. A partir de então o domínio político passa para os “Montanheses”, cuja principal corrente política era representada pelos Jacobinos (representantes da pequena burguesia, com tendências radicais e de esquerda e que tinham o apoio dos “sans-culottes”).
A República Jacobina (2 de junho de 1793 – 27 de julho de 1794), com Robespierre à frente, instaura um governo “revolucionário até a paz”. Atendendo às pressões populares impõe o “Terror”, institui um Tribunal Revolucionário e uma nova Constituição (de 1793) estabelecendo o sufrágio universal. A república jacobina aprofunda e radicaliza o processo revolucionário adotando, dentre outras, as seguintes medidas: abolição da escravidão nas colônias, obrigatoriedade do ensino público e gratuito, “lei do maximum” (tabelando num teto máximo preços e salários), confisco dos bens da nobreza emigrada, fim da obrigatoriedade dos camponeses indenizarem os antigos senhores e reforma agrária. Enquanto o poder legislativo era exercido pela Convenção Nacional, o poder executivo estava a cargo do Comitê de Salvação Pública, presidido por Robespierre, e que exercia o poder de fato. A política jacobina elimina as possibilidades de uma contra-revolução aristocrática interna, ao mesmo tempo em que, graças à organização de um exército revolucionário e popular, liquida com a ameaça estrangeira.
A 27 de julho de 1794 (09 do Termidor, segundo o calendário revolucionário), um golpe liderado por setores da alta burguesia, amedrontada com a crescente radicalização do processo revolucionário e com os “excessos do Terror”, põe fim à experiência democrático-igualitária dos Jacobinos. A partir de então, a Revolução, com os “termidorianos” à frente, entra em retrocesso e esvaziamento de seu caráter mais democrático e radical.

c) Diretório (1795-1799) — Fase assinalada, no plano interno, pela anulação das conquistas populares mais expressivas do período anterior e, no plano externo, por uma dependência cada vez maior do regime em relação aos sucessos militares do Exército. A instabilidade política interna, o agravamento da crise econômica e das tensões sociais, torna o governo do Diretório (organizado segundo os critérios da Constituição de 1795) cada vez mais dependente do poder militar. À. burguesia francesa interessava, agora, evitar a contra-revolução aristocrática e a ameaça dos Jacobinos e dos “sans-culottes”. Ao mesmo tempo, era necessário estimular a expansão econômica. Assim, a 18 de Brumário (novembro), o principal general do Exército, Napoleão Bonaparte, contando com o apoio de expressivos setores da alta burguesia e dos meios militares, sem resistência, derruba o Diretório e assume o poder pessoal. Estava liquidada a Revolução e abria-se o caminho à instalação da ditadura bonapartist

ESQUEMA DA AULA
A revolução francesa (1789 – 1799)
01. Importância Histórica:
· Movimento de massas (camponeses e trabalhadores urbanos);
· Direcionamento burguês;
· Revolução “ecumênica” (supranacional) – Européia e mundial.
02. Fatores:
· A crise econômica e social francesa (origens):
- Crescimento populacional X baixa produtividade.
- Privilégios sociais da nobreza (rendas, cargos públicos [cortesãos]).
- Super-exploração feudal (SOBRE OS CAMPONESES).
- Extorsão tributaria (SOBRE A BURGUESIA) – Entrave ao desenvolvimento capitalista.
· A estrutura social: Sociedade Estamental.
- Grupos (interesses):
* Primeiro estado: clero / Segundo estado: nobreza: 4% da população – ausência de impostos, acesso ao tesouro publico, grandes proprietários (manutenção da estrutura social e econômica).
* Terceiro estado: 96% da população -
Burgueses ricos (comerciantes, financistas, industriais);
Artesãos, trabalhadores assalariados, “sans-cullotes”, militares de baixa patente;
Pequenos proprietários de terra;
Camponeses;
(Fim dos privilégios feudais, supressão do mercantilismo e direitos políticos).
“O que é o terceiro estado? Tudo!!!; o que ele tem sido? Nada!!!; o que ele quer ser? Alguma coisa!!!” (Abade Sieyés..)
· A situação política: Estado absolutista de direito divino;
- Crise financeira do Estado: crescimento da burocracia, guerras com a Inglaterra.
- Difusão do Iluminismo: aprofundamento das criticas ao Estado absolutista.

03. A eclosão da Revolução:
· 1789: Convocação dos estados gerais.
· Divergência: Voto por estado (Rei, Nobreza e Clero) X Votação nominal (burguesia).
· Desdobramentos:
- Assembléia constituinte;
- Queda da bastilha;
- Revolta camponesa (fuga de aristocratas).






04. O processo revolucionário: fases.
FASES
Monarquia constitucional (1789 – 1792)
- Predomínio da burguesia e nobreza liberal: abolição dos privilégios feudais, Declaração dos direitos do homem e do cidadão, constituição civil do clero e constituição de 1791 (Voto censitário).
- Tentativa de fuga de Luís XVI.
Convenção Nacional(1792 – 1795)
- Organização da convenção e Proclamação da República.
- Divisão política:
GIRONDINOS (1792-93): alta burguesia (aumento dos preços, guerra contra os absolutistas e execução de Luís XVI).
JACOBINOS (1793-94): vitórias militares externas, “terror”, constituição de 1793 (voto universal), reforma agrária.
TERMIDOR (1794-95):
Retorno da alta burguesia: anulação das reformas democráticas e sociais.
Diretório(1795 – 1799)
- Constituição de 1795 (voto censitário).
- Sucessos militares externos.
- Instabilidade interna: conspiração dos iguais (Babeuf).
- Aliança entre alta burguesia e Exército: Golpe militar (ascensão de Napoleão Bonaparte).






ABRAÇO E BOM ESTUDO PARA TODOS!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Independência e formação dos EUA - Turmas: segundo e pré (colégio padrão)


A independência e formação dos Estados Unidos
A segunda metade do século XVIII é conhecida como a Era das Revoluções. Observa-se nesse período a derrocada dos antigos mecanismos que davam sustentação ao Antigo Regime. As revoluções do período marcaram o fim do domínio dos estados Absolutistas. Surgia, então, um Estado Nacional de característica liberal, respondendo aos anseios da burguesia emergente politicamente.
Podemos concluir que a Idade Moderna representou a transição do sistema feudal ao Capitalismo contemporâneo e o Estado Nacional Absolutista representou a expressão do poder indireto da burguesia, ao mesmo tempo em que mantinha os privilégios da nobreza. Naquele momento, segundo o historiador Leo Huberman (História da Riqueza do Homem), “a burguesia era semelhante a um pintinho dentro do ovo prestes a nascer. Ele tem duas opções, ou rompe a casca ou morre sufocado (...)”. No século XVIII, o antigo regime poderia ser representado por esta casca a qual Huberman se referiu em sua comparação – ele era um entrave à expansão da riqueza e do poder burguês, assim como seu desdobramento nas colônias, o antigo sistema colonial.
A independência dos Estados Unidos inaugurou uma nova etapa da história. A Revolução Industrial (1760) e a Revolução Francesa (1789-1799) coroaram um período de transformações radicais.
O primeiro sinal de ruína do Antigo Regime foi o rompimento das colônias norte-americanas com a metrópole inglesa. O fim do Pacto Colonial evidenciou as novas práticas econômicas que seriam agora adotadas, influenciadas pelo Iluminismo e pelo Liberalismo. A consolidação do Estado burguês virá com a Revolução Francesa e a nova divisão do trabalho se consolidará com a Revolução Industrial.

As treze colônias e seu processo de independência

Durante grande parte do período em que a Inglaterra exerceu domínio sobre a América Anglo-Saxônica, o Pacto Colonial não se caracterizou pela extrema rigidez imposta por outros paises a outras áreas coloniais. De fato, as Treze Colônias não representavam o total interesse da Inglaterra na América e segundo Eduardo Galeano, “era mais importante para a Inglaterra uma ilhota no Caribe do que as colônias da costa leste da América do Norte” (As Veias Abertas da América Latina).
A colonização de povoamento, aliada à política de tolerância adotada pela Inglaterra, propiciou às colônias do Norte e do Centro um desenvolvimento autônomo, cuja economia era baseada no comércio e produção de manufaturas. As colônias do Sul, que praticavam a economia agroexportadora, sobretudo de algodão, eram rigidamente controladas pelas regras do Pacto Colonial, embora durante o século XVII os problemas internos vividos pela Inglaterra tivessem dificultado o processo de fiscalização.
Após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) com a França, a economia da Inglaterra encontrava-se seriamente abalada. Apesar da vitória inglesa na guerra, impondo à França perdas de territórios coloniais como o Canadá e a Índia, o conflito repercutiu negativamente nas finanças da Grã-Bretanha; tornou-se necessário recuperar o prejuízo.
Como era habitual no comportamento metropolitano, a Coroa Inglesa resolveu se socorrer de suas colônias para recuperar a economia. Londres restringiu a liberdade econômica das suas colônias na América do Norte, arrochando o Pacto Colonial.

O arrocho colonial
O Parlamento Inglês decretou uma série de impostos coloniais a fim de aumentar a arrecadação. As principais leis de impostos coloniais foram:
· 1764 – Sugar Act (Lei do Açúcar): todo açúcar não oriundo das Antilhas Britânicas seria altamente taxado. Afetava principalmente os contrabandistas que atuavam no comércio triangular, envolvendo o Caribe Espanhol (Cuba), a costa da Nova Inglaterra e a África.
· 1765 – Stamp Act (Lei do Selo): incidia sobre livros, jornais e documentos publicados na colônia, que teriam de receber o selo da Coroa e o valor seria incorporado ao preço.
Essas leis fizeram com que os colonos exigissem representatividade junto ao Parlamento Britânico para defender seus interesses. A pressão colonial, aliada à atuação de parlamentar William Pitt, fez com que o Stamp Act fosse revogado. Em 1766, no entanto, as relações entre as Treze Colônias e a metrópole já estavam comprometidas.
Em 1767, o Parlamento, através do então Primeiro Ministro, Towshend, retomou o arrocho colonial. A reação na colônia foi imediata, colocando em confronto os colonos e o exército inglês. Em Boston, uma manifestação acabou sendo tragicamente dispersada pelos canhões britânicos e o episódio ficou conhecido como o Massacre de Boston devido à violência das tropas metropolitanas.
Com os ânimos exaltados, a Inglaterra decidiu diminuir o arrocho. Contudo, em 1773, a situação volta a se agravar com a decretação de mais uma lei, o Tea Act (Lei do Chá). Por esse decreto, o comércio de chá nas colônias ficou sob monopólio da Companhia das Índias Orientais, controlada por comerciantes metropolitanos. O monopólio da Companhia prejudicava os comerciantes da colônia que ficaram proibidos de comercializar o chá.
Na noite de 16 de dezembro de 1773, em resposta ao Tea Act, colonos disfarçados de índios atacaram três navios da Companhia no porto de Boston e jogaram a carga de chá no mar. Esse episódio dói denominado Boston Tea Party (Festa do Chá de Boston). A situação ficava cada vez mais insustentável e já se evidenciava o processo de ruptura colonial.

Radicais e conservadores
Havia um sentimento generalizado na sociedade norte-americana em favor da autonomia frente à metrópole, mas esse sentimento tinha gradações diferenciadas, que se polarizavam em dois grupos: conservadores e radicais.
· Conservadores. Formado principalmente pelos grandes proprietários rurais do Sul e grandes comerciantes do Norte e do Centro, ou seja, era a aristocracia rural e a alta burguesia. Queriam o fim da excessiva exploração metropolitana, mas tinha medo da instalação de um governo que tivesse a participação das camadas populares, o que poderia significar o fim de seus privilégios.
· Radicais. Grupo formado pelos pequenos proprietários, pequenos comerciantes, trabalhadores livres e pessoas que defendiam os ideais iluministas. Defendiam a ruptura definitiva com a Inglaterra, a criação de um governo que atendesse às necessidades da maioria, os valores democráticos, a igualdade política entre todos os cidadãos e a igualdade de oportunidades. Foram os fundadores dos valores patrióticos característicos da sociedade norte-americana.
É necessário entender que os valores democráticos defendidos pelos radicais não se estendiam a toda a população dos Estados Unidos. Eles entendiam como cidadãos, ou seja, aqueles que têm direitos políticos, apenas a população masculina, branca e de origem anglo-saxônica. As mulheres, a população indígena e os afro-americanos ficavam de fora dos ideais de igualdade e de liberdade (sobretudo os afro-americanos escravizados).
Os radicais reuniam-se em organização que tinham a função de ordenar as ações populares contra os abusos da metrópole. Estima-se que havia centenas de organizações desse tipo, espalhadas por várias colônias, atuando em conjunto ou separadamente. A mais conhecida dessas organizações era a Filhos da Liberdade. Essas associações conferiram ao processo de independência dos Estados Unidos em caráter muito popular, fato que é comemorado até os dias de hoje por aquele povo.

A guerra de independência
Uma série de medidas retaliadoras tomadas pela metrópole, em 1774, para responder às manifestações coloniais, ficaram conhecidas como Leis Intoleráveis (fechamento do porto de Boston, exigência de indenização pela perda da carga de chá e ocupação militar da colônia de Massachussets) e tiveram uma repercussão extremamente negativa entre os colonos.
Em setembro de 1774, os colonos se reuniram no Primeiro Congresso Continental da Filadélfia, onde decidiram boicotar economicamente a Inglaterra enquanto vigorassem as Leis Intoleráveis. Essa decisão teve o efeito de uma declaração de guerra. O governo inglês mobilizou suas tropas em direção a colônia rebelada; os colonos se armaram para resistir ao avanço metropolitano. Em 1775, Lexington e Concord foram atacadas pelas tropas inglesas, o que determinou o início da guerra de independência.
O conflito armado começou em abril de 1775, e deixou claro aos colonos que havia a necessidade de uma organização militar de grande porte para fazer frente ao exército inglês. Thomas Jefferson e Dickinson redigiram um documento intitulado “Declaração sobre os Motivos e a Necessidade de Pegar em Armas”, no qual ficava clara a forma de reação dos colonos. O comando das operações militares foi entregue a George Washington, um conservador do Sul, capaz de impor confiança aos grandes proprietários sempre temerosos de que o conflito colocasse em risco seus bens.
É necessário entender que, antes do inicio da guerra, os habitantes das colônias da América do Norte entendiam que eram ingleses, assim como as pessoas que moravam aqui no Brasil entendiam que eram portuguesas, uma vez que a colônia era uma extensão do território metropolitano além-mar. Foi necessária uma grande doutrinação para que os colonos passassem a pensar em si próprios como americanos, e não como ingleses, caso contrario corria-se o risco de um retrocesso no processo de independência. Por isso, faz parte da luta de independência norte-americana uma vasta literatura escrita pelos lideres do movimento, que tinha a função de realizar essa doutrinação.
Talvez o mais importante documento com esse caráter tenha sido o panfleto escrito por Thomas Paine em janeiro de 1776. O pequeno texto, intitulado “Senso Comum”, argumentava que uma ilha (Inglaterra) não devia governar um continente (América do Norte) e expressava com clareza a idéia de independência. O panfleto de Paine colocava para as pessoas comuns de forma clara e direta as idéias de liberdade que os radicais já discutiam há anos. Seu efeito foi imediato e arregimentou grande número de populares para a luta. A pressão popular obrigou os conservadores, ainda reticentes quanto à ruptura com a Inglaterra, a se colocarem a favor da independência.
No Segundo Congresso Continental da Filadélfia ficou decidida a ruptura com a metrópole. Thomas Jefferson, com a colaboração de Benjamin Franklin, Roger Sherman, John Adams e Robert Livingston, escreveu a Declaração de Independência, que foi aprovada pelo Congresso no dia 4 de julho de 1776. A declaração de independência afirmava: “Consideramos como uma das verdades evidentes por si mesmas que todos os homens são criados iguais; que receberam do seu criador certos direitos inalienáveis, entre os quais figuram a vida, a liberdade e a busca da felicidade; que os governos que foram estabelecidos precisamente para manter esses direitos, e que seu legitimo poder deriva do consentimento de seus governados; que cada vez que uma forma de governo se manifesta inimiga desses princípios, o povo tem o direito de mudá-la ou suprimi-la e estabelecer um novo governo, baseando-se naqueles princípios e organizando seus poderes segundo formas mais apropriadas para garantir a segurança e a felicidade. A prudência exige que os governos estabelecidos desde muito tempo não devem ser modificados por motivos fúteis e passageiros [...] Mas quando uma série de abusos e usurpações convergem invariavelmente para o mesmo fim e demonstram o objetivo de submeter o povo a um despotismo absoluto, é direito do povo, e até seu dever rejeitar tal governo e buscar novas garantias de sua segurança futura. Tal é a situação das colônias agora, e daí a necessidade que as obriga a mudar seu antigo sistema de governo”. (GRIMBERG, Carl. História universal. V.10, p.39).
A Guerra de Independência se estendeu até 1783. O apoio francês, que buscava reconquistar as terras perdidas na Guerra dos Sete Anos, foi conseguido por Benjamin Franklin após a vitória dos colonos em Saratoga (1777). Em 1781 os ingleses se renderam em Yorktown e em 1783 foi assinado o Tratado de Paris, reconhecendo a independência da primeira República da América.
Pela primeira vez foi formado em governo estruturado de acordo com os pressupostos do Iluminismo. Essa forma de Estado se organizava a partir de uma nova relação entre o governante e a nação; as pessoas deixavam de ser súditos submetidos à vontade do governante e passavam a ser cidadãos com poderes para destituir o governo caso este não estivesse zelando pelo bem-estar da maioria. Mas não devemos nos esquecer de que, no final do século XVIII, esses privilégios ainda eram restritos apenas a uma parcela da sociedade (homens adultos, brancos e de origem anglo-saxônica).
A consolidação da República veio em 1787 com a promulgação da Constituição, de caráter federalista e presidencialista, com separação dos três poderes. George Washington foi escolhido pelo Congresso para ser o primeiro presidente dos Estados Unidos.
A emancipação dos Estados Unidos reforçou os ideais de independência na América Latina, agravando a crise do Antigo Sistema Colonial.

A expansão territorial e a consolidação dos EUA (século XIX)
Com a organização da República, os Estados Unidos iniciaram sua expansão territorial ainda no século XVIII. A jovem nação tornou-se um pólo atrativo para a imigração européia, pois viveu em amplo desenvolvimento econômico.
A imigração foi um dos principais fatores da expansão territorial dos Estados Unidos. Comprimidos entre os Montes Apalaches e o Oceano Atlântico, contando com a chegada sistemática de novos habitantes, era necessário buscar novas fronteiras. Estas se encontravam a Oeste e eram formadas por terras ocupadas pela população indígena.
Os conflitos napoleônicos do início do século XIX beneficiaram o comércio externo norte-americano. A Inglaterra não enxergou com bons olhos o crescimento comercial dos Estados Unidos e a aproximação destes com a França Napoleônica. Entre 1812 e 1814, ocorreu um novo conflito armado entre Estados Unidos e Inglaterra, que foi denominado de a Segunda Guerra de Independência.
O conflito não teve conseqüências sérias e terminou com a assinatura de um tratado de paz (Paz Eterna de Gand), mas serviu para despertar o sentimento nacionalista. A necessidade de manutenção da unidade nacional e territorial e as constantes ameaças de uma recolonização, ou mesmo de uma intervenção armada por parte das potências européias, desenvolveu o pensamento isolacionista norte-americano. Em 1823 era divulgada a Doutrina Monroe, determinando que os Estados Unidos não iriam se envolver nos assuntos internos da Europa mas, em contrapartida, não aceitariam a intervenção dos europeus nos assuntos americanos. O lema dessa política era “América para os americanos”.
No início do século XIX os Estados Unidos se lançaram na Marcha para o Oeste, comprando ou anexando territórios e ampliando sua extensão geográfica. Durante esse processo ocorreu uma verdadeira guerra entre norte-americanos e índios, que resultou no genocídio das populações nativas e na ocupação de suas terras pelos colonos.
A partir da costa do Atlântico, a expansão territorial atingiu a costa do Pacífico em 1846, fazendo o novo país atingir dimensões continentais. Observe as etapas dessa expansão:
· 1803 – A Lousiania é comprada de Napoleão Bonaparte;
· 1819 – A Flórida é adquirida junto à Espanha;
· 1846 – Anexação do Oregon. Chegada ao litoral do Pacífico;
· 1848 – Numa guerra contra o México, os Estados Unidos incorporam dois milhões de quilômetros quadrados, atingindo o Pacífico. Pelo tratado de Guadalupe-Hidalgo foram anexadas Texas, Califórnia, Novo México, Utah, Nevada e Arizona; “Pobre México: tão longe de Deus, tão próximo dos Estados Unidos!”.
· 1867 – O Alasca é comprado da Rússia;
· 1896 – O Havaí é invadido e anexado.
A expansão foi justificada pela Doutrina do Destino Manifesto, segundo a qual “os norte-americanos foram escolhidos por Deus para liderar a América e o mundo”.
O caráter capitalista da expansão era claro e a partir da Florida foi possível alcançar a América Latina e, através do Pacífico, os mercados orientais da China e do Japão.

Mecanismos da Expansão territorial
a) Compra de Territórios e diplomacia.
Pelo Tratado de Versalhes, 1783, firmado com a Inglaterra, o território dos Estados Unidos abrangia da Costa do Atlântico até o Mississipi.
No século XIX, essa realidade se altera consideravelmente. Em direção ao Oeste aparece o território da Louisiana, colônia francesa, que Napoleão Bonaparte - devido às guerras na Europa e Antilhas, Haiti - negociou com os norte-americanos por 15 milhões de dólares (1803). A Flórida foi comprada dos espanhóis, em 1819, por cinco milhões de dólares. A Rússia vendeu o Alasca aos Estados Unidos por sete milhões de dólares. A anexação de Óregon - Noroeste -, colônia inglesa, região que despertou pouco interesse até 1841, foi cedida aos americanos em 1846.
b) Guerra.
O Sudoeste americano pertencia ao México. A conquista desse território ocorreu através da guerra. Em 1821, os colonos americanos passaram a colonizar esse território com autorização do governo mexicano que exigiu-lhes a lealdade e a adoção da religião católica por parte dos pioneiros. A dificuldade encontrada pelo México na consolidação do Estado Nacional refletiu-se em conflitos internos e no estabelecimento de ditaduras, como a de Lópes de Sant'anna. Esses fatos impediram um efetivo controle sobre essa região, outrora concedida. Dessa maneira, o Texas estava fadado a compor os Estados Unidos, o que ocorreu em 1845, quando os colonos norte-americanos ali estabelecidos declararam a independência do território em relação ao México e a sua incorporação aos Estados Unidos.
A guerra estendeu-se até 1848, quando foi assinado o Tratado de Guadalupe-Hidalgo, que estabelecia o Rio Grande como linha fronteiriça entre o México e o Texas, além da cessão da Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e parte do Colorado aos Estados Unidos, por 15 milhões de dólares.
Em 1853, foi completada a anexação de territórios do México com a incorporação de Gadsden. Metade do território mexicano havia sido perdida para os Estados Unidos. Lázaro Cárdenas, presidente mexicano (1934-1940), em relação ao imperialismo norte-americano comentou: "Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".
d) A guerra de extermínio contra os indígenas.
As maiores vítimas da marcha para o Oeste foram os indígenas. Estes encontravam-se em estágios de pouco desenvolvimento se comparados aos astecas, maias e incas, daí sua dificuldade para resistir ao domínio e força dos brancos europeus.
Os norte-americanos acreditavam que, além de serem os predestinados por Deus a ocuparem todo o território, deveriam cumprir a missão de civilizar outros povos.
As tribos do Sul, mais desenvolvidas, proporcionaram uma resistência maior à ocupação do branco. No entanto, a única opção das tribos indígenas foi a ocupação de terras inférteis em direção ao Pacífico, até o seu extermínio. Hoje, os remanescentes desses povos vivem em reservas indígenas espalhadas pelo país.

A guerra de secessão (1861 – 1865)
Os Estados Unidos conheceram dois tipos de colonização: no Sul foi estabelecida a plantation, trabalho escravo e produção voltada para o mercado externo; no Norte ocorreu à colonização de povoamento, com o uso de pequenas propriedades, trabalho livre e produção voltada para o mercado interno. Após a independência, as duas regiões mantiveram-se no mesmo sistema econômico que praticavam no período colonial.
Mas, na segunda metade do século XIX, o mundo passou a se organizar de acordo com a Divisão Internacional do Trabalho. Essa nova forma de ordenação internacional coloca, de um lado, os países industrializados, comercializadores de excedente industrial e, de outro, os países não-industrializados, de economia primária, fornecedores de matérias-primas e de produtos agrários e de economia dependente. A regra geral é que do primeiro grupo façam parte os países ricos enquanto os países pobres se aglutinem no segundo grupo.
Naquele momento histórico, uma boa parte das nações definia de que lado ficaria. Para algumas nações essa situação já estava estabelecida. Por exemplo, a Inglaterra, incontestavelmente, estava no grupo dos países ricos, enquanto o Brasil, que havia optado por manter a economia agroexportadora, candidatava-se a pertencer ao conjunto dos países de economia dependente. Porém, para os Estados Unidos, essa questão estava em aberto porque em seu território conviviam as duas propostas de política econômica: o Sul preferia manter a economia agrícola destinada ao mercado externo, enquanto o Norte apostava na industrialização e no desenvolvimento do mercado interno. A busca pela definição do rumo econômico que o país deveria tomar foi o cenário onde se desenrolou a Guerra Civil Norte-Americana, conhecida como Guerra de Secessão.

A questão alfandegária e a questão da mão-de-obra
Às vésperas da Guerra Civil, duas questões imediatas opunham o Norte e o Sul. Em primeiro lugar, havia uma divergência com relação à política alfandegária. Os estados do Norte queriam aumentar as taxas alfandegárias para proteger seus produtos industrializados daqueles importados da Inglaterra. Os estados do Sul eram contra a elevação dos impostos porque isso prejudicaria suas exportações de algodão para as indústrias inglesas (a política alfandegária é uma via de duas mãos: quando um país aumenta os impostos sobre os produtos importados, os seus produtos passam a ser super-taxados pelos países que foram prejudicados pela elevação alfandegária).
O segundo problema estava relacionado com o trabalho escravo, que ainda predominava no Sul. Os estados do Norte eram claramente favoráveis à abolição da escravidão por dois motivos: primeiro porque no sistema capitalista, como já vimos, o trabalho deve se tornar uma mercadoria (na escravidão, o trabalhador é que é a mercadoria); segundo, porque os ex-escravos poderiam formar um expressivo mercado de mão-de-obra para as indústrias nortistas em expansão.
Quando, em 1861, Abraham Lincoln elegeu-se presidente apoiado em uma plataforma que defendia a abolição da escravidão e o aumento das tarifas alfandegárias, os estados do Sul decidiram separar-se (secessão) do Norte e formar um novo país. Os estados do Norte, então, deflagraram a guerra não aceitando a divisão do país porque os estados do Sul, representavam um mercado fornecedor de matéria-prima e mão-de-obra e consumidor do excedente industrial.
O Norte venceu a guerra. Esse desfecho significou sobretudo, a vitória do projeto da burguesia do Norte, ou seja, a expansão e consolidação do parque industrial norte-americano, sua inserção no grupo dos países economicamente desenvolvidos e que comandam a economia mundial. A partir desse crescimento econômico, os Estados Unidos passaram a exercer uma política imperialista na América Central, na América do Sul e nas ilhas do Oceano Pacífico. Assim, “A vitória do norte em 1865 assegurou a continuidade do crescimento dos Estados Unidos como nação. A décima quarta emenda à constituição declarava expressamente que todos eram cidadãos dos EUA, e não de um determinado estado ou território. Ao afirmar que nenhum cidadão poderia ser privado da vida, da propriedade ou da liberdade sem o devido processo legal, estabeleceu que o “devido processo” seria definido pelo governo nacional e não pelos governos estaduais ou territoriais. Os anos que se seguiram à guerra civil americana assistiram a consolidação econômica do país, sob direção da empresa privada nortista. O símbolo do triunfo do Norte como formador da nação sobreveio com o assentamento do ultimo trecho dos trilhos da estrada de ferro Union Pacific, uma ferrovia transcontinental, em 1869. (...) A formação nacional, por seu turno, produziu uma unidade econômica suficientemente grande para gerar os meios com os quais sustentar o crecimento econômico; e suficientemente confiante para que entrasse em concorrência com a Inglaterra.”. (Adaptado de BURNS, EDWARD McNALL. História da Civilização ocidental: do homem das cavernas as naves espaciais / EDWARD McNALL BURNS, ROBERT E. LERNER, STANDISH MEACHAM; São Paulo: Globo, 2003, p.596).
A vitória do Norte unificou economicamente o país em torno do projeto industrial, mas não foi capaz de eliminar diferenças regionais. Uma grande parte dos sulistas jamais aceitou a abolição da escravidão imposta pelos ganhadores da guerra. Sobretudo, não aceitaram a transformação dos ex-escravos em cidadãos norte-americanos. Sem poder se voltar contra aqueles que lhes impuseram essa situação, voltaram-se contra a população negra, praticando um dos mais ferozes racismos de que temos conhecimento.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Sobre Jesus..

“Relato aqui a descrição das dores de Jesus feita por um grande estudioso francês, o médico Dr. Barbet, dando a possibilidade de compreender realmente as dores de Jesus durante a sua paixão. `Eu sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei a fundo anatomia. Posso, portanto, escrever sem presunção. Jesus entrou em agonia no Getsemani - escreve o evangelista Lucas - orava mais intensamente. "E seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra". O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão dum clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é um fenômeno raríssimo. Se produz em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.

Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.

Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue.

Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que aqueles da acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).

Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, o entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos. A estaca vertical já está plantada sobre o Calvário.

Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso.

Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la é atroz. Alguma vez vocês tiraram uma atadura de gaze de uma grande chaga? Não sofreram vocês mesmos esta experiência, que muitas vezes precisa de anestesia? Podem agora vos dar conta do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento.

Como aquela dor atroz não provoca uma síncope? O sangue começa a escorrer. Jesus é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de pé e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos; horrível suplício! Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), o apoiam sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. No mesmo instante o seu pólice, com um movimento violento se posicionou opostamente na palma da mão; o nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se, como uma língua de fogo, pelos ombros, lhe atingindo o cérebro. Uma dor mais insuportável que um homem possa provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos. De sólido provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. Pelo menos se o nervo tivesse sido cortado!

Ao contrário (constata-se experimentalmente com freqüência) o nervo foi destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas.

O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; conseqüentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregaram dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos o laceraram o crânio. A pobre cabeça de Jesus inclinou-se para frente, uma vez que a espessura do capacete o impedia de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudíssimas.

Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. As feições são impressas, o vulto é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se

enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos se curvam. Dir-se-ia de um ferido atingido de tétano, presa de uma horrível crise que não se pode descrever. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico.

Jesus atingido pela asfixia sufoca. Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita. Que dores atrozes devem ter martelado o seu crânio!

Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus tomou um ponto de apoio sobre o prego dos pés.

Esforçando-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração se torna mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.

Porque este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem".

Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés, inimaginável!

Enxames de moscas, grandes moscas verdes e azuis, zunem ao redor do seu corpo; irritam sobre o seu rosto, mas ele não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura se abaixa.

Logo serão três da tarde. Jesus luta sempre: de vez em quando se eleva para respirar. A asfixia periódica do infeliz que está destroçado. Uma tortura que dura três horas. Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancaram um lamento: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?". Jesus grita: "Tudo está consumado!". Em seguida num grande brado disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito".

A Descrição acima é obra de um médico francês, portanto, como historiador, isento-me de possíveis imprecisões biológicas que por ventura ela possa conter e passo a meu objetivo que é dialogar com vocês, um pouco, a respeito do que, para mim, significa o sofrimento desse homem que viveu na Judéia sob dominação romana.

Gostaria inicialmente de reafirmar a minha opção pelo ecumenismo positivo enquanto forma de exercício da minha espiritualidade, não me considerando vinculado especificamente a nenhuma instituição religiosa embora, sempre que possível, possa freqüentar algumas. O que mais me impressiona no sofrimento de Jesus foi o ato de coerência de princípios levado as ultimas conseqüências e recheado de um profundo sentimento de amor e solidariedade para com o próximo. Ao acreditar na simbologia do cordeiro, Jesus aceitou estoicamente o seu papel enquanto homem: carregar sobre seus ombros os as maldades, os preconceitos, a cobiça, a avareza e todas as outras formas de fustigamento da condição humana, que nos foi legada por Deus, a causa primeira de nossa própria existência. O sacrifico foi um ato de amor pela humanidade e suas fraquezas, foi um ato de solidariedade para com pecadores, desvalidos, injustiçados, sem teto, sem terra, sem riqueza, sem espiritualidade, sem oportunidade, sem direito a busca da felicidade. O perdão foi o chamamento para a conciliação entre os homens e destes com Deus, para a paz – estado tão buscado pela humanidade, de tão difícil alcance que fomos capazes de criar as condições e instrumentos do nosso próprio Armageddon.

Enquanto cristãos, somos herdeiros dessa tradição. Enquanto cidadãos de uma República temos o dever de buscar não somente o que é nosso, mas, resgatar o que foi tirado dos outros. Não que tenhamos de sair por ai empunhando bandeiras e gritando! Não é mais essa a cidadania que entendo e exerço embora não ache negativo que a pratica da forma descrita cima. Tenho a convicção no caminho da democracia e na idéia de que fazendo a nossa parte estaremos contribuindo para uma vida melhor.

Façamos nossa parte: Coerência, honestidade, solidariedade, mérito, antiviolência, amor, perdão, convivência com a diferença, são idéias de caminhos que possam nos orientar, que possamos seguir.

Termino desejando uma boa páscoa para todos e que o espírito do Cristo esteja com todos vocês.

Paz e amor,

Cabeça.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Iluminismo - Padrão - Pré.

O pensamento ilustrado (Iluminismo).
Durante os séculos XVII e XVIII, o dinamismo da sociedade capitalista nascente, da ciência em desenvolvimento, esbarraram nos entraves do sistema absolutista de poder e nos dogmas obscurantistas pregados por instituições religiosas que se aliaram aos reis de poder absoluto. Vários intelectuais, alguns deles ligados a burguesia, outros independentes ou até aristocratas, passaram a criticar a teoria do conhecimento então vigente (conhecimento é revelação divina), anunciando um conjunto de idéias que preconizavam uma nova forma de pensar a natureza, a sociedade e, mais tarde, novas estruturas econômicas, políticas, sociais e culturais, mais condizentes com a exigência de liberdade dos tempos então em curso. Idéias tradicionais concernentes a temas como Deus, existência humana, universo e natureza foram questionadas e modificadas produzindo como resultado uma revolução intelectual que trouxe a tona uma “nova visão do mundo – racional, mecanicista e em grande parte impessoal, mas ao mesmo tempo humanitária, tolerante e, por conseguinte, voltada para a compreensão tanto das fraquezas quanto das aspirações da humanidade”. (BURNS, EDWARD McNALL. História da Civilização ocidental: do homem das cavernas as naves espaciais / EDWARD McNALL BURNS, ROBERT E. LERNER, STANDISH MEACHAM; São Paulo: Globo, 2003, p.453).

Contexto histórico-intelectual em que surgiu o iluminismo
O pensamento ocidental, antes tão marcado pelo misticismo religioso, conheceu a partir dos séculos XVII e XVIII uma nova possibilidade de construção sustentada no racionalismo. O mundo físico e seus fenômenos deixavam de ser justificados pela religião e passavam a ser explicados pela razão. O Iluminismo foi acima de tudo uma revolução cultural porque propôs uma nova forma de entender a natureza e a sociedade, e significou uma transformação profunda na forma de pensar, pois rompeu com a maneira como as pessoas pensavam antes.
Vale salientar que apenas uma parcela da população européia teve contato com as novas idéias e descobertas cientificas. A grande maioria da população continuou a entender o mundo a partir do que ensinavam e as teses religiosas.
Desde o século XVI, a Europa vivia em processo de múltiplas transformações. As Grandes Navegações, a Reforma Religiosa, o surgimento dos Estados Nacionais e a expansão do comércio, foram, aos poucos, desintegrando o que havia restado da velha ordem feudal. Nos séculos XVII e XVIII, o mundo preparava-se para viver o tempo do capital e da burguesia. Houve uma grande expansão demográfica na Europa e um melhor aproveitamento da riqueza. Os capitalistas investiam em avanços tecnológicos que, por sua vez, permitiam acumular riquezas cada vez maiores. Foi neste contexto de consolidação do universo burguês que as idéias iluministas se estruturaram.
As novas formas de vida e as conquistas humanas da Época Moderna não se articulavam com a riqueza das antigas estruturas de poder político e econômico e, também, do pensamento religioso que dominava a vida intelectual. As conquistas técnicas abriam possibilidades de avanço em vários campos, com os quais antes não se ousava sonhar. Mas o universo intelectual dominado pelos pressupostos da religião católica condenava o interesse cientifico, logo apontado como heresia pelo clero, que temia perder seus privilégios econômicos, políticos e sociais. A fim de seguir em busca desses novos caminhos que se colocavam como novas possibilidades, os iluministas tinham de romper com as tradições do passado.

A razão e a verdade
O pressuposto básico do Iluminismo era a razão, e seu objetivo encontrar a verdade. Para os iluministas o conhecimento somente podia ser considerado como verdade quando fosse evidente para a razão e para os sentidos. Não bastaria alguém enunciar, uma autoridade afirmar, assim como não importaria se existisse o peso da tradição. Para ser considerado verdadeiro, um determinado pressuposto teria de passar pelo crivo da razão. Considerando o universo de crenças e de dogmas que ordenaram o pensamento da Idade Média, essa nova perspectiva do conhecimento era de fato revolucionária.
O primeiro pensador a teorizar a duvida como meio de desvendar a realidade foi o francês René Descartes, que viveu entre 1596 e 1650, portanto um cientista do século XVII. Podemos dizer que seu trabalho foi à fonte de inspiração dos iluministas. Descartes acreditava que todo saber cientifico pode ser traduzido em idéias precisas e claras como a Matemática. Ele defendia a tese que o conhecimento obedecia a uma progressão e que, seguindo essa ordem progressiva, seria possível desvendar tudo que ainda era desconhecido.
O caminho adotado por Descartes para chegar a esse sistema que leva ao saber absoluto foi duvidar da veracidade dos conhecimentos até então consagrados, questionava tudo o que já se conhecia como verdade. Para o pensador francês não existe reflexão fora da duvida. Um de seus enunciados afirma: “Se duvido, penso”. A sua afirmativa mais famosa (“Penso, logo existo”) nos leva a concluir que ele questionava até mesmo a sua própria existência.
“As implicações do pensamento de Descartes foram de enorme relevância. (...). As pessoas, afirmava ele, não só tinham o direito de reavaliar o passado como a obrigação de fazê-lo e, quando necessário, rejeitar-lhe as convicções. Deviam ter a coragem de experimentar, a fim de revelar e entender a natureza mecânica do universo”. (BURNS, EDWARD McNALL. Op. Cit., p.455).
O pensamento cartesiano, resultado das conclusões de Descartes, entendia que quando a verdade não era evidente era preciso desenvolver métodos para fazê-la emergir. Os métodos propostos foram os seguintes:
· Análise: que dividia em etapas simples os problemas encontrados no processo de conhecimento de objetos muito complexos:
· Síntese: que partia dos elementos mais simples para atingir o conhecimento dos mais complexos.
· Enumeração: que seguia o cominho da investigação de todos os aspectos envolvidos em uma determinada questão. Essa formulação buscava cobrir todo o campo analisado a fim de não quebrar a ordem progressiva do conhecimento.
Apesar de negar as explicações dogmáticas da Igreja e acreditar que a pessoa por si só era capaz de chegar à verdade, o pensador francês não negava a existência de Deus.
No pensamento cartesiano, a razão poderia levar a pessoa ao conhecimento da verdade absoluta, eterna. A razão era, em si, universal e plena de todos os conhecimentos que o Indivíduo deveria atingir. Os iluministas entendiam a razão mais como instrumento do que como uma entidade com substancia própria. A ação da razão seria operar sobre os aspectos da realidade apreendidos pelos sentidos, tornando-os racionalmente conhecidos e possibilitando seu entendimento. Essa linha de racionalismo revela a influência do Empirismo Inglês teorizado por Francis Bacon (1561-1626) e John Locke (1632-1704).
O Empirismo Inglês sustentava-se no pressuposto de que as idéias surgiam daquilo que sentíamos, ou seja, tudo aquilo que surgia no intelecto passava antes pelos sentidos. Dessa forma não seria possível a existência de idéias em si mesmas, surgidas apenas no campo da razão. O Empirismo defendia a experimentação (plano dos sentidos) para se chegar ao conhecimento (plano das idéias). Essa metodologia derivou na concepção mecanicista da ciência criada por Isaac Newton (1642-1727), que trabalhava a partir da observação dos fenômenos particulares para induzir regras gerais que eram traduzidas em linguagem matemática.
A atmosfera cultural dos anos de 1700, que permitiu o desenvolvimento e divulgação do iluminismo, fundamentava-se nas bases racionais da revolução intelectual de Descartes e seus contemporâneos. Em um sentido restrito, podemos afirmar que o pensamento iluminista do século XVIII foi o resultado da aplicação dos princípios racionalistas às reflexões sobre economia, sociedade, política e cultura. Assim, logo o questionamento das verdades estabelecidas no campo da explicação dos fenômenos naturais transformou-se na duvida a respeito dos problemas mais imediatos do homem. “Na época, outro gênero de saber que se apresentava como verdadeiro dizia respeito ao Estado e ao Governo. A tradição do antigo regime afirmava que o poder dos reis era sagrado, pois vinha diretamente de Deus. É claro que, entendido desse modo, o poder real não podia ser posto em duvida, qualquer que fosse a atitude do monarca. Obedecer ao rei era obedecer a deus. Isso tornava os súditos passivos e obedientes, incapazes até de sonhar com a possibilidade de resistência a um tirano. É certo que essa doutrina havia sido questionada por filósofos mais ousados, e, no século XVII, Hobbes havia mostrado que o poder político é coisa absolutamente profana, diz respeito apenas as decisões dos homens. Mas foi no século XVIII que o questionamento da natureza divina do poder, transformaram-se em ataques ao absolutismo real. Os pensadores iluministas deram uma importância prioritária ao papel critico da razão, que deve denunciar as idéias ou discursos que, por trás de pretensão a verdade, podem estar simplesmente ocultando as ambições de uns poucos”. (NASCIMENTO, Milton Meira de e Nascimento, Maria das Graças l. Iluminismo – a revolução das luzes. São Paulo: Ática, 1998, p. 23).
Os ideais iluministas eram profundamente otimistas em relação ao ser humano e à nossa capacidade de controlar e conhecer tudo o que nos rodeia. No plano social, esse otimismo se traduziu na crença de que os homens eram agentes históricos, que eram capazes de conduzir a história de acordo com seus interesses. Pela primeira vez, o ser humano era pensado como único responsável pela construção do seu futuro. Antes do século XVIII, havia a crença na interferência divina, professada tanto pelas religiões monoteístas como politeístas. A vontade divina era o que determinava o destino humano. A partir do Iluminismo, o ser humano tomou a história em suas mãos.
No plano político, o pensamento das Luzes foi a base de sustentação ideológica das revoluções burguesas. Os preceitos de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, presentes na Revolução Francesa, foram a derivação política das teses racionalistas. Já que as pessoas é que são as construtoras de seus destinos e de sua história, não havia mais como justificar o poder de um rei que governava por direito divino.
A crença de que o ser humano seria capaz de conhecer tudo o que existia no mundo perceptível aos sentidos, entendidos a luz da razão e experimentação, levou à criação da Enciclopédia – ou Dicionário Racional da Ciência, das Artes e Ofícios -, que deveria conter todo conhecimento humano até sua época. A Enciclopédia francesa foi a ampliação de uma enciclopédia inglesa, publicada em 1728, e sua elaboração foi coordenada pelo escritor Denis Diderot (1713-1784), que contou com varias dezenas de colaboradores.
O principal colaborador de Diderot foi o matemático Jean Le Rond D’Alembert, mas outros expoentes do Iluminismo, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau, também contribuíram para a produção dos textos que integravam o compendio. A obra completa contém 35 volumes, nos quais é feita uma revisão critica das artes e das ciências sob o prisma do Humanismo e do Racionalismo. O objetivo dos enciclopedistas era divulgar as suas teses filosóficas e as descobertas cientificas.

O pensamento político-econômico iluminista
O movimento das Luzes realizou uma ampla crítica à forma do poder vigente (Absolutismo) e propôs uma nova maneira de entendimento da vida social e política. Ao mesmo tempo em que refletia o panorama histórico do século XVIII, a ilustração sedimentava o processo político revolucionário que teria inicio no final daquele mesmo século. Os principais formuladores do pensamento político iluminista foram:
· JOHN LOCKE (Segundo tratado de governo civil) – Principais teses:
- Direitos naturais do homem: vida, liberdade e propriedade.
- Papel do Estado: preservar os direitos naturais do homem e proporcionar garantias de uma vida social segura.
- Direito de rebelião: recurso contra o Estado opressor (todo Estado que não cumprir o seu papel).
· MONTESQUIEU (O espírito das leis) – Principais idéias:
- O soberano absoluto naturalmente abusa de seu poder.
- Para evitar os abusos a única solução é dividir o poder, rompendo seu caráter absoluto.Teoria da divisão de poderes: Executivo, legislativo e judiciário. O poder fiscaliza o poder. “Só se impede o abuso do poder quando pelas disposições das coisas o poder detém o poder”.
· JEAN JACQUES ROUSSEAU (O Contrato social) – Postulados do mais radical dos filósofos da ilustração:
- Direitos naturais do homem: vida, liberdade, propriedade e exercício da cidadania.
- Papel do Estado: Garantir os direitos naturais do homem e fazer cumprir a decisão da maioria (vontade geral).
- Universalidade da participação: a vontade geral deve refletir a decisão da maioria social.
- Criticas a burguesia: A propriedade é a fonte de todos os males e da desigualdade e insegurança entre os homens.
Os pressupostos das Luzes estiveram presentes em inúmeras revoluções ocorridas a partir da segunda metade do século XVIII. Essas idéias varreram quase o mundo todo, levando as pessoas a se organizarem para derrubar a sociedade de privilégios que marcou o Estado Moderno. Nas colônias americanas, o ideário iluminista estimulou as lutas de independência. No Brasil, as Conjuras Mineira (1789) e Baiana (1798) foram fortemente influenciadas pelo Iluminismo.
Um importante desdobramento do iluminismo político foi a formulação de novos princípios para a gestão das riquezas produzidas pelos homens. Tratava-se, no melhor interesse burguês, de afirmar as prerrogativas do individualismo e liberalismo econômico em detrimento das concepções controladoras e intervencionistas postas em prática pelo Estado absolutista através de sua política econômica, o Mercantilismo. As principais doutrinas econômicas do iluminismo foram:
· A Fisiocracia – Sustentada por economistas como os franceses Quesnay (1694-1774), Turgot (1727-1781) e Gournay (1712-1759), defendia como principais idéias: a existência de leis naturais da economia, o fim do intervencionismo estatal, o livre comércio e a exaltação da terra como fonte de todas as riquezas.
· O Liberalismo – Sistematizadas por Adam Smith (A riqueza das nações, 1776) as idéias econômicas liberais podem assim ser sintetizadas:
- Existem Leis naturais que administram a economia.
- Fim do intervencionismo estatal.
- O principio fundamental que deve reger as economias é o da liberdade e ele é aplicável a todas as suas relações: Comércio, produção, concorrência e contrato de trabalho.
- Individualismo econômico: o enriquecimento individual é enriquecimento de toda a sociedade.
- O Trabalho como fonte de todas as riquezas. A racionalização da exploração do trabalho aplicando ao seu valor a lei da oferta e da procura, organizando-o de forma eficiente (divisão do trabalho) e barateando o custo que ele representa.

O despotismo esclarecido
Alguns iluministas defendiam a idéia de que, para bem conduzir os destinos da nação, os reis deveriam ser educados pelos filósofos a fim de dominar o conhecimento que leva à verdade, pois só assim poderiam conduzir seus súditos à felicidade. Por outro lado, seus conhecimentos seriam o parâmetro para a educação dos súditos.
Vários monarcas, sobretudo da Europa Central, adotaram a educação e o conhecimento formulados pelos iluministas. Era comum os reis buscarem nas idéias dos filósofos o aconselhamento para a solução dos problemas de Estado. Essa tentativa de união entre um poder excessivamente centralizado e as teses iluministas foi denominada de Despotismo Esclarecido. Todavia, os especialistas no assunto entendem que o nome de Absolutismo Ilustrado seria mais apropriado, uma vez que continuavam a ser governos absolutos, com a diferença de que adotavam algumas teses ilustradas (ou iluministas).
Os absolutistas ilustrados pretendiam governar de acordo com as teses racionais do Movimento das Luzes. Sua intenção não era propriamente modificar o Estado, mas governar de acordo com as novas idéias em vigor, entendendo que esse procedimento fortaleceria o seu poder. Apesar de manter a centralização característica do Absolutismo, os reis ilustrados colocavam-se como servidores do Estado com a tarefa de conduzir a nação à felicidade. Além disso, as decisões e ordenações reais deveriam ser justificadas pela razão e não mais pelos pressupostos religiosos.
Em geral, o Absolutismo Ilustrado ocorreu em reinos onde a burguesia não era ainda classe social de projeção e os reis ilustrados buscavam apoio junto à aristocracia. Em troca do apoio, a nobreza fundiária exigiu algumas vantagens que acabaram por fortalecer os laços feudais e determinaram sua permanência por longo tempo. Na Rússia, por exemplo, algumas praticas feudais se prolongaram até o inicio do século XX.
O Absolutismo Ilustrado encontrou maior expansão na Prússia, na Rússia e na Áustria. Nesses três reinos, reis de grande força política usaram os privilégios econômicos garantidos pela centralização monárquica para realizar obras de vulto, fazendo com que esse tipo de governo ficasse associado a grandes realizações.
Na Prússia, Frederico II, que governou de 1740 a 1786, foi o responsável pela unificação nacional, pelo desenvolvimento econômico e pela criação de um grande exército que construiria uma das mais importantes escolas militares do mundo. Como era adepto das Luzes, defendeu a tolerância religiosa, estimulou o ensino e combateu o analfabetismo.
Na Rússia, o absolutismo ilustrado de maior destaque foi o de Catarina II, que governou de 1762 a 1796 e que foi esposa de Czar Pedro III. Catarina era alemã e teve uma educação francesa, o que, certamente, deve tê-la familiarizado com as idéias iluministas. A Czarina foi uma grande incentivadora das forças econômicas promovendo o incremento da agricultura e da indústria.
Na Áustria, foi Jose II, que ocupou o trono entre 1780 e 1790, o governante mais influenciado pelo Iluminismo. O rei ilustrado promoveu o desenvolvimento da indústria e foi um grande defensor do Colbertismo, forma de intervenção do Estado na economia com o objetivo de desenvolver o setor industrial. José II conseguiu submeter a igreja ao poder do Estado e estabeleceu o predomínio da razão sobre a crença religiosa.